Os dias seguintes

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Após a saída de Omar, Aisha entrou com Lina e a questionou:

- Ele te bateu, não te bateu?

- Não Aisha. Ele não me bateu.

- Diga a verdade Lina, porque você estava chorando? Responda agora? Questiona Aisha de forma ríspida.

Lina preocupada com o questionamento firme de Aisha resolve responder a verdade:

- Sim. Ele me bateu.

- Porque ele fez isso?

- Ficou irritado quando disse que você tinha saído para comprar mantimentos sozinha.

- Eu queria saber o que ele tem haver com isso? Era só isso que eu queria saber.

- Aqui as coisas funcionam de forma diferente Aisha. A ideia dos membros desse grupo é que todos devem vigiar os demais da comunidade para que nenhuma regra seja descumprida. Isso é um dever para eles.

- E o que fizemos de errado Lina?

- Para ele é errado Caivan sair e deixar nós duas sozinhas em casa.

- Para ele o certo era o nosso marido ter nos mandado para a casa dele, para que nos tornássemos escravas, fazendo todo o serviço doméstico para eles e ainda sendo agredidas quando eles achassem que não estava bom ou não estávamos sendo submissas o suficiente depois de aguentar as humilhações? É isso? Questiona Aisha em tom irado.

- Acho que sim.

- Que ele e a família dele vá para o inferno!

- Aisha, acalme.

- Como me acalmar em meio a tamanha injustiça Lina. Eu não sou tão passiva quanto você. Se esse cara voltar aqui com essa pose toda, eu vou dizer que ele veio aqui e nos agrediu para Caivan.

- Não faça isso Aisha, por favor. Isso vai gerar uma briga entre pessoas muito poderosas. A vida do nosso marido pode ficar em risco. Esse homem é muito poderoso e tem muitos contatos importantes dentro do regime.

- Se ele vier aqui de novo eu vou falar sim. Não podemos demonstrar fraqueza pra ele, senão é que ele vai ficar se achando o poderoso. Eu mostro pra ele. Deixe ele vir aqui nos agredir de novo, que ele vai ver. Afirma Aisha em tom decidido.

Os dias passam e não houveram mais ocorrência importantes durante a ausência de Caivan. Aisha e Lina ficavam em casa todo o tempo, evitando sair, para não correr o risco de serem abordadas pelos policiais do regime, especialmente depois da ameaça explicita dada por Omar, no dia daquele embate entre as duas. Elas estavam até mesmo a racionar alguns alimentos, torcendo para que Caivan retornasse logo e não fosse necessário uma nova saída para a compra de comida, pois ambas estavam com medo de serem perseguidas por aquele policial.

Na Inglaterra, chegou o dia da cirurgia de Johnson. Loren estava no hospital e ficou a acompanhar a sua mãe enquanto aquela operação estava ocorrendo. Depois de algumas horas a esperar, o médico chegou com notícias, afirmando que a cirurgia foi um sucesso, o que trouxe uma enorme alegria para ambas.

Uma semana depois Johnson foi para casa, a sua recuperação seria lenta, pois foi uma cirurgia delicada. Ele teria que ficar de repouso por algumas semanas, evitar movimentos por mais algum tempo e também emoções fortes. Por esse motivo Evelyn tirou tudo de perto de Johnson durante aqueles primeiros dias pós-cirurgia. Ele não tinha acesso ao celular e nem a internet. Ela controlava todas as informações que eram recebidas com relação a Aisha e as filtrava antes de passar para o esposo. Não eram tantas informações assim, pois tudo estava muito estável na Síria, mas, para evitar emoções fortes, ela preferia fazer dessa forma.

Durante a recuperação de Johnson, Loren ia constantemente a casa de seus pais para ver se estava tudo bem e aquela família comentava sempre da necessidade de reencontrarem Aisha para que tudo voltasse ao normal. Diante daquele contexto, era muito difícil para aquela família, depois de tanto tempo sem saber notícias reais, demonstrar uma felicidade plena sem a presença de Aisha.

Na Síria o conflito persistia, mas assim que os combates ficaram menos intensos na cidade em que Caivan estava a atuar, em meados do mês de dezembro, ele retornou para casa. Foi uma felicidade enorme quando Aisha e Lina o receberam. Ele estava feliz em reencontrá-las e também rever o seu filho Mohamed, que já havia crescido bastante. Entretanto, com o passar dos dias, Aisha sentiu que ele estava triste.

Durante a noite, enquanto eles estavam se preparando para dormir, Aisha o questionou:

- Como foram esses dias no campo de batalha Caivan?

- Foi tudo bem Aisha.

- Não precisa tentar me enganar Caivan. Eu sei quando algo não está bem com você. Me conte, por favor, como foi nesses dias?

- Só te conto depois que me dizer o que viu naquela praça.

- Promete que me conta se eu te disser o que vi lá?

- Sim.

Então Aisha começa e buscar na memória aquela cena traumática e quando ia começar a dizer, Lina bate na porta, quando autorizada, a abre e diz que estavam a chamar no portão.

Caivan se levanta e afirma que quando retornasse, queria continuar aquela conversa com Aisha. Assim que chegou ao portão, viu que estava a ser chamado pelos chefes do comando militar daquele regime. Algo muito grave estava a acontecer.

Então ele retornou, vestiu roupas mais apropriadas e disse que precisava sair para as esposas. Aisha poucas horas depois, pegou no sono e dormiu, antes que Caivan voltasse para casa.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora