Kristhen Furquim
Sou guiada pelo restaurante em direção a uma mesa. Não nego como estou nervosa, sinto que vim arrumada demais. Ou talvez não, acho que estou dentro do padrão de alguém rico.
O garçom se vira e mostra a mesa. Nela tem uma linda mulher em um vestido vermelho, com seus cabelos amarrados em um coque bem feito. Ao seu lado tem uma garotinha de cabelos castanhos, com um penteando fofo para combinar com seu vestido vinho.
Do outro lado da mulher tem um homem com apenas um bigode bem feito, ele me encara sério, como se quisesse realmente tentando me conhecer. E do outro está o Matéo, ele por um tempo olhou para mim, até desviar seu olhar para a taça de vinho em sua frente.
Após o garçom sair, eu fiquei sem fazer com tantos olhares em mim. Pessoas que eu não imaginava conhecer tão cedo. A mulher se levanta, ela é alta, de salto fica mais alta que eu. Detalhe, eu também estou de salto.
Ela se aproxima de mim, encarando meu rosto mais de perto. Isso me deixou um pouco constrangida porque foi assim por muito tempo.
Então, logo seus braços rodearam meu pescoço, e um abraço apertado quase fez eu ficar sem ar. Mas eu devolvi, não tão forte assim.
A mulher se afasta, piscando várias vezes para não chorar.
- Não chore querida, vai manchar sua maquiagem. - a voz do homem chega em meus ouvidos, mas ele não parece com a mesma emoção que minha mãe
- Estou tentando - ela sorri, passando seus dedos com delicadeza abaixo dos olhos - Eu me chamo Alexia e eu sou... sua mãe... - a mulher coloca a mão no rosto e começa a chorar desesperada
Não sei como reagir ao seu choro, mas a família parece bem calma, como se já soubesse o que ia acontecer.
- Mãe, se você vai chorar tanto, então por que decidiu escolher logo um restaurante? Seria melhor ficar em casa. - Matéo diz sem ao menos olhá-la, apenas pega seu celular
- Não conseguem entender uma mãe emocionada? Não vejo a minha filha há vinte e dois anos! Eu só consegui ficar com ela por três anos após nascer... E agora, uma grande mulher na minha frente, com o meu sangue, sendo a minha filha... - ela se acaba no choro, chamando atenção de quem está perto
Eu ainda não sei como reagir a isso. Nunca... tive algo parecido. O homem sentado na cadeira se levanta, fazendo eu erguer meu olhar pelo seu tamanho.
- Vamos sentar querida... - ele toca nos braços da sua esposa e a leva de volta para cadeira
Puxo a minha e me sento, tentando não transparecer como estou sem jeito com isso tudo. Todos esperamos Alexia parar de chorar, ela chega soluçava. Mas eu entendo a mãe que perdeu sua filha pequena e hoje a reencontra com quase trinta anos.
Talvez ela nem tinha mais esperança de se reencontrar com sua primeira filha. É muita emoção, mas eu apenas me sinto confusa e estranha.
Não esperava ser essa minha reação.
- Pedimos desculpas pelo constrangimento - Mael diz com uma voz suave - Realmente estamos muito comovidos em te ver novamente, Kristhen... Queremos mostrar nossas emoções, mas Alexia decidiu escolher um lugar público para isso.
- Ah, não... tudo bem, eu entendo.
- Te procuramos... por tanto... tempo. - ela soluça, em prantos
- Tudo bem baby, eu falo. - ele acaricia o braço da esposa, e volta a me encarar com seus olhos pretos - Foi muitos anos procurando por você. Dávamos quantia altíssimas para te ter de volta, mas nunca conseguimos achar nenhuma pista. Os anos se passaram e a maioria nem tinha mais esperança, apenas eu e sua mãe. Começou tudo a dar errado na nossa empresa, mas não desistimos de te achar, porém, até eu também desistir. Já tinham se passado vinte anos, era praticamente impossível você estar viva, mas a sua mãe não desistiu, continuou lutando para achar a filha de volta. Dentro da Alexia, ela sentia que você ainda estava viva
Isso é comovente, sabendo que Alexia, minha mãe, foi a única desde o início que não desistiu. Mas, eu ainda não sei como reagir a essa situação. É minha própria família diante de mim, e eu estou simplesmente sem nenhuma reação.
- Pode ser um pouco estranho para você, ou até confuso. - Mael coloca suas mãos na frente, em cima da mesa - Mas vamos conversar com calma, assim você poderá se abrir mais com a gente, é só questão de tempo, tudo bem? - ele me entrega o sorriso mais gentil que já vi
- Claro... tudo bem. - tento devolver o sorriso, o melhor que consigo
***
Pierre Vinceti
Eu a observo de longe, sentada em uma mesa próxima a grande parede de vidro. Consigo ver que está um pouco desconfortável, mas entendo seu lado, é sua primeira vez com a família, talvez seja um pouco estranho.
Kristhen parece conversar pouco, como se tivesse tentando se encontrar com eles. Mas não vai demorar até estar rindo com sua família, é apenas agora que isso acontece.
Suspiro e decido me encostar na parte de trás do carro. Encosto de lado, tentando observar tudo que eles fazem.
Espero que ela também não fique brava com os Vinceti... Tenho certeza que sua família uma hora ou outra vai dizer sobre a nossa rivalidade.
Mas espero que isso aconteça quando já estivermos namorando. Não vejo a hora de poder acordar todo dia ao seu lado...
Chega impossível não sorrir com algo bobo desse. Eu imagino um futuro tão brilhante comigo e com a Kristhen.
- Pierre...
Um arrepio horrível sobe pela espinha da minha costa. O meu nome ecoando da sua voz fez meu coração acelerar, mas mantive a postura, porém, me desencosto do carro.
Não ouso olhar para trás, é como se... a morte estivesse atrás de mim, me chamando.
- Por que está com esse sorrisinho? No que está pensando? Na Kristhen?
Viro levemente minha cabeça para onde a voz vem. De um beco escuro, onde você não consegue enxergar um palmo na sua frente.
- Você é tão patético... Por que está sorrindo pensando em alguém que é meu?
- Seu? - dou um sorriso torto, imaginando que ele já pode ver
- Ah, não acha que eu sou um egoísta - ele aparece um pouco, o suficiente para ver a metade do seu rosto - Eu odeio compartilhar. Temos um trato, não temos? A Kristhen, pela sua família.
- Temos um trato.
Continua...
NOTAS DA AUTORA
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Kristhen
RomanceSendo tímido e sozinho, Reed Walsh não consegue se aproximar de ninguém, ou fazer amizade. Filho de um empresário mais rico dos Estados Unidos, ele tem tudo que quer, e na hora que quer. Porém, sua timidez o impede de fazer muita coisa. Quando seu...