OS RISTRETTOS

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Donato Moretti

Já faz uma eternidade desde que estou preso neste maldito hospital, cercado por essas paredes brancas que parecem querer me sufocar a cada respiração. A monotonia desse lugar é sufocante, mas, de alguma forma estranha, quando Megan aparece, sinto um alívio momentâneo. Ela tem sido minha âncora, a única coisa que me traz tranquilidade nesse caos desconfortável.

Nos últimos dias, Megan tem estado ao meu lado o tempo todo, vindo me visitar sem parar. Ela é incrível, uma mulher única que mexeu com meu coração de um jeito indescritível.

Durante essas visitas, conheci as amigas de Megan, que também passaram por aqui para me ver. Elas contaram histórias engraçadas, deram sorrisos calorosos e até se desculparam por terem tentado acabar com os Ristrettos. Fiquei impressionado com a empatia delas e como se preocupam com a felicidade da minha amada Megan. Essas garotas têm um lugar especial no meu coração, mesmo que nosso tempo juntos tenha sido curto.

Todos os dias, meu irmão me atualiza sobre o que está acontecendo com a nossa gangue. Ele está empolgado pra caramba, soltando detalhes sobre um plano arriscado que estão tramando para dar o troco na Tríade. Parece que eles estão planejando uma missão perigosa na China, mas vão esperar eu me recuperar. Fico honrado e grato por fazer parte desse grupo de gente corajosa e determinada, disposta a encarar o perigo para proteger o que amamos.

Enquanto fico jogado nessa cama desconfortável, vejo Megan sentada na ponta, devorando minha gelatina com uma expressão tranquila. Seus olhos brilham com carinho e compaixão, e eu fico admirando essa mulher incrível. É como se, só de estar perto dela, eu encontrasse um pouco de paz nesse mar de caos que tem sido minha vida ultimamente. Por um instante, esqueço da dor e da chatice desse hospital, porque só a presença dela já preenche todo o meu mundo.

Mas aí a Doutora Margarete Paes entra no quarto e acaba com meu devaneio, interrompendo minha nova obsessão: ficar olhando para Megan por horas a fio.

Seu semblante transparece uma expressão séria, denotando um misto de preocupação e expectativa à medida que se aproxima de mim. Meu coração acelera, meu corpo tenso se prepara para ouvir suas palavras.

— Bom dia, Senhor Moretti. Que alívio constatar que está desperto e com uma aparência mais favorável. Tenho excelentes notícias para compartilhar. Seus exames revelam uma melhora impressionante, e estou aqui para conceder-lhe alta hospitalar. A Hemoglobinúria Paroxística Noturna (HPN) já não mais assombra seu organismo, uma vez que o procedimento de transplante de medula óssea foi bem-sucedido. Ademais, em relação ao diagnóstico anteriormente equivocado, constata-se que o médico antecedente demonstrou negligência evidente em seu tratamento, o que apenas agravou sua condição. — A médica exclama, exibindo uma mistura de apreensão e alívio ao colocar um adendo em seus registros clínicos.

Sinto um turbilhão de emoções transbordar em meu interior. Alegria, alívio, indignação. Uma nova chama de esperança irrompe em minha alma, entrelaçada com a ira decorrente do sofrimento infligido pelas mãos de um médico que aparentemente nutria desígnios malévolos em relação à minha existência. Recordo-me que Alexia me indicou tal médico, alegando que ele fazia parte de sua família e que seu pai o consultava. Contudo, agora percebo que seu afeto por mim estava vinculado ao conhecimento de que isso me traria danos.

— Agradeço pelas informações. Irei averiguar o ocorrido. — Respondo reflexivamente, sentindo minha mente mergulhar em um turbilhão de pensamentos, enquanto alcanço meu celular e disco o número de meu irmão. 

Deslizo o dedo pela tela, porém a chamada não é atendida e é direcionada diretamente para a caixa postal. Suspiro, experimentando uma pontada de frustração.