Os dias seguintes

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Com o passar do tempo naquele abrigo não havia muito o que se fazer a não ser ajudar nas atividades de manutenção daquele espaço, como a limpeza e a preparação da alimentação a ser servida para todas aquelas pessoas.

Após aquela primeira abordagem a Lina, Omar começou a visitar os seus parentes com mais frequência naquele espaço destinado as mulheres, e ficava a ver atentamente como Lina se portava o tempo inteiro, observando mais precisamente a forma que ela cuidava do seu filho.

Em uma das ocasiões em que aquele senhor estava a olhar fixamente para aquela jovem, Aisha percebeu e ficou a observá-lo à distância enquanto estava a lavar algumas vasilhas. O olhar de Omar era muito estranho, especialmente, para os padrões daquela cultura, em que o homem não tem o costume de ficar olhando fixamente para as mulheres, pois isso pode ser considerado um desrespeito.

Quando ele, por um momento de lucidez, notou que estava exagerando em sua averiguação das ações tomadas por Lina, resolveu sair daquele ambiente e, de certa forma, a visita dele a aquele local destinado as mulheres e crianças ficou menos frequente nos dias seguintes. Mas, Aisha, quando ele estava presente, desconfiada, ficou sempre atenta aos seus olhares, que, normalmente, de alguma forma procuravam Lina.

Durante os primeiros dias daquela semana, elas tiveram uma certa dificuldade em ter contato com Caivan, pois ele estava a sair durante o dia onde os bombardeios não ocorriam de forma tão frequente para fazer as suas reuniões militares, a maioria das vezes na cidade.

Mas, na quinta-feira, ocorreu algo que causou uma ansiedade enorme para elas e outras famílias abrigadas naquele espaço. Enquanto Caivan e alguns outros homens estavam fora do abrigo, na parte da tarde, foram escutados sons de bombas a explodir. Aisha e Lina tudo que fizeram foi começar a rezar para que Caivan não fosse atingido naqueles ataques. Durante a espera os seus corações pareciam querer sair pela boca de tanta angustia, pois ambas sabiam o que poderia significar perder o esposo naquela conjuntura.

Felizmente, antes que a noite chegasse, Caivan retornou a aquele abrigo e foi abraçado com muita emoção por suas esposas, que o questionaram se estava tudo bem com ele, quando ele respondeu que sim. Que algumas bombas haviam caído na cidade, mas muito distantes do local em que ele estava. Aisha naquele dia chegou a recomendar que ele não saísse mais enquanto aqueles ataques não cessassem, mas Caivan disse que quando convocado era obrigado a comparecer e já tinha reuniões marcadas para os próximos dias, trazendo mais preocupação às suas esposas.

Com os dias passando a saudade de casa só aumentava. Ter a liberdade de ficar no lar de forma mais livre era algo que aquelas mulheres sentiam muito. Para passar o tempo livre Aisha e Lina ficavam a observar os meninos brincarem enquanto cuidavam de Mohamed, que estava a ficar cada vez maior.

Até o final daquela primeira semana no abrigo, acanhadas, elas não tinham muito o que conversar com as mulheres daquele ambiente, pois, não tiveram muitos contatos anteriores naquela cidade. Além do mais, as mulheres que moravam na casa de Omar fizeram uma propaganda muito negativa de Aisha e Lina, o que fez com que as outras mulheres não insistissem em ter uma amizade com as duas. Ambas se tornaram mal vistas naquela sociedade, por terem se recusado a cumprir aquilo que estava nos costumes daquela comunidade e preferirem ficar sozinhas em casa enquanto o esposo encontrava-se no campo de batalha.

Mas, aquilo não as afligia. Na verdade elas se sentiam até bem em ficarem mais reclusas e sem muitos contatos com as pessoas de outras famílias. Naturalmente, que enquanto estavam lá, quando eram demandadas elas faziam o que era pedido e assim que finalizavam as tarefas comuns daquele espaço, ficavam a cuidar de Mohamed. Quando tudo isso finalizava e aquele bebê estava a dormir, tanto Lina quanto Aisha preferiam manter a descrição e conversar entre elas.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora