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Anastácia Taylor

Abro os olhos lentamente, sentindo uma dor aguda no peito que parece apertar meu peito como uma garra. O ambiente ao meu redor começa a se materializar, revelando um quarto opressivo, com paredes brancas e luzes brilhantes que parecem intensificar minha sensação de desorientação. A agulha presa em meu braço transmite uma linha fina de dor, entregando a administração de algum medicamento vital. 

Fragmentos perturbadores invadem minha mente, flashbacks de Adam me atacando, de seus golpes contra meu corpo e do tiro que me atingiu. A lembrança recente de sua visita também ressurge, e eu torço silenciosamente para que tenha sido apenas um terrível pesadelo.

No canto sombreado do quarto, minha atenção é capturada por uma figura feminina. Seus cabelos castanhos caem em ondas sedosas sobre seus ombros, e seus olhos escuros irradiam uma expressão intensa de familiaridade inexplicável, como se já nos conhecêssemos em um momento anterior. 

Vestida com um uniforme branco impecável, ela está sentada em uma cadeira estofada, segurando um livro em suas mãos delicadas. Meus olhos se fixam nele, e meu coração salta de surpresa ao reconhecer o "Crepúsculo", uma história que sempre me acompanhou em momentos de conforto e escapismo.

— Morrer no lugar de quem amo parece ser uma boa maneira de partir. — Minha voz ecoa, citando uma das passagens mais marcantes do livro, enquanto minha mente procura por qualquer traço de conexão com essa enigmática mulher à minha frente.

Ela levanta o olhar em minha direção, seus olhos refletindo uma mistura de surpresa e compreensão. Um sorriso suave se desenha em seus lábios, iluminando seu rosto angelical, enquanto fecha o livro com um toque suave, como se estivesse guardando um segredo compartilhado. É como se ela conseguisse desvendar a essência profunda das palavras e compreender o significado oculto por trás das referências literárias.

— As lembranças são melhores do que qualquer realidade que eu veria hoje. — Sua voz suave entoa, ecoando um trecho profundo da história que também ecoa dentro de mim.

Seu sorriso se intensifica, transmitindo uma sensação de conexão especial que vai além das palavras impressas nas páginas. Seus olhos parecem espelhar os sentimentos que habitam em mim, como se estivéssemos unidos por uma compreensão mútua do que significa vivenciar essas palavras.

— Sinto muito pelo que fizeram com você. — Ela fala com empatia, sua voz fluindo como um bálsamo suave que acalma minha alma atribulada.

Um suspiro de alívio escapa dos meus lábios, e agradeço com um aceno de cabeça, ainda me sentindo fraca e confusa. No entanto, sua presença ao meu lado emana uma aura tranquilizadora, enquanto ela permanece ao meu lado, demonstrando uma preocupação genuína e pacientemente aguardando minha recuperação.

— Eu era a enfermeira que cuidava de Donato Moretti. Não sei se você se lembra, mas todas as noites, quando eu ia visitá-lo, você me trazia um pedaço de torta e café, e dizia que eu me parecia com sua irmã. — ela explica, com a voz embargada.

Meus olhos se arregalam ao ouvir suas palavras, a memória ganhando forma em minha mente. Ellen, a enfermeira dedicada que cuidava de Donato. Ela mudou muito desde a última vez que a vi, agora com os cabelos tingidos em um tom escuro.

— Oh meu Deus, Ellen, é você? Está muito diferente, pintou o cabelo? — pergunto, lembrando-me de quando a conheci com os cabelos loiros.

Ela sorri com ternura, confirmando minha suspeita.

— Sim! — responde, enquanto um brilho de reconhecimento ilumina nossos olhares.

Um suspiro aliviado escapa dos meus lábios ao finalmente reconhecer a figura familiar à minha frente. Mas logo sinto a urgência de compartilhar minha situação com ela, de contar sobre minha ânsia em retornar para casa e rever minha família.

OS RISTRETTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora