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                                                                          *** Um ano depois ***


Megan Willians

Abro os olhos lentamente, mas o brilho forte da luz invade minha visão, aumentando a dor latejante na minha cabeça. Sinto como se todo o meu corpo estivesse mergulhado em um mar de ressaca, com ondas de enjoo, mal-estar e uma sede insaciável. Mais uma noite agitada, mais uma noite em que busquei refúgio nas casas noturnas, afogando-me em álcool para tentar escapar do vazio que me consome. Agora, desperto abraçada à camisa de Donato, minha única conexão tangível com ele.

Meses se passaram desde que Donato desapareceu sem deixar rastros, mas a dor da sua ausência ainda me sufoca a cada dia. Alguns dias são particularmente difíceis, quando a depressão se instala e me deixa prostrada na cama, incapaz de encontrar ânimo para me levantar. No entanto, tenho me dedicado inteiramente ao trabalho, encontrando nessa rotina uma distração necessária. Apesar de tudo o que aconteceu, ainda moramos todos juntos na mansão.

Uma das razões é que Steve, em sua compreensão sobre minha dor, permitiu que eu ocupasse o quarto e o escritório de Donato. Isso me mantém mais próxima dele, como se o lugar nunca tivesse perdido seu aroma característico, uma mistura amadeirada com traços de uísque e flores de primavera.

Antes que eu possa me recompor completamente, a voz de Steve soa no quarto, cheia de alegria, como se a vida fosse um eterno jogo para ele.

— Bom dia, ruiva! — ele saúda, adentrando meu quarto e abrindo as cortinas de forma brusca.

Sinto uma onda de irritação percorrer meu corpo, transformando meu humor.

— Não entra no meu quarto! — repreendo, lançando um travesseiro com toda a raiva contida em meu peito, desejando que ele desapareça.

Mas sua expressão se transforma abruptamente, assumindo um ar de seriedade que me intriga. Ele se aproxima da cama, despertando minha curiosidade como uma chama que não pode ser ignorada.

— Precisamos conversar! — sua voz soa grave, enviando arrepios pelo meu corpo e revirando meu estômago em um nó apertado.

Uma mistura de vergonha e irritação se mistura dentro de mim, ciente de que Steve foi informado dos meus excessos da noite anterior. Eu reconheço meus erros, como me deixar levar pela impulsividade e dançar sobre a mesa do bar, causando problemas e atraindo olhares indiscretos.

No entanto, a seriedade estampada em seus olhos revela que há algo mais importante em jogo, algo além das minhas escapadas desastradas. Com uma pontada de defensiva, tento me justificar.

— Eu sei que errei, Steve! Eu não devia ter subido naquela maldita mesa do bar — admito com uma mistura de vergonha e remorso, desviando o olhar para o chão.

Ele respira fundo, buscando manter a calma enquanto me encara com certa mágoa.

— Não pode continuar assim, Meg! Meu irmão ficaria arrasado se soubesse que estou permitindo que você destrua seu corpo dessa maneira — explica, sua voz carregada de preocupação.

Uma pontada de culpa se instala em meu peito. Eu sei que Donato não gostaria de me ver nesse estado autodestrutivo. Mas, em meio à minha irritação, respondo com um pouco de provocação:

— Fala de mim, mas você sai de carro para procurá-lo a madrugada toda. A quanto tempo não dorme? — lanço a pergunta, tentando diminuir o impacto das suas palavras.

Steve suspira, frustrado com a minha atitude defensiva. Seus olhos expressam sua própria angústia pela ausência de Donato.

— Eu sinto falta dele também, mas precisamos parar com isso! O que estamos fazendo é auto sabotagem. Tanto você quanto eu, estamos nos afundando cada vez mais. Você está parecendo uma viciada, magra, descabelada e com hálito de álcool todos os dias. Você sequer tem lavado o rosto? — ele desabafa, devolvendo minha provocação com um tom exasperado.

OS RISTRETTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora