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Anastácia Taylor

Seis meses depois... 

Acordo mais uma vez com o rosto molhado pelas lágrimas, como tem sido desde a explosão na mansão que tirou a vida de Nath. Os sonhos com ele me assombram todas as noites, relembrando os momentos lindos que vivemos juntos. 

Mesmo sabendo que nunca mais poderei tê-lo ao meu lado, a aliança em meu dedo é um símbolo do nosso amor que jamais deixará de existir. Cada vez que olho para ela, as lembranças inundam minha mente, reavivando a chama dos planos que fizemos para o futuro.

Após a explosão, que nos fez perder a mansão, nos refugiamos em Las Vegas, mas acabamos nos distanciando uns dos outros. Cada um seguiu seu próprio caminho na vida, deixando-me com uma existência monótona e sem sentido.

Ouço batidas persistentes na porta do meu quarto, mas opto por ignorá-las por completo. Tenho certeza de que é minha colega de quarto, uma jovem mimada e arrogante que se tornou insuportável desde que desenvolveu uma obsessão por Steve. Minha paciência com ela já se esgotou há tempos.

Neste apartamento parcialmente ajeitado, sinto-me presa em uma vida medíocre, cercada por paredes cinzas que refletem minha solidão. Compartilhar o espaço com uma estudante promíscua apenas amplifica a sensação de vazio que me consome. Cada cômodo deste lugar reflete a monotonia que se tornou minha existência desde a explosão que levou tudo que eu mais amava.

Enquanto deito em minha cama, o teto sem graça parece refletir a falta de brilho em minha vida. Uma pequena mancha preta no painel de LED irrita meus olhos, tornando-se um lembrete constante da escuridão que paira sobre mim.

Em contraste com a minha desolação, Megan e Donato estão mais unidos do que nunca. Apesar de nunca terem superado completamente a perda de Nath, estão se preparando para um casamento discreto. É reconfortante vê-los buscando a felicidade juntos e planejando construir uma família, mesmo que eu mesma esteja afundada na tristeza.

O Steve, está afundado em um caos autodestrutivo. Suas bebedeiras e acidentes de carro são sintomas visíveis da dor incontrolável que o consome. No entanto, mesmo em meio a sua própria tormenta, ele encontra forças para visitar-me diariamente. Sua presença pode ser um tanto possessiva, mas é o único elo que me restou com o passado que compartilhamos.

Jane, desapareceu em sua busca incansável por justiça. Convencida de que Logan, o responsável pela explosão, sobreviveu, ela se tornou uma peregrina incansável em sua perseguição implacável. Sua ausência deixa um vazio ainda maior em nossas vidas, mas compreendo sua necessidade de encontrar respostas. Vez ou outra, ela me envia uma mensagem, uma prova de que ela ainda está viva, sobrevivendo da melhor maneira que pode.

Somos agora uma família fragmentada, dilacerada pela dor avassaladora da perda de Nath. Não há nada capaz de nos unir novamente. 

Enquanto busco refúgio na música para abafar as persistentes batidas na porta, preparo-me para mais um dia tedioso no trabalho. Visto uma calça branca, uma camisa branca e um tênis branco, tudo será coberto pelo jaleco que me é obrigatório usar. Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo desleixado e opto por não usar maquiagem. Desde que perdi Nath, perdi também a vontade de me arrumar e de cuidar de mim mesma. A dor que carrego no peito tem sugado toda a energia que me resta.

A farmácia onde estou empregada é pequena, e o dono é um indivíduo desagradável e invasivo. Mesmo assim, permaneço ali, pois a dor que carrego em meu peito não me permite assumir maiores responsabilidades. A rotina monótona e as tarefas repetitivas parecem se misturar com a minha própria existência vazia.

A louca que insiste em bater na porta continua sua investida incessante, seu barulho irritante penetra meus ouvidos. Relutantemente, obrigo-me a abrir a porta, revelando minha irritação perante essa interrupção indesejada.

OS RISTRETTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora