⚫ 10 ⚫

911 146 42
                                    


Donato Moretti

Saí daquela garagem às pressas, o ar sufocante me envolvendo. Minhas mãos tremiam enquanto buscava desesperadamente pelo controle da porta do meu carro. A ansiedade dominava meu ser, misturada com a adrenalina que pulsava em minhas veias. Desabotoei a camisa e afrouxei a gravata, ansiando por um pouco de ar fresco. Cada batida do meu coração ecoava em meus ouvidos.

— Megan é a ruiva! — rosnei dentro do carro, socando o volante com força. — Jamais passou pela minha cabeça. Jamais imaginei. — Falei comigo mesmo, num murmúrio.

Ela, aquela mulher. 

Eu me aproximei, pronto para seduzi-la e levá-la comigo, mas quando ouvi sua voz, todos os pelos do meu corpo se arrepiaram. Percebi que uma noite com ela seria viciante, então fugi e nunca mais a vi novamente.

Até hoje, naquela garagem.

Enquanto dirigia, as gotas de suor escorriam pela minha testa, manchando o estofamento de couro do assento. O gosto amargo do medo preenchia minha boca, e minha garganta estava tão seca quanto um deserto. Minha mente lutava entre os sintomas da minha doença avançada e a tensão do encontro iminente.

Finalmente, cheguei à cafeteria onde combinei de encontrar Nathaniel. 

Ao entrar, fui envolvido por uma atmosfera aconchegante e agradável. O aroma do café fresco mesclava-se com o som suave das conversas ao fundo. Procurei meu primo e o avistei em uma mesa distante, próxima a uma janela. 

Caminhei até lá, sentindo cada passo pesar mais do que o normal.

— Don, está tudo bem? Você está pálido, aconteceu alguma coisa? — Meu primo falou agitado, seu rosto transbordando preocupação com minha saúde.

Decidi não revelar a verdade por enquanto, desviando o assunto para o motivo do nosso encontro.

— Nath, aquela garota é um verdadeiro problema. — solto sem pensar, acabando com meus planos de guardar segredo. — Ela fez de tudo para chamar minha atenção e, quando finalmente conseguiu, me humilhou sem piedade. — Lamento como um bebê chorão, sentindo-me envergonhado pela minha atitude. 

Meu primo para e me encara como se estivesse assistindo a uma cena cômica. Ele olha para as mãos e sorri de canto, um sorriso debochado, mas ao mesmo tempo orgulhoso.

— Ela é bonita? — questiona Nathaniel.

Eu o encaro incrédulo. A verdade é que ela é um verdadeiro pedaço de mau caminho.

— Nem reparei. — minto descaradamente.

Vejo Nathaniel soltar uma risadinha sacana, como se tivesse me pego na mentira. Ele faz um sinal de positivo com a cabeça, como se estivesse concordando comigo de forma codificada.

— Ah, sério! Donato? — ele indaga, meio indignado, mas achando graça. 

Eu reviro os olhos, sem jeito.

— Mal reconheço você! — comenta Nathaniel, realmente achando a situação engraçada.

— Nathaniel, por favor... Pegue leve. — peço, sentindo-me humilhado.

— E ela pelo menos te devolveu seu dinheiro? É por isso que está assim? — Nath fala com um sorriso zombeteiro estampado no rosto, debochando abertamente do meu estado.

Respiro fundo, sentindo a necessidade de me acalmar antes de explicar em detalhes tudo o que ocorreu naquela garagem. Controlo minha respiração acelerada e busco a serenidade em meio ao turbilhão de emoções.

OS RISTRETTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora