A falta

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Com mais alguns dias se passando, completou quase dois meses da partida de Caivan e uma preocupação enorme pairava por aquela casa. Lina ficava inquieta durante os dias finais do mês de fevereiro e Aisha percebia isso. O semblante daquela jovem era de tristeza por não ter notícias do marido. Muito reservada ela preferia não falar nada sobre esse assunto.

Mas, Aisha, ao final da primeira semana do mês de março, entrou no assunto:

- Desde que cheguei, Caivan nunca havia ficado tanto tempo distante. Será que aconteceu alguma coisa no campo de batalha?

- Eu não sei Aisha. O pior de tudo isso é que não recebemos informação nenhuma deles quando estão fora. Tenho ficado muito preocupada com a situação do nosso esposo. Ele saiu daqui tão preocupado. Eu não tinha o visto daquela forma desde que cheguei aqui.

- Ele chegou a se abrir comigo e dizer que as coisas estavam mesmo muito difíceis no campo de batalha Lina. Que eles estavam a ter muitas baixas. Me falou sobre a entrada de outros exércitos com uma força muito maior no conflito. Ele parecia muito preocupado. Espero que não tenha ocorrido nada com o nosso esposo.

- Não quero nem imaginar que algo possa acontecer com ele Aisha. Eu tenho muito medo de perder Caivan. Só de passar algo assim pela minha cabeça eu já fico aterrorizada.

- Por que todo esse terror Lina?

- Talvez você ainda não saiba Aisha, mas, em caso de falta de Caivan nós mulheres somos oferecidas a outros militares e quanto maior a patente deles, maior a prioridade em nos ter como esposas. Me casar com um desses homens me aterroriza.

Nesse instante Aisha se assusta, imediatamente o seu rosto vai ficando pálido. Ela nunca tinha imaginado o que poderia acontecer em caso de perda de Caivan. O cenário realmente é terrível na hipótese apresentada por Lina. Os homens do regime não são tão bons como Caivan e isso pode ser percebido nas atitudes de Omar. Agora ela entendia mais profundamente o porque Lina estava tão preocupada nos últimos dias.

Naqueles instantes os pensamentos surgiram em sua mente como um turbilhão. Ela voltou lá no tempo em que foi casada de forma forçada com Osnin e a vida infernal que ela tinha naquela casa sem ter nenhuma voz. Enquanto pensava nisso, ela olhava para Lina e o desespero daquela jovem parecia estar ainda maior com a sua reação. Foi quando ela entendeu que deveria poupar Lina nesse momento e tentar tranquilizá-la, já que ela estava em uma situação vulnerável o qual a mulher fica muito sensível, por ter acabado de ser mãe pela primeira vez.

Para tentar tranquilizá-la, Aisha disse:

- Tomara que ele esteja bem. Caivan é um homem esperto. Ele está muito feliz com a nossa família e diz que tem motivos muito fortes para retornar para casa. Em breve ele estará chegando por aquela porta e teremos a nossa família toda unida novamente.

- Que o magnífico esteja ouvindo as suas preces Aisha.

- Ele vai ouvir, Caivan prometeu que retornaria e ele vai retornar. Eu acredito nisso. Ele não vai nos decepcionar. Afirmou Aisha tentando passar confiança a ela mesma e a Lina de que aquilo que estava a dizer era verdade.

Mas, a medida que os dias iam passando e Caivan não retornava, a sua preocupação aumentava, com ela a ansiedade e a dificuldade de dormir. Tudo que vinha na mente de Aisha era o que já povoava os pensamentos de Lina antes delas terem aquela conversa sobre os seus destinos na falta de Caivan. O que será de nós sem o nosso marido! Que Caivan esteja bem e com saúde! Isso é tudo que desejo nessa vida! Suplicava Aisha.

Durante os dias daquele mês de março ela ligava aquele telefone todos os dias nos horários indicados por Caivan para ver se ele entrava em contato, mas, aqueles três horários passavam dia após dia sem receber nenhuma ligação. Aquela situação estava se tornando desesperadora, quando Aisha teve a ideia de ir ao quartel para perguntar sobre o seu marido.

Ela compartilhou essa ideia com Lina:

- Precisamos saber notícias de nosso esposo. Eu tenho que saber como ele está em algum lugar. Eu vou no quartel para saber informações dele.

- Ficou maluca Aisha. Não pode fazer isso. Estamos fugindo da polícia. Você está tendo a ideia de ir atrás deles? Questionou Lina assustada.

- Eu não estou aguentando mais não saber notícias de Caivan, Lina. Não estou conseguindo dormir direito. Tenho muito medo de que algo tenha acontecido com ele.

- Também estou preocupada e com muito medo Aisha, mas não temos o que fazer. É aguardar e ter paciência. Qualquer ação que tomarmos agora poderemos piorar ainda mais a nossa situação. É muito perigoso procurar a polícia e o exército na situação em que nos encontramos.

- Será que eles não nos dariam a informação de que ele está bem.

- Temo que não. O regime está ficando cada vez mais fechado e severo em suas ações. Naquele dia no mercado percebi as mulheres ainda mais desesperadas a andar na rua. Todo cuidado é pouco para nós. Eu não sei o que está acontecendo, mas tenho impressão de que o regime está se radicalizando, o que nos coloca em um risco ainda maior.

- O que vamos fazer Lina? O que faremos para ter notícias do nosso esposo?

- Ele já ficou fora por mais tempo Aisha. Quando ele foi para o Afeganistão fiquei por muito mais tempo sem contato com Caivan.

- Mas, ele tinha ido para um lugar que você sabia que era distante, era justificável ele ficar um bom tempo fora. Agora não tem muita justificativa. Por que ele não entra em contato por telefone? Pelo menos para nos tranquilizar.

- Certamente ele está no campo de batalha e qualquer contato em uma situação dessas pode ser muito perigoso. Mantenha a calma. Se tem uma coisa que chega rápido são notícias ruins. Se algo tivesse acontecido com o nosso esposo, imagino que já teriam vindo nos avisar. Vamos ter calma, paciência e serenidade. Acho que o nosso esposo está bem.

- Espero muito que você esteja certa Lina. Eu não aguentaria um outro casamento forçado como tive com Osnin. Só de pensar nessa possibilidade eu fico aterrorizada.

- Isso não vai acontecer Aisha. Fique tranquila. Tudo dará certo. Diz Lina demonstrando confiança ao abraçar Aisha.

O mês de março também se vai sem nenhum contato de Caivan. Depois de tanto esperar pelo seu retorno, Aisha entregou tudo ao magnífico. O seu sofrimento já havia sido tão grande tantos dias longe do marido e sem dormir de preocupação que ela já estava até cansada de sofrer, se acomodando em uma situação de passividade diante daquele contexto.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora