Casamento forçado e abusivo III

A continuidade da conversa

Após aquela primeira parte do diálogo, depois de uma pausa maior de reflexão, tentando entender o contexto do que seu esposo havia lhe dito, Aisha questiona para Caivan:

- Agora é a sua vez. Eu quero saber o que está acontecendo que está te fazendo ficar tão preocupado? E porque esses soldados vieram te chamar tão tarde ontem?

- Conforme te prometi. Eu vou te contar tudo Aisha. Eu estou muito preocupado com o cenário que encontrei na última batalha. Diz Caivan a dar uma pausa em sua fala, deixando Aisha ansiosa.

- O que você encontrou lá?

- As coisas não estão tão tranquilas para o regime como foi em momentos anteriores. Tivemos muita dificuldade em conquistar uma pequena cidade dessa vez e perdemos muitos dos nossos soldados. Além disso, tenho percebido que o regime não tem tido dinheiro para pagar por militares, o que tem diminuído muito a possibilidade de conquistarmos novos territórios e manter os que conquistamos.

- De certa forma isso não é tão ruim assim Caivan. Vendo essas aberrações que acontecem no regime, não sei se ficaria tão triste se ele entrasse em ruínas.

- Se não estivesse na situação em que estou, eu também não ligaria Aisha. Mas, o fim do regime no contexto em que estou atualmente, significa também o meu fim. Eu já fui identificado como um dos líderes do EI por todas as forças militares do mundo. Se me prenderem eu nunca sairei da cadeia. Se não receber pena de morte.

Essa fala assusta bastante Aisha. Ela faz uma pausa e diz em seguida:

- É sério isso Caivan?

- Infelizmente sim Aisha. Eu nunca pensei que fosse dizer isso, mas a minha vida, hoje, depende do tempo em que o EI vai conseguir resistir.

- Não pode ser! Diz Aisha aterrorizada com o que acabou de escutar.

Então os dois param de falar por mais algum tempo. Os pensamentos de ambos ficam um turbilhão naquele instante, quando Caivan diz:

- Infelizmente eu não tenho mais saída meu amor. Se tivesse uma forma de te mandar para fora daqui eu faria isso. A situação do regime está ficando cada vez mais complicada. A guerra tende a se intensificar e eu terei que ficar cada vez mais ausente daqui pra frente, não conseguindo dar a vocês a proteção que merecem.

- Eu não quero ir embora Caivan. Eu não te abandonaria aqui sozinho diante dessa situação. Nós nos casamos para vivermos juntos. Mesmo não concordando com o que esse regime faz, eu não vou te abandonar.

- Fico feliz que você demonstre essa vontade de estar ao meu lado Aisha. Mas, temo muito pelo nosso futuro. Esses ataques simultâneos a países do exterior levaram o regime a ser muito odiado por povos importantes do mundo e não estamos conseguindo resistir a força de todos eles contra nós ao mesmo tempo.

- Eu ainda acredito que teremos a oportunidade de tentar de alguma forma viver em paz em algum outro lugar Caivan. Tem que aparecer alguma oportunidade para isso, não é possível que estamos condenados a viver aqui.

- Na verdade estamos sim condenados Aisha. Se em algum momento, o regime perceber que estamos tentando fugir, não haverá outra sentença para nós. O regime do nosso país mandou para eles a sentença. Eles jamais podem imaginar que isso esteja passando em nossa mente. Nunca diga isso de forma que ninguém possa ouvir ou o nosso destino será a morte. Afirma Caivan com um semblante demonstrando preocupação.

Aisha fica a pensar por um momento, quando diz:

- Não importa Caivan. Não importa o que aconteça. Eu te amo e vou estar ao seu lado.

- Eu também te amo muito Aisha. Ouvir isso é muito importante para mim nesse momento. Preciso ter forças para poder lutar para manter, pelo menos o que temos atualmente, um pouco da nossa liberdade. Não era o destino que eu desejava, mas é o que temos. E dele, não podemos fugir.