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Donato Moretti

Eu desperto com o barulho ensurdecedor do meu despertador, que ecoa pelo quarto e invade meus ouvidos sensíveis. A suave luz do amanhecer começa a entrar pelas frestas da cortina, criando uma atmosfera tranquila que contrasta com a agitação que sinto dentro de mim.

Ainda atordoado e desorientado, permaneço imóvel por alguns minutos, lutando contra a tontura que me assombra todas as manhãs. Essa sensação de vertigem, um dos sintomas mais incômodos da minha doença, faz-me sentir como se tivesse sido atropelado por um caminhão desgovernado.

Permaneço debaixo dos lençóis, meu corpo implorando por mais alguns momentos de repouso. Respiro profundamente, tentando acalmar a mente e encontrar a motivação necessária para encarar mais um dia. Gradualmente, a tontura diminui, e com muito esforço mental, libero-me dos lençóis, sentindo a frieza do chão sob meus pés descalços.

Dirijo-me ao banheiro e realizo minhas higienes matinais com cautela e meticulosidade. Cada movimento é lento e cuidadoso, pois qualquer brusquidão pode desencadear uma onda de tontura avassaladora. Observo meu reflexo no espelho, meus olhos cansados e meu rosto pálido.

Depois de me arrumar, chego à cozinha, onde minha rotina de cuidados com a saúde começa com o café da manhã. Meu médico, após o diagnóstico, prescreveu uma dieta rigorosamente balanceada, projetada para ajudar no combate à minha doença. No entanto, devo confessar que não sigo as orientações à risca.

Enquanto mastigo os alimentos de textura suave e sabor quase insípido, percebo que a comida em si não me traz grande satisfação. Terminado o café, caminho até o bar, onde encontro meu verdadeiro prazer.

Um ritual secreto, meu whisky matinal, que se tornou um refúgio reconfortante em meio às limitações impostas pela doença.

— Não deveria beber isso no café da manhã. — Samantha me contradiz.

Levanto e deposito um beijo em sua testa, ela ri e finge puxar minha orelha.

— Sua mãe deve estar dando giros no caixão ao ver o que você se tornou. — Samantha me repreende.

— Um gostosão bilionário e bom de cama? — Provoco a senhorinha que me criou.

Ela se aproxima e coloca um potinho na mesa, com uma série de pílulas coloridas e cápsulas, aguardando por mim. São inúmeros medicamentos, cada um com sua finalidade específica e sua própria lista de efeitos colaterais. Engoli-los se tornou parte integrante da minha rotina diária. A cada comprimido que desce pela garganta, sou lembrado da minha fragilidade, da dependência constante dessas pequenas cápsulas para manter meu corpo funcionando.

— Vai sair hoje? — questiona Samantha, levantando uma sobrancelha curiosa.

Eu a encaro, um misto de surpresa e preocupação.

— Por que pergunta? Aconteceu alguma coisa? — respondo, buscando entender a situação.

— O senhor Nathaniel aprontou de novo. — Samantha revela com um suspiro.

Meu coração dispara e uma mistura de medo e irritação toma conta de mim.

— O que ele fez dessa vez? — pergunto, minha voz refletindo a inquietação que sinto.

— Uma garota saiu gritando e acabou quebrando um vaso da sua mãe. — Samantha comenta, balançando a cabeça.

Respiro fundo, tentando manter a calma, enquanto penso em como lidar com mais uma confusão causada por meu primo.

— Terei uma conversa séria com ele. Deixe comigo, Samantha. Vou garantir que ele entenda as consequências de suas ações. — digo, buscando tranquilizar a senhorinha.

OS RISTRETTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora