OS RISTRETTOS

⚫ 03 ⚫

Algumas semanas se passaram...

Megan Willians 

Sou despertada pelo som insistente do meu despertador. Abro meus olhos com um leve desânimo. Não há nada que eu deseje menos do que ir trabalhar. Desde o ocorrido, desde o caso Sofia, sinto-me como uma fraude. 

Adeus à minha indicação para a CIA, adeus aos meus planos de carreira. Não sei se o Diretor Burns confiará em nós novamente, considerando suas atitudes durante a semana, negando-nos casos que ele considera importantes.

Com cuidado, ergo-me da cama, tentando evitar qualquer tontura que ainda possa persistir, e me encaminho para o banheiro. Realizo minha rotina de higiene matinal com precisão, permitindo que a água quente do chuveiro alivie as tensões do meu corpo. Trato meus cabelos ruivos com o carinho que merecem, ciente de que o dia será repleto de desafios.

Deslizo para dentro do meu uniforme de trabalho com destreza e dirijo-me à cozinha, pronta para preparar o café da manhã. Anseio por inundar a casa com o aroma delicioso do café, na esperança de despertar minhas amigas que ainda estão lidando com as consequências da noite anterior. 

Coloco água na cafeteira, insiro o filtro e adiciono seis colheres generosas de café. Ao ligar a máquina, permito que o líquido negro e revigorante seja preparado para cumprir sua missão de nos acordar.

Observo atentamente Anastácia adentrar a cozinha, já vestida com seu uniforme, e encaminhar-se decidida para a cafeteira, pronta para servir uma xícara de café.

— Bom dia para você também, Barbie! — cumprimento, notando sua expressão fechada ao me encarar.

O mau humor matinal, que antes era adorável, agora parece um reflexo das adversidades que temos enfrentado. Nossa vida tem sido tomada por uma série de desafios e erros, e é evidente que cada falha aumenta o peso emocional que Anastácia carrega. Infelizmente, devo reconhecer minha responsabilidade por ter iniciado essa cadeia de eventos infelizes.

— Esse apelido vai pegar? — Anastácia pergunta, lançando uma pitada de ironia em suas palavras.

Sorrio, me aproximo dela e planto um beijo carinhoso em sua testa, buscando suavizar o clima.

— Se depender de mim, vai pegar sim! — Jane afirma, saboreando um dos croissants que deixei sobre a mesa.

No entanto, percebo o semblante abatido de Anastácia, e um sentimento de preocupação se instala em meu peito. Suspeito que sua expressão vá além do mau humor matinal.

— Está tudo bem, amiga? — pergunto, nossos olhares se encontrando. 

Seus olhos estão marejados e carregados de preocupação.

— Não consigo falar com minha irmã há semanas — responde Anastácia com a voz embargada, revelando a angústia que a consome. — Nunca fiquei tanto tempo sem notícias da Amélia. — Ela solta um longo suspiro, denotando o peso que carrega em seu coração.

— Certo... Já chega. — exaspero, sentindo uma onda de frustração. — Vamos dar um jeito nisso. — declaro com convicção, determinada a encontrar uma solução.

Jane me encara, surpresa com minha explosão. 

Mas a verdade é que tenho passado noites insones desde o momento em que desvendei os arquivos para Amélia, desde que me deparei com o misterioso "Tal Moretti" naquela balada. Minha mente se transformou em um turbilhão caótico, e tenho cometido uma série de erros terríveis. 

Parece que tudo está desmoronando diante dos meus olhos, nada acontece como planejado. Jane, por sua vez, está um verdadeiro caos, sua pele cada vez mais pálida desde que Sofia, a garotinha inocente, foi sepultada, desde que ela decidiu fazer justiça por conta própria. Sinto calafrios apenas ao pensar nas consequências.