A volta para o apartamento

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Após esses reencontros muito emocionantes, Aisha foi para casa junto a sua família no carro de Loren. A felicidade daquela família de estar novamente completa, era algo que não dava muito para explicar.

Loren colocou uma música no carro que elas gostavam de cantar enquanto eram jovens. Muito feliz, ela cantava usando toda a potência de sua voz, enquanto Aisha a acompanhava, como nos velhos tempos, com Tommy, profissional, a ajudar na segunda voz. Ao final da canção, toda aquela família aplaudiu demonstrando euforia.

Por um momento, Aisha ficou abraçada a sua mãe. Ela queria sentir novamente o mesmo que sentia enquanto era jovem. Era um sentimento tão bom estar ali daquela forma, sentindo o carinho, a proteção, um lugar verdadeiramente aconchegante nos braços de Evelyn.

Por outro momento ela ficou a olhar pelas janelas a paisagem de Londres, tão diferente da paisagem que tinha durante anos em Raqqa. Naquele instante ao rememorar que Lina e Nádia estavam ainda naquelas terras, o seu coração estremeceu mais uma vez. Deitada no colo da mãe, ela ficou a chorar, bem baixinho, sem demonstrar a tristeza que estava a sentir naquele momento para as demais pessoas daquele carro.

Quando chegaram ao estacionamento do apartamento de seus pais, ela disfarçadamente limpou as lágrimas dos seus olhos e tentou demonstrar felicidade a todos por aquele reencontro. Entrar novamente naquele apartamento foi uma sensação única. Ela havia vivido os melhores momentos de sua vida naquele local. Ali ela se sentia segura. Aquele era o lugar onde ela encontrou luz para a sua vida e esperava que uma repetição daquela espécie de renascimento estivesse em seu destino.

Tommy e Loren pediram uma pizza para que eles pudessem confraternizar. Aisha entrou novamente no quarto que a pertencia e sentiu uma vontade enorme de deitar em sua cama. Não querendo ficar distante da irmã, Loren entrou logo atrás, fechou a porta e disse:

- Como se sente minha irmã?

- Não poderia estar melhor Loren. Mas, passam filmes em minha cabeça. Especialmente o quanto fui feliz nesse apartamento. Como foi bom viver com você ao meu lado durante todos esses anos. E, por outro lado, como pude colocar tudo isso em risco.

- Você não sabia que isso que aconteceu iria ocorrer minha irmã. Não pode se culpar por isso.

- Mas, os riscos estavam muito claros Loren. Você e Saleh tentaram me avisar de todas as formas. Eu preferi arriscar tudo por aquele amor.

- Mas, você não disse no aeroporto que isso, em certa medida, com todos os problemas, valeu a pena?

- É isso que fico mais impressionada minha irmã. Os meus pensamentos ainda estão muito confusos. É um turbilhão de coisas que passam pela minha mente. Mas, a sensação mais estranha que sinto é que o amor que tinha por Caivan era tão grande, que talvez, se tivesse que arriscar tudo para encontrá-lo, naquela situação em que estava em 2015, para viver, pelo menos um pouco desse amor, acho que não faria nada de diferente! Diz Aisha, quando lágrimas caem dos seus olhos.

- Você o amava muito não é? Questionou Loren também emocionada.

- Era um amor tão grande que não sei como explicar em palavras minha irmã. Até quando a gente brigava, vinha um sentimento forte, tão forte, que eu não conseguia ficar com raiva dele. Tudo que Caivan fazia ele pensava em mim. O amor dele era tão grande, mas tão grande, que ele, mesmo antes de morrer, pensou em tudo e preparou tudo milimetricamente para que nós conseguíssemos fugir da Síria. É um amor que não tem dimensão. Mesmo depois da morte, pelas ações dele eu sinto que ele se fez presente e isso não tem preço!

Loren ao ver que a irmã estava muito emocionada, lhe dá um abraço apertado e diz:

- Eu sinto muito que tudo isso aconteceu e que Caivan infelizmente não está mais aqui entre nós minha irmã. Fico feliz que ele tenha sido um bom homem para você e que você tenha conhecido alguém que amasse tanto. Pois sei o quanto amar e ser amado é uma das melhores coisas que existem nesse mundo! Vou rezar muito para que ele esteja em um bom lugar, pois, se ele fez bem a você, ele também fez bem a mim, pois eu te amo muito minha irmã!

Aisha intensifica o seu choro de emoção, em meio a aquele abraço apertado, ao se lembrar de momentos bons que passou ao lado do seu amado. Em seguida, ela diz com dificuldade devido ao choro intenso:

- Mas, ele me deixou o maior bem de herança que poderia deixar minha irmã. Uma parte dele está aqui em meu ventre e esse bebê será tão amado o quanto amamos um ao outro.

- É isso minha irmã, tenha forças e se apoie no seu filho. Que o meu sobrinho seja uma pessoa tão especial o quanto o pai dele foi.

Elas ficaram a conversar por algum tempo, quando Evelyn avisou que a pizza havia chegado e Aisha nem havia entrado ainda para o banho. Loren retornou então para a sala e Aisha se banhou rapidamente para que fosse realizado aquele jantar em família.

Aisha foi a última a se sentar a mesa e antes que todos começassem a se servir ela disse:

- Vocês não imaginam a falta que senti desses momentos com vocês!

- E você não imagina a falta que sentimos da sua presença aqui minha filha! Afirmou Johnson.

- Foi uma falta tão grande que eu espero nunca mais senti-la minha filha. Que estejamos sempre reunidos e felizes como estamos na noite de hoje! Viva a nossa família!

Então todos gritaram viva!

Em seguida iniciaram aquela maravilhosa confraternização, matando a saudade de uma ceia com toda a família reunida. Para registrar o retorno de Aisha eles tiraram algumas fotos, com ela demonstrando um sorriso irradiante, feliz por poder estar novamente com a sua amada família.

Antes de se despedirem, veio uma surpresa. Foi entregue naquele apartamento um lindo buquê de flores, com um cartão. Loren já imaginava de quem seria e disse:

- Saleh não poderia deixar você dormir sem essa Aisha.

Envergonhada Aisha disse:

- Muito gentil da parte dele deixar um bilhete me desejando as boas vindas a Inglaterra.

Em seguida, depois de conversarem mais algum tempo, Loren e Tommy se despediram da família, pois precisavam trabalhar cedo no outro dia. Antes de entrar para o quarto, Aisha se despediu de seus pais. Até o ato de dar boa noite, como ela fazia no passado, tinha um significado diferente. Tinha um valor muito maior. Quando não temos determinadas oportunidades é que entendemos o quanto cada gesto, por menor que seja, pode ser valoroso. Refletiu ela, antes de fazer a última oração do dia e deitar para dormir.

Naquela noite, cansada da viagem, ela conseguiu dormir rapidamente um sono muito reparatório, em ambiente tranquilo e aconchegante, onde ela já havia dormido por muitos anos e agora tinha a oportunidade de matar a saudade.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora