OS RISTRETTOS

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Jane Petter

Acordo-me com o Steve voltando para casa, e imediatamente percebo que ele saiu de madrugada. Deve ter ido encontrar alguém, e essa constatação desperta uma mistura de sentimentos em mim. Claro que um homem como ele sucumbiria aos desejos da carne, é natural dos homens fazerem isso. 

Por isso, quando descobri a traição de Logan, não fiquei surpresa. Mas, nos últimos acontecimentos, cheguei a cogitar a possibilidade de Steve estar atraído por mim, que tolice da minha parte. 

Óbvio, que como tudo em minha vida, era apenas algo que minha imaginação criou, e agora preciso lidar sozinha com as consequências dessa brincadeira de mau gosto.

O pior de tudo é que meu irmão me mandou mensagem durante toda a madrugada, insistindo para eu mudar para o Japão. As mensagens dele são persistentes, e isso só aumenta minha sensação de estar cercada por problemas. 

Além disso, recebi diversas ligações de Anastácia e Megan, o que indica que devo muitas explicações a todos. Sinto-me pressionada e sobrecarregada pela quantidade de questões que precisam ser resolvidas.

No entanto, o que mais me irritou foi o fato de Steve ter saído para se encontrar com alguém sem me contar. Questiono-me por que ele escolheu manter isso em segredo. 

Será que ele está tentando me iludir? 

A confusão e a decepção tomam conta de mim, e tento compreender a razão por trás desses sentimentos que não fazem sentido para mim.

Após alguns minutos deitada, percebo que não consigo dormir. Decido ir até a cozinha preparar o café da manhã, já que tenho trabalho para fazer em breve em nome dos Ristrettos. 

Na esperança de distrair minha mente dos pensamentos sobre Steve, ligo a televisão na cozinha enquanto arrumo a cafeteira. 

Porém, assim que vejo um rosto conhecido no noticiário, minha atenção é imediatamente capturada. Instintivamente, aumento o volume para entender do que se trata.

 — Pastor comete suicídio após gravar vídeo pedindo o perdão de suas vítimas. As investigações estão em andamento, mas a esposa prestou depoimento, informando que ele abusou de várias crianças que recebiam abrigo temporário em sua casa.

O impacto dessa notícia é avassalador. 

Minhas pernas começam a tremer, e sinto o pavor se espalhando por todo o meu corpo. Estou em choque ao descobrir a verdade sobre esse homem, e a aflição que sinto é tanta que acabo derrubando e quebrando uma xícara. 

Os cacos se espalham pelo chão, e, ao me abaixar para recolhê-los, um deles perfura minha perna. Uma onda de dor percorre meu corpo, mas, surpreendentemente, não consigo me mexer. 

Um misto de alívio e exaustão toma conta de mim ao saber que aquele homem se arrependeu do que fez, mas estou cansada demais para reagir. 

Fico ali, observando aos poucos o chão se alagar com o meu próprio sangue, em meio a uma sensação de desamparo e desesperança.

— Jane? — Uma voz suave e preocupada me chama. 

Encaro Steve, que surge ao meu lado e me toma em seus braços com urgência. Sua presença traz um lampejo de esperança em meio ao caos, enquanto ele me carrega porta afora do apartamento, em busca de ajuda.

Ele está pálido, e sua expressão revela uma profunda preocupação. As olheiras enormes debaixo de seus olhos denotam a falta de sono, evidenciando o quão abalado ele está. Rapidamente, percebo que ele tirou sua camisa e a amarrou firmemente em volta da minha perna, provavelmente para conter o sangramento do corte profundo. 

Sua respiração está acelerada, e suas mãos tremem ligeiramente enquanto me segura.

Em meio a minha fragilidade, sinto leves recaídas, oscilando entre momentos de consciência e breves apagões. O mundo ao meu redor parece girar devagar, e a tontura me domina. A cada vez que desperto, percebo que Steve continua ao meu lado, cuidando de mim com todo o zelo possível.

Finalmente, chegamos ao hospital após alguns minutos angustiantes. 

Steve estaciona o carro às pressas, e mais uma vez, ele me carrega em seu colo, como se eu fosse frágil demais para andar sozinha. As enfermeiras correm ao nosso encontro, prontas para prestar assistência. 

Elas me colocam com cuidado em uma maca, enquanto tento desesperadamente ouvir o que dizem.

— Sou Steve Moretti, tenho o mesmo tipo sanguíneo que ela — Steve se apresenta, sua voz carregada de tensão. 

Observo que ele está sem camisa, coberto pelo meu próprio sangue, o que me causa um misto de preocupação e gratidão por sua dedicação.

— Ela é sua irmã, senhor Moretti? — Uma enfermeira atenciosa pergunta, enquanto me avalia com cuidado.

— Ela é minha namorada! — Steve responde com uma certa rispidez, afirmando de forma contundente o nosso suposto relacionamento. 

Um sorriso discreto surge em meus lábios ao ouvir suas palavras, mesmo sabendo que essa história é uma farsa. Steve está determinado a manter essa mentira, mas ele está enganado se acredita que vou colaborar com isso.

— Fique tranquilo, cuidaremos bem dela — a enfermeira tranquiliza Steve com uma voz suave, demonstrando compaixão em suas palavras.

A enfermeira delicadamente me conduz para uma sala bem iluminada, onde todas as paredes são revestidas de um branco imaculado. A atmosfera é asséptica e reconfortante ao mesmo tempo. 

Ali, uma equipe de médicos e enfermeiros está posicionada, usando roupas especiais que transmitem um senso de profissionalismo e prontidão. Equipamentos cirúrgicos estão dispostos meticulosamente ao redor da sala, prontos para serem utilizados caso necessário.

Uma enfermeira com cabelos loiros e olhos verdes, lembrando-me vagamente de Anastácia, aproxima-se de mim com uma expressão gentil.

— Senhorita, o corte que você sofreu foi realmente profundo. Suspeitamos que tenha afetado algum ligamento. Necessitaremos ministrar a anestesia para prosseguir com os procedimentos — ela explica, transmitindo confiança em suas palavras.

Outra enfermeira, demonstrando compreensão pela situação, se pronuncia, abrindo espaço para Steve entrar na sala. Percebo que ele está vestindo uma roupa branca, do tipo usado em ambientes cirúrgicos. É evidente que ele obteve permissão especial para permanecer ao meu lado durante o procedimento.

— Seu namorado solicitou que ele ficasse com você, considerando sua importância como patrocinador de nosso hospital. Fizemos uma exceção para atender a esse pedido. — ela explica, revelando a influência de Steve.

Ao se aproximar de mim, Steve emite um suspiro preocupado e acaricia suavemente meu rosto com as mãos. Seus gestos são gentis e reconfortantes, transmitindo uma sensação de segurança em meio à incerteza. Seus olhos azuis intensos expressam uma mistura de amor e temor, enquanto segura minha mão com firmeza.

— Descanse, meu amor... Vou permanecer ao seu lado enquanto você adormece e cuidar de você. — ele murmura, suas palavras ecoando em meus ouvidos enquanto meu corpo se entrega à sonolência. 

Gradualmente, meus olhos se fecham lentamente, e uma sensação de tranquilidade toma conta de mim. Estou prestes a adentrar um mundo onírico, onde o real e o imaginário se entrelaçam, guiada pelo toque reconfortante e a promessa de cuidado de Steve.

 Continua...