Primeiras buscas em Raqqa

83 13 5
                                    

Muito atarefada nos cuidados com o seu bebê Willian, Aisha não tinha muito tempo para assistir televisão e não soube da queda de Raqqa. O seu pai Johnson e a sua mãe Evelyn, tentando diminuir a sua preocupação e ansiedade, ocultaram essa informação dela enquanto os dias passavam.

O mês de novembro de 2017 chegou e aquele bebê havia completado um mês de vida. Já se começava naquela cidade os preparativos para o natal, época em que Aisha tinha uma felicidade enorme em comemorar.

Em um dos dias em que estava em casa, enquanto o seu filho estava dormindo, uma curiosidade surgiu em sua mente, quando ela rememorou que o doutor Wilian havia lhe dito que Raqqa estava para cair. Veio logo o questionamento em sua mente: Será que Raqqa foi mesmo dominada pelo exército Sírio? Como será que está a vida das minhas amigas e dos filhos de Lina?

Nesse instante, depois de meses, Aisha tomou coragem e abriu o seu computador para procurar notícias sobre a cidade em que viveu com Caivan enquanto esteve na Síria. Ao abrir o computador ela teve uma grande surpresa. Raqqa havia saído das mãos do Estado Islâmico há quase um mês.

Imediatamente ela foi na sala e seu pai estava lá a assistir televisão, quando Aisha questionou:

- Pai, o senhor sabia que Raqqa havia caído?

Johnson ficou sem reação e não sabia o que responder para a filha naquele momento. Ele imaginava que Aisha iria ficar chateada se ele dissesse que sim, mas sabia também que a sua reação já demonstrava a resposta. Então, antes que ele respondesse, Aisha disse:

- Eu sei que o senhor já sabia pai. Porque não me contou quando isso aconteceu?

- Senti que estava muito atarefada minha filha. Não queria te encher a cabeça com mais uma coisa.

- Isso era muito importante pra mim pai. Qualquer dia que passa, pode ser mais difícil eu saber notícias de pessoas importantes que deixei lá na Síria.

- Esses locais ainda ficam sobre disputa, depois que a mídia propaga a informação de que foi tomado minha filha. Os conflitos não terminam assim. Você não iria conseguir ninguém que quisesse se deslocar para lá para fazer essa busca, pois a cidade não fica segura do dia para a noite. Talvez agora, depois de quase um mês que saíram as notícias de que Raqqa foi dominada, você consiga alguém de lá ou de algum outro lugar que possa te passar informações sobre essas pessoas que você gostaria de resgatar.

- Eu deveria ter feito isso antes. Acho que pode ser difícil encontrá-la depois de tanto tempo. Eu nem imagino onde ela estaria. Você deveria ter me contado pai. Mas, eu entendo o senhor e a sua ação, no sentido de me proteger e tentar que eu focasse mais no cuidado do meu filho, seu neto, do que em outras questões. Mas, agora eu preciso agir, no sentido, de fazer alguma coisa para ajudar as minhas amigas Lina e Nádia. Eu preciso saber o paradeiro delas e se consigo ajudá-las a sair de Raqqa, que nesse momento deve estar um caos.

- Posso olhar com algum dos meus amigos, se há alguém de confiança lá que poderia verificar onde estão essas suas amigas. Acho que posso ajudar nisso.

- Jura que pode tentar me ajudar a encontrá-las pai? Questionou Aisha demonstrando satisfação com aquela possibilidade.

- Claro que sim minha filha. Vou entrar em contato com algumas pessoas e eles devem direcionar alguém que possa ajudar nessa localização. Eu preciso apenas que me dê detalhes de onde você estava morando na cidade, na época em que teve que fugir. Provavelmente, lá será o primeiro lugar que eles vão procurar informações.

Aisha deu os detalhes para o seu pai de onde morava antes de fugir da Síria. Falou sobre as características de Lina e Nádia. Descreveu também que Lina tinha um filho chamado Mohamed. Ela estava muito esperançosa com as possibilidades que seu pai lhe deu para aquela busca.

Em sua mente ela ficava imaginando que se Lina estivesse em um lugar seguro, ela moveria céus e terras para poder tentar trazê-la de volta para a sua família na Europa. Caso essa fosse também uma vontade de Nádia, tentaria também arrumar os documentos para que ela conseguisse migrar, se possível, para a Inglaterra ou algum país da Europa.

Seriam as primeiras ações que ela tentaria fazer para ajudar pessoas de sua terra a sair daqueles países em conflito, caso essa fosse a sua vontade. Aisha tinha em mente que a Ong que idealizava atuaria também nesse sentido, de ajudar as pessoas a se manterem em seus territórios, mas aqueles perseguidos ou que tivessem o interesse de sair por falta de liberdade, teriam o apoio de sua organização para conseguir atender esse desejo, assim como ela conseguiu quando era adolescente.

Johnson entrou em contato com amigos militares que estavam na Síria e eles conseguiram contratar algumas pessoas que conheciam a região de Raqqa para fazer uma busca na cidade das pessoas citadas por Aisha.

No dia 18 de novembro de 2017, exatamente um mês após a tomada oficial da capital daquele regime na Síria, as primeiras notícias chegaram para Johnson:

- Olá senhor Johnson, os homens contratados foram para a cidade de Raqqa e verificaram no endereço citado por Aisha como local em que morava e deixou Lina e Nádia. Mas, infelizmente não temos boas notícias. Ao visitar o local, os homens disseram que encontraram apenas escombros da casa que parece ter sido atingida por um míssil. Não se sabe se haviam pessoas no momento em que a casa foi atingida, mas, eles afirmam que caso tivesse, dificilmente os moradores teriam sobrevivido.

- Como vou dizer isso para Aisha? Ela ainda encontra-se muito sensível com a questão do filho. Essas mulheres eram muito amigas dela e uma delas tinha um filho que ela tem um carinho enorme e um outro, provavelmente, recém-nascido.

- Ele procurou informações com pessoas que moram ao redor, mas eles disseram não ter notícias de quem morava naquela casa, a não ser o patriarca que era um militar e que morreu em conflito. Esse homem se chamava Caivan.

- É o esposo de Aisha. Essa informação procede.

- Vamos continuar buscando informações de Lina e Nádia. Caso encontremos alguma informação nova, entraremos em contato. Esse homem vai ficar lá e nos enviar notícias até descobrir o que aconteceu com essas pessoas. Ele é muito bom de trabalho e tenho grande convicção que ele conseguirá achar o paradeiro dessas mulheres caso elas não tenham morrido nessa casa que foi destruída. A cidade está com muitos prédios em ruína e muitas pessoas saíram da cidade antes da tomada, isso dificulta um pouco as coisas, mas acho que com a experiência desse homem, em pouco tempo, teremos informações mais precisas sobre o paradeiro dessas duas mulheres e crianças.

- Essas informações são muito importantes para a minha filha. Já enviei os recursos que você me disse que seriam suficientes para a busca, mas se precisar de mais é só me dizer, que envio mais.

- Tudo bem senhor.

- Agradeço muito pela ajuda.

Então Johnson desliga aquele telefone ficando preocupado em como poderia dar a notícia para Aisha de que aquelas pessoas que ela sonhava encontrá-las e levá-las para a Europa, poderiam estar em meio aos escombros da casa em que morava. 

Aquele senhor, para não levar a filha ao desespero, preferiu não dizer nada e esperar a confirmação ou novos indícios da investigação do paradeiro das pessoas daquela família para poder repassar informações mais qualificadas para a Aisha.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora