O choque

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Ao entrar naquele bairro de classe média alta, um grande número de casas próximas a que eles moravam estavam totalmente destruídas. Por aquelas casas terem uma maior qualidade a aeronáutica dos países envolvidos nos ataques imaginaram que elas eram a moradia dos principais agentes do Estado Islâmico e, em certa medida, estavam certos. Além da casa de Caivan, outras casas de pessoas importantes do regime também haviam sido atacadas naquele bairro de maior padrão.

Quando se aproximou da rua de sua casa, toda aquela família estava em uma expectativa enorme. A primeira coisa que eles conseguiram avistar foi o muro da casa em que moravam que estava no chão. Quando Caivan passou em frente a casa veio a surpresa maior, ela estava totalmente destruída.

Ele parou o carro e Aisha desceu desesperada, ajoelhou no chão e começou a gritar:

- Olha o que fizeram com a nossa casa! Chorando ela disse em seguida: - Se estivéssemos aqui estaríamos todos mortos. Olhem o que eles fizeram! Eles destruíram tudo! Eles destruíram tudo! Nenhuma lembrança minha, desde que cheguei aqui existe mais! Disse ela inconsolável, enquanto Caivan entrava naquele lote para ver se alguma coisa poderia ser recuperável.

Havia uma cratera enorme em meio aos escombros, demonstrando que o peso daquele míssil que caiu na casa era enorme e que o objetivo foi mesmo destruí-la completamente sem dar nenhuma chance para qualquer pessoa que estivesse dentro dela de sobreviver.

Certamente a sua família toda teria morrido se eles não estivessem ido para o abrigo. Tudo que tinha no interior dela pegou fogo. O que ele não sabia era se aquele ataque foi deliberado para atingir a sua casa, pois descobriram que ele e sua família moravam ali de alguma forma ou se a casa foi atingida de forma aleatória entre as casas daquele bairro de classe média alta da cidade.

Lina estava desolada, chorando muito, mas preferiu ficar sentada no carro com o seu filho no colo. Quando Caivan se aproximou um pouco de Aisha ainda ajoelhada, demonstrando desespero a chorar, ele a deu a mão para que ela se levantasse. Assim que ela levantou, questionou:

- O que vamos fazer agora Caivan, nós perdemos tudo que tínhamos?

- Felizmente nós ainda temos algum recurso Aisha. Levei o dinheiro e as joias que tínhamos nas malas. Dos males o menor. Perdemos apenas bens materiais, isso a gente reconstrói meu amor. Teremos que procurar uma outra casa para alugar e seguir a nossa vida.

Depois dessa fala de Caivan, Aisha reflete um pouco e ao ver o desespero de outras pessoas ao redor, que não tiveram a mesma sorte dela de ter ido para o abrigo a escavar os escombros para ver se encontravam entes queridos, ela sente um aperto no coração e até mesmo uma certa culpa.

Em meio esse desastre todo, com tantas pessoas mortas e eu preocupada com casa e meus pertences. Tanta gente que perdeu entes queridos. Porque estou a pensar dessa forma? Fazia ela uma auto repreensão em seu pensamento.

- Acho que é melhor a gente ir agora. Vamos procurar uma casa para a gente poder se instalar. Esse foi o pior ataque que a cidade de Raqqa já recebeu desde que o EI a dominou em 2014. Penso que não teremos muitas casas disponíveis em meio a esse monte de escombros, por isso o quanto antes começarmos a procurar, melhor. Afirmou Caivan.

- É melhor mesmo meu amor. Não sobrou nada que possamos pegar, tem certeza?

- Tudo pegou fogo. Foi um ataque muito direcionado a nossa casa Aisha. Infelizmente nada sobrou. Temos que comprar tudo novamente, de roupas a todos os acessórios de casa. O que está no nosso lote, não serve para mais nada.

- Então vamos. Vamos procurar um novo lar para morar. Diz Aisha enquanto eles caminham em direção ao carro.

Caivan foi para o quartel e deixou as suas esposas no carro, enquanto conversava com militares. Ele queria saber se eles tinha uma casa disponível, quando foi lhe passadas algumas referências de boas casas que estavam para serem alugadas.

Diferentemente do que ele imaginava, muitas famílias haviam conseguido fugir dos bombardeios e não tinham previsão de retorno nos próximos meses. Portanto, algumas casas foram abandonadas com móveis e tudo, por aquelas pessoas que partiram desesperadas, essas casas estavam prontas para morar. Isso trazia uma boa oportunidade para aquela família se alocar sem maiores custos ou trabalhos, pois, em breve, certamente, Caivan seria chamado para o campo de batalha.

No Catar, Johnson estava totalmente recuperado da cirurgia e já havia recebido autorização para retornar à Inglaterra. Ele acabou ficando um pouco mais no país, do que o tempo previsto, pois não encontrou passagens com boas escalas para poder viajar.

Nos dias anteriores ele estava muito preocupado, pois sabia que bombardeios estavam a ser realizados em Raqqa. Quando aqueles bombardeios cessaram, ele foi informado pelos amigos militares da base no país e seu coração acalentou um pouco mais, mesmo sem saber notícias de sua filha.

Após a sua recuperação ele tentou ligar algumas vezes para o telefone em que Aisha havia entrado em contato, mas aquele aparelho sempre dava desligado. Agora que um contato seria impossível mesmo, pois o celular estava na casa em que foi explodida no ataque aéreo.

No final da tarde Caivan conseguiu finalmente uma casa que o agradou, por ser relativamente grande em um bairro mais afastado do centro, não considerado um bairro nobre ou de classe média alta como o anterior. Sabendo que esses bairros mais pobres não estavam a ser os alvos prioritários de bombardeios, ele preferiu alocar a família em uma boa rua daquele bairro.

O receio que Caivan tinha era quanto a segurança delas enquanto ele estivesse fora, mas ele já estava arrumando estratégias para lidar com essa situação. Ele alugou uma casa com outra pequena casa a frente do lote, a qual gostaria de usar no futuro para que alguém pudesse fazer a segurança de suas esposas, haja vista que um homem não pode morar na mesma casa que as mulheres que não fazem parte da sua família naquela cultura. Nesse sentido, aquela casa a frente, menor, serviria muito bem para os seus objetivos futuros.

Aisha e Lina gostaram da nova casa que já estava mobiliada. Não era como estar na casa anterior que era muito mais bonita e bem construída, com ambientes mais amplos, mas, era uma boa casa. Caivan também prometeu que aquela seria uma residência provisória. Que assim que as coisas melhorassem ele iria alugar uma casa melhor para a família.

Para confortá-lo tanto Aisha quanto Lina se mostraram compreensivas diante da situação e elogiaram o ambiente. Os móveis eram antigos e os eletrodomésticos também, mas, Caivan prometeu comprar esses itens no decorrer da semana, deixando esses mais antigos na casa a frente daquele lote, para ser uma futura moradia, sem dar detalhes as suas esposas dos seus planos para a segurança delas. Ele queria manter isso em segredo, como uma surpresa para que elas pudessem se sentir melhor naquele ambiente.

Caivan amava Aisha, Lina e seu filho Mohamed com toda a intensidade e fazia de tudo para que elas tivessem uma vida mais tranquila, segura e confortável, mesmo naquele ambiente de guerra em que viviam. Ele era um homem admirável e um excelente esposo, na visão de ambas. Além de ser um pai muito carinhoso. Aquele amor certamente era recíproco por parte delas.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora