O retorno de Caivan

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Depois de algumas batalhas bem sucedidas e outras muitas não tão bem assim, Caivan retorna para a cidade de Raqqa com o seu destacamento em meados do mês de abril de 2017. Muito preocupado ele vai conversar com o Comandante Geral sobre a situação no fronte e diz que a situação está muito complicada e que vários dos seus principais soldados e oficiais foram mortos nos últimos meses de conflito, pedindo mais soldados para reforçar o fronte leste.

O comandante geral o atualiza dizendo que há contatos com os exércitos inimigos de todos os lados, que o regime está perdendo a sua continuidade de território e que as coisas estão muito difíceis também do lado Oeste e no Norte, demonstrando para Caivan a impossibilidade de lhe fornecer ainda mais homens para que contraofensivas pudessem ser realizadas, visando a retomada de pontos estratégicos.

Eles chegam a conclusão de que nos próximos meses tudo que teriam condições de fazer era tentar proteger a região de Raqqa, pois, em breve todo o regime no Iraque tenderia a cair, incluindo a cidade de Mossul, principal cidade daquele regime no país, que já estava, praticamente, completamente cercada. O regime estava entrando em um estágio de decadência militar que poderia ser algo irreversível e isso preocupava intensamente Caivan, que não sabia qual seria o seu destino se isso ocorresse.

Depois dessa conversa com o comandante, ele foi para casa, pois não via a hora de rever as suas esposas. Ao entrar ele foi recepcionado por Nazdan, que lhe deu as boas vindas e disse que tudo estava bem com a sua família.

Rapidamente Aisha e Lina foram até o quintal, com roupas apropriadas, e avistaram o marido, mas elas se surpreenderam com as feições que ele apresentava. Caivan estava muito magro e desgastado, parecia ter envelhecido anos em poucos meses, certamente, pela preocupação dos fatos que estava a presenciar no campo de batalha.

As suas esposas logo foram o abraçar, demonstrando a saudade enorme que se encontravam e, já falando algumas palavras, Mohamed o chamou de pai mais algumas vezes, interagindo e o fazendo abrir um sorriso irradiante.

Nem Aisha nem Lina quiseram falar sobre o assunto guerra naquele momento e sobre a mudança física de Caivan durante aqueles pouco mais de três meses. Eles almoçaram em família e durante a tarde Aisha lhe contou a novidade:

- Tenho uma novidade a te dizer Caivan. Disse ela com um sorriso no rosto.

- Eu adoro novidades? O que é Aisha?

- Eu estou grávida! Disse Aisha demonstrando uma felicidade enorme em seu semblante.

Caivan muito feliz, foi em direção a ela e lhe deu um forte abraço, dizendo:

- Que notícia ótima meu amor. Sonhamos muito por isso e graças ao magnifico o nosso sonho está se tornando uma realidade. Está escutando Mohamed, você não terá agora apenas um irmão, mas terá que cuidar de dois, pois tanto a sua mãe quanto Aisha vão ter um novo bebê. Que venha com muita saúde! Fico muito feliz que a nossa família está a crescer e prosperar. Disse Caivan emocionado em frente as suas duas esposas e ao seu filho.

Em meio as situações de perdas que estava a sofrer na guerra, Caivan estava mais emotivo. Ele abraçava as suas esposas com mais frequência durante os dias em que estava em casa, brincava mais com o seu filho Mohamed e, sempre que possível, dizia a todos de sua família o quanto os amava.

Em uma das noites que estava a dormir no quarto de Aisha ele a confidenciou a situação no fronte e disse que havia perdido mais de três dezenas dos homens de sua tropa de elite em que ele mais confiava durante esses meses. Que por algumas vezes os conflitos estavam tão intensos que ele chegou a pensar que poderia não retornar para casa também.

Ao ouvir essa fala de Caivan, Aisha se assustou muito, fez gestos de negação e o beijou em seguida, dizendo que ele tinha agora mais um filho para ver nascer e que não deveria nem pensar na hipótese de não retornar para casa.

Algumas noites depois Caivan se abriu para Aisha quanto as suas preocupações:

- Há uma perspectiva forte entre a cúpula militar que o regime não dure por muito tempo Aisha e eu não sei o que será de nós. Desculpe estar te dizendo isso nesse momento, em que você pode estar frágil devido a gravidez, mas penso que tenho que te preparar para isso.

- Quanto tempo é a previsão de queda total do regime Caivan, você tem alguma noção com relação a isso?

- Eles estimam que podemos resistir por até seis meses, se os ataques continuarem nessa proporção, mas a cidade poderá ser completamente cercada antes. O comando já praticamente desistiu de tomar qualquer área nova. Os nossos fluxos, muitos deles já estão cortados, provavelmente, perderemos completamente a cidade de Mossul em breve e o risco de ficarmos isolados em Raqqa é muito grande.

- O que faremos se isso acontecer Caivan?

- Infelizmente eu não sei Aisha. Penso que estamos chegando em uma situação em que teremos que viver um dia de cada vez. Tudo está muito crítico. No campo de batalha os exércitos inimigos estão cada vez mais armados. Eles têm vencido muitas batalhas contra o meu exército que é um dos melhores do regime. Não está fácil defender as nossa posições. Em breve terei que retornar para o fronte, mas, será para tentar resistir um pouco e segurar um pouco os invasores. Entretanto, está muito claro, que a nossa derrota, hoje, se parece inevitável.

Assustada Aisha coloca as mãos sobre a boca. Quando diz em seguida:

- Se tivéssemos pelo menos a possibilidade de fugirmos.

- Infelizmente não temos. Fui condenado por duas vezes a lutar até o fim pelo regime. Na situação em que estamos, se pudesse mandar vocês para fora, enviaria Aisha. Aqui não estão seguras. Todos os exércitos inimigos estão concentrando as suas forças para derrubar Mossul, pois lá é um centro importante do comando do regime. Depois que eles conquistarem lá, que não demorará muito tempo, eles virão com toda a força para cá e nenhum lugar aqui se tornará seguro. Temo muito pelo nosso futuro. Diz ele tocando a barriga de Aisha, demonstrando preocupação quanto a segurança daquela criança que ainda nem nasceu.

Aisha respira fundo e tenta demonstrar forças para o marido, mesmo estando com um medo enorme por dentro diante do cenário catastrófico apresentado por ele. Então ela diz:

- Independente do que aconteça eu quero que saiba que estou muito feliz por estar aqui ao seu lado Caivan. Que não me arrependo de nada do que fiz, mesmo diante das dificuldades que enfrentamos e ainda vamos enfrentar. Tudo isso valeu a pena para viver os bons momentos que vivemos juntos e agora, principalmente, pelo filho nosso que está em meu ventre. Diz Aisha emocionada quando lágrimas escorrem dos seus olhos.

- Eu digo o mesmo Aisha. O meu sonho era ter a oportunidade de te encontrar novamente e essa possibilidade ascendeu quando você me encontrou na rede social. Eu sinto muito por não ter conseguido de proteger de forma que você pudesse ter retornado para a sua terra e pudesse estar em segurança hoje, mas foram coisas que aconteceram que estavam além do meu alcance.

- Foi melhor assim Caivan. Eu já me questionei muito depois que vim parar aqui na Síria. Mas, hoje não questiono mais. Eu estou no melhor lugar em que poderia estar e na melhor companhia que poderia ter, nos seus braços e sobre a sua companhia, a do nosso bebê e da linda família que construímos com Lina e Mohamed. Eu te amo muito Caivan! Você não sabe o quanto eu te amo! Diz Aisha emocionada.

- Eu também te amo muito Aisha. Sempre te amei e cada dia te amo mais! Responde Caivan também emocionado. Os dois ficam naquela noite abraçadinhos, até que ambos pegaram no sono.

O amor daquele casal parecia algo incondicional para ambos!

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora