A queda de Cabul

46 4 0
                                    

Depois de se recuperar um pouco, em seu quarto, da situação vivenciada naquele aeroporto, Sahar foi para a sala, encontrou com sua mãe Sonia e resolveu conversar um pouco.

- Não consegui sair do país mãe. Estou com muito medo.

- Eu posso imaginar minha filha e sofro muito ao te ver nessa situação de grande ansiedade. Mas, daremos um jeito nisso. Se você não conseguiu sair pelo ar, daremos um jeito de te tirar do país por terra antes que os talibãs cerquem toda a cidade. Vou ligar para o meu filho Mohamed que está no Paquistão e perguntar para ele qual seria a melhor forma de você cruzar a fronteira. Acho que temos condições de te tirar daqui. Por favor não se desespere.

- Eu vou ficar bem. Felizmente a passagem que Aisha comprou pra mim pôde ser usada por uma jovem que estava muito desesperada para sair do país. Me parece que a situação dela era pior do que a minha, pois ela estava sozinha e parecia não ter família para te dar o apoio que tenho de vocês. A essa hora ela deve estar pisando em solo turco. Espero que fique tudo bem com ela nessa nova fase de sua vida.

- Alexsander me contou o que aconteceu. O seu gesto foi muito nobre minha filha. Você é mesmo uma pessoa muito especial e cada dia te admiro mais.

- Obrigada mãe. Com essa sua fala, eu me sinto mais leve.

Ainda naquele dia Sônia ligou para o seu filho e ele disse que não teria como cruzar a fronteira para retirar Sahar do Afeganistão, pois tinha medo de não conseguir retornar para o Paquistão. A fronteira estava fechada e as pessoas tinham que ter autorização para realizar a travessia, quando o governo liberava.

Mohamed Amiri, disse que era possível passar a pé pelas montanhas, mas a entrada de Sahar seria ilegal no país. Caso ela fosse capturada pela polícia, poderia ser mandada de volta para o Afeganistão e isso poderia lhe trazer um grande risco de vida, pois ela cairia nas mãos do regime Talibã se isso ocorresse.

Aquela fala assustou bastante Sônia. Então ela conversou com Sahar e Alexsander sobre as recomendações que Mohamed passou e Sahar chegou a conclusão que só valeria a pena fazer aquela travessia se fosse de forma legal. Ela não poderia correr o risco em hipótese nenhuma de ser deportada para o governo talibã no futuro. Aquilo poderia significar uma sentença de morte ou um casamento forçado com algum militante daquele grupo, algo que ela não queria de maneira nenhuma.

Depois daquela conversa com os filhos, Sônia ligou para Aisha a pedindo ajuda para conseguir um documento de autorização para a saída de Sahar para o Paquistão, já que a autorização anterior era para a Tuquia. Aisha ficou de falar com Saleh, para que ele pudesse olhar com o amigo se esse documento poderia ser confeccionado com a máxima agilidade.

O grande problema é que ela recebeu como resposta de Saleh que a embaixada turca no país estava em processo de mudança e como os pedidos de saída do país eram muitos e eles estavam em escala reduzida de trabalho, o amigo dele não conseguiria providenciar esse documento tão rápido, como fez da última vez. Como saída, Saleh pediu a aquele amigo que fizesse esse favor para ele o mais rápido possível e obteve como resposta que assim seria feito.

Alguns dias se passaram e chegou o mês de agosto. A medida que aqueles dias iam passando os talibãs dominavam mais cidades importantes daquele país, chegando cada vez mais próximo da capital. O grande medo de Sahar, era que eles cercassem a saída da capital e se tornasse impossível ela viajar também por terra, algo que a impediria de ir embora do país.

O governo Paquistanês, recebendo muitos refugiados, de tempos em tempos fechava a fronteira, pois não tinha condições de receber tantas pessoas que queriam fugir do Afeganistão com medo de possíveis conflitos. Tudo aquilo deixava a situação de Sahar ainda mais preocupante e desesperadora.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora