A decisão de Caivan

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Caivan conta sobre o medo que sentiu daquele homem o reconhecer, mesmo depois de alguns anos daquela ocorrência com a sua família:

- Eu sabia que estava muito diferente de quando saí daquela cidade. Estava muito mais forte fisicamente, com barbas grandes, o que dificultava em um primeiro momento um reconhecimento. Mesmo o meu nome sendo incomum naquela cultura, boa parte das pessoas usavam o sobrenome para se referir a nós, o que dificultava a associação daquele homem e a descoberta da minha identidade. Há aquela altura, aqueles soldados eram de diversos lugares diferentes que juntavam a resistência no Afeganistão, então, havia uma certa dificuldade dele me reconhecer.

- Acha que se ele te reconhecesse, ele poderia fazer alguma coisa contra você?

- Não sei Aisha, mas suspeito que sim. No mínimo acredito que ele pediria para mudar de destacamento ou a minha mudança. Ele entenderia que depois de matar os meus pais, eu não iria o perdoar com facilidade. E seria um risco para ele estar no mesmo destacamento que eu. Por isso tentei atuar da forma mais discreta possível. Fugia dos grupos de contato com ele e vigiava as suas ações. Na primeira oportunidade que tivesse iria me vingar daquele homem que estava presente na minha casa, no dia da morte dos meus pais. Disse Caivan com um olhar sombrio.

Aquela fala e olhar assustou um pouco Aisha. Ela ainda não estava acostumada a ver Caivan a demonstrar todo aquele ódio em suas palavras e olhares. Isso parecia acontecer apenas quando ele lembrada do evento traumático que foi presenciar a morte de seus pais. O que era compreensível pela forma cruel que tudo aquilo aconteceu, sem nenhuma possibilidade de defesa.

No grupo em que estava, haviam mais ou menos duzentos paramilitares que foram alocados em uma cidade ao sudeste do país, próximo ao Paquistão, para interromper a passagem de suprimentos dos exércitos ocidentais.

O nosso principal papel era fazer emboscadas naquelas cidades ao sul e matar o máximo de soldados do governo e dos exércitos ocidentais possíveis. E o nosso grupo conseguiu êxito em muitas ações. Mas, a maioria das vezes matávamos soldados afegãos que eram recrutados pelos ocidentais o que me trazia uma certa tristeza.

Estávamos matando os nossos próprios irmãos, enquanto os Ocidentais também faziam o mesmo. As pessoas dos exércitos estrangeiros, a aquela altura, estavam mais em posições de comando e poucos deles perdiam a vida diante daquele conflito. Foi ao presenciar esses eventos que eu cheguei a conclusão de que muito do que os tutores diziam naquelas escolas religiosas paramilitares, de forma prática, era real. Os Ocidentais costumam dividir as populações nacionais para que os povos se matem entre si e eles conquistem ambos. A partir dessa conquista, eles dominam os nossos povos, arrancam as nossas riquezas e deixam o nosso povo na miséria e com ódio dos nossos próprios conterrâneos.

Após algum tempo, com muita resistência, conseguimos fragmentar as bases do governo Afegão naquela região e com reforços vindos de outros lugares, estava programado um ataque a uma das bases militares que estavam sobre domínio deles. Entendi que aquela era a oportunidade perfeita para cumprir com o meu objetivo.

Aquele ataque seria realizado assim que o dia amanhecesse em uma das bases militares do grupo invasor com todos os soldados Talibãs presentes naquela região. Haveria muita resistência e uma boa oportunidade para atacar aquele soldado. Caso eu tivesse a oportunidade de atirar nele, certamente não havia suspeitas de que eu seria o culpado. Aquela talvez seria uma oportunidade única.

Preparamos tudo para ir para o campo de batalha. Eu estava com um fuzil AK-47. Para disfarçar melhor, coloquei algumas roupas em minha cabeça para cobrir o meu rosto, como se fosse uma máscara e fui acompanhado daqueles homens para o ataque a aquela base militar do governo, mas o meu objetivo era diferente de todos que estavam a ir para aquela base militar.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora