Casamento forçado e abusivo III

A ação do patriarca da família

Depois de alguns meses que estavam naquele local, finalmente chegou o natal e os seus pais puderam comemorar aquela data especial. Caivan não sabia, mas aquele senhor que os acomodou e sua família tinham conhecimento de que eles eram cristãos e respeitavam isso. Eles foram convidados para passar o natal em suas casas e foi realizada uma linda ceia com toda a família daquele senhor que os acolheu, o que seria uma despedida deles daquelas terras.

- Esse talvez tenha sido um dos momentos mais felizes que passei depois que saímos da nossa cidade. Todos estávamos muito alegres comemorando aquele natal. A ceia estava farta. O meu pai havia conseguido vender algumas coisas que tínhamos, especialmente joias de família e estávamos com um bom dinheiro. Foi uma noite muito especial!

- Eu posso imaginar Caivan. Respondeu Aisha com um semblante triste ao imaginar o que poderia ter ocorrido em seguida.

- Quinze dias depois nós partimos para o sul do país. O meu pai, com o dinheiro que tínhamos, conseguiu comprar uma casa pequena ao redor de uma importante cidade. Compramos alguns animais e começamos a pastoreá-los na região, conseguindo um bom preço pela venda deles na cidade, quando cresciam um pouco. Eu havia aprendido o ofício com o meu pai enquanto ficamos na fazenda daquele senhor e conseguia trabalhar muito bem naquelas terras que agora nos pertencia.

Quando as escolas abriram consegui reiniciar os estudos. Estava muito feliz por poder estudar novamente. Parte do dia eu ia para a escola, na outra parte eu cuidava dos animais com o meu pai e a vida foi seguindo.

Com o tempo, na escola, fui percebendo que as pessoas daquela região eram ainda mais conservadoras e extremistas do que os da última cidade em que havíamos sido expulsos. Cheguei a comentar isso com o meu pai e ele me falou sobre a importância de mantermos sigilo sobre a nossa religião, pois corríamos um sério risco se fôssemos descobertos.

- Durante os primeiros meses letivos daquele ano a saudade sua aumentou muito Aisha. Eu tinha colocado em mente que algum dia iria retornar a sua cidade para poder te reencontrar. Aquela escola sem você não fazia muito sentido.

- Nesse período eu também pensava em você por muitas vezes Caivan. Estava passando por um casamento muito infeliz. A essa altura estava sendo agredida constantemente pelo meu esposo. Estava vendo a hora que não iria mais suportar mais a violência dele.

- Eu sinto muito Aisha. Sinto muito mesmo que você tenha passado por isso meu amor. Diz Caivan ao abraçá-la carinhosamente.

Então Caivan continuou a contar o que se lembrava dos fatos ocorridos naquela época.

Em uma noite comum naquela nova cidade, tudo mudou. Estávamos nos preparando para a ceia, quando começamos a ler a Bíblia. Esse era o primeiro ato que fazíamos antes de nos alimentar. Depois iniciamos as orações e no final começamos a cantar músicas religiosas que havíamos aprendido com os nossos ancestrais também cristãos.

- Foi nesse momento que escutamos um barulho do lado de fora da nossa casa. O meu pai assustado mandou que todos ficassem em silêncio e foi ver o que encontrava na parte de fora. Mas, não viu indícios de que fosse uma pessoa. Achamos que era um animal qualquer.

Aisha reage demonstrando apreensão após a fala de Caivan, curiosa para saber o que ocorreu em seguida. Quando Caivan continua a relatar:

- A gente estava tranquilo, era uma noite fria e normal na nossa cidade. Jantamos normalmente e estávamos nos preparando para dormir, quando escutamos um forte barulho e a porta daquela casa humilde a cair. Os homens, uns seis, entraram e renderam o meu pai e minha mãe. Quando tentei pular a janela um deles me segurou e me levou até a sala, fomos todos rendidos.

Ao escutar aquela fala de Caivan, Aisha sentiu um aperto no peito, vindo uma tristeza enorme em sua mente, quando ao olhar nos olhos dele, sentiu que Caivan estava a cair lágrimas de seus olhos e ela não resistiu, sentindo também a água a rolar em sua face.