Kristhen Zillord
A campainha toca. Cheguei em casa mais cedo, mamãe ainda está no trabalho, mas ela disse que o papai poderia chegar antes.
Desço as escadas e vou até a porta. Após abrir, encaro um homem alto, com pele muito pálida, consigo até ver suas veias, elas se destacam muito em sua pele. Os seus olhos estão na cor vermelha, parece sangue.
Seguro o seu corpo quando ele cai para dentro. Fecho a porta com dificuldade e viro meu pai para me olhar.
- Pai... Pai... o que aconteceu? - toco em seu rosto, ele está tão gelado...
Ele começa a cuspir, sangue sai de sua boca, e o desespero bate na mesma hora.
- Pai! O que aconteceu? - já não consigo mais segurar meu choro
- Faça... isso...
Ele ergue uma arma na minha direção, não sei o que ele quis dizer.
- O quê? Não estou entendendo pai.
- Tira... essa... dor de... mim, Kristhen. - com dificuldade ele segura a minha mão e faz segurar a arma - Eu... te imploro.
- Não! Eu não vou te matar - simplesmente deixo a arma cair - Vou ligar para uma ambulância.
Tento levantar, mas a sua mão agarra meu pulso. Aqueles olhos pretos me observam com súplica, pedindo para que eu tire sua própria vida.
Sangue escorre dos seus olhos, como se fossem lágrimas.
Apenas nego com a cabeça várias e várias vezes, mas ele continua me olhando, com o mesmo olhar de dor, de súplica. Ele custa abrir sua boca para implorar.
- Faça... isso... querida.
Pego a arma, ele engasga novamente com o sangue. Ela já está ativada, mas não consigo nem mirar nele. Deito com minha cabeça em seu corpo, chorando por ver meu pai morrendo aos poucos.
Sinto sua respiração fraca, o batimento do seu coração está tão lento, que consigo prever que não irá durar muito. Sua mão toca em minha cabeça, apenas escuto com dificuldade, ele cantar a música que fazia quando eu era pequena.
Sua voz falha, então ele faz apenas um barulho com a boca na intensão de continuar com a música. Seguro o seu rosto, está tão gelado, e aqueles olhos ficam sem vida, a melodia para, e meu pai morre em meus braços.
Sento na cama respirando ofegante, como estava naquele dia. O sol lá fora clareia o quarto. Desde aquele dia, eu carrego a culpa por não ter conseguido o salvar.
Sei que era impossível, ele morreu envenenado, não teria uma salvação. Mas a culpa me atormenta por algum motivo. Nunca descobri quem fez aquilo, e em seu túmulo, prometi continuar o trabalho que ele tanto amou.
Naquele dia, eu liguei para o médico da minha família, pedi a ele para não contar a minha mãe que meu pai morreu com envenenamento. O médico inventou uma desculpa, e minha mãe nunca descobriu o real motivo dele ter morrido.
Não queria que minha mãe soubesse que ele morreu em minha frente. E que sua última súplica, era que eu tirasse sua própria vida.
Ninguém nunca soube que meu pai morreu envenenado, e o Reed ter falado aquilo ontem, mexeu tanto comigo, que agora, não vou parar até descobrir a verdade.
***
Esse calor dos infernos está me matando. Não fui à aula hoje, Reed acordou com ressaca e sua mãe pediu para que ele ficasse em casa. Enquanto isso, Elaine me levou para conhecer um dos donos das motos.
Ela fez o anúncio pela manhã, e rapidamente achou o dono de uma.
O carro para, saio primeiro, arrumando o sobretudo em meu corpo. Fui obrigada a usar para sair com ela, preciso estar parecida com uma segurança, "não com sua filha". Palavras do chefe que toma conta da segurança dos Walsh.
Fico esperando atrás dela. Elaine toca na campainha, após alguns minutos, um garoto entre vinte e sete, e vinte e cinco anos, atende a porta.
Eles conversam enquanto penso quando vou ter chance de falar com o Reed. Preciso de respostas, e ele vai falar por bem ou por mau.
- Precisamos de um desenhista - Elaine se aproxima - Conhece um profissional?
- Sim, senhora! - a respondo - Irei ligar, só um momento.
Ela apenas concorda com a cabeça e se afasta. Pego meu telefone e ligo para o melhor desenhista que conheço. Charles, desde pequeno, sempre teve um talento enorme.
- Kristhen? O que devo a honra? - ele ri do outro lado
- Preciso da sua ajuda.
- O que tu manda?
- Preciso que faça um desenho para mim baseando em apenas características.
- Agora! Onde você está?
Digo a ele a localização. Conversamos sobre mais alguns detalhes e desligo o celular. Balanço a cabeça para a senhora Walsh, na intenção de dizer que ele está a caminho.
Alguns minutos se passa, o cara da minha altura, de cabelos pretos, chega. Peço para ele ir até Elaine. Os observo, a conversa é baixa, não consigo ouvir os detalhes da pessoa que provavelmente ele viu.
Depois de tanta conserva, Elaine se aproxima com um caderno, nele tem uma imagem de um garoto da minha idade, mas nunca vi esse rosto antes.
- Conhece? - ela pergunta
- Não, senhora.
- Hm... eu também não - ela sussurra, observando o desenho
Olho para o homem que conversa na porta com Charles, eles têm um assunto sério, mas algo me intriga. Esse garoto está nervoso, como se estivesse alguém perigoso com ele.
- Isso está estranho - digo baixo
- Por quê?
- Ele está nervoso. Consigo ver seus olhos tensos e o leve suor escorrendo pela sua testa.
- Pode ser o calor.
- Acho que não. - olho para a Elaine - Ele está com medo. Alguém provavelmente o ameaçou, ou...
- Está na casa o ameaçando - ela entende na mesma hora
Continua...
NOTAS DA AUTORA
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Kristhen
RomansaSendo tímido e sozinho, Reed Walsh não consegue se aproximar de ninguém, ou fazer amizade. Filho de um empresário mais rico dos Estados Unidos, ele tem tudo que quer, e na hora que quer. Porém, sua timidez o impede de fazer muita coisa. Quando seu...