Aisha, enquanto estava no quarto, tentando se recuperar do mal estar que sentiu, notou que um vento forte penetrou naquele espaço e começou a derrubar algumas coisas daquele ambiente. Mas, ela não conseguia reagir a nada daquilo. Por mais que tentava movimentar o seu corpo, parecia que ele estava paralisada e tudo que conseguia fazer naquele momento era chorar e rezar pela vida do seu esposo.
Ao escutar alguns barulhos, já preocupada, Lina foi novamente até aquele quarto e encontrou Aisha a chorar, enquanto ainda ventava muito naquele ambiente. Ao ver que a segunda esposa não se movimentava, parecia estar em um estado de choque, Lina correu para fechar a janela, visando controlar aquele vento avassalador que invadia aquele espaço.
Depois que fechou a janela ela se virou para Aisha e ficou impressionada com as lágrimas que caíam dos seus olhos. Nesse instante Lina se assustou ainda mais e então questionou:
- Aisha, por favor, está tudo bem? Está sentindo alguma coisa? Você quer ir ao médico?
Mas, Aisha não respondia, continuava naquele estado quase estático. Então Lina tocou no rosto dela e o movimentou com as mãos para ver se ela reagia aos seus movimentos e Aisha continuava imóvel, como se estivesse em transe. Muito preocupada, Lina então gritou por Nádia, que apareceu logo em seguida.
Enquanto tudo aquilo ocorria, Aisha sentia uma melancolia a tomar conta do seu coração. Em outros momentos, quando tinha esses sentimentos, ela queria se aproximar de Lina que sempre tinha uma palavra de conforto para lhe ajudar, mas nesse instante ela parecia querer ficar sozinha, pois as sensações que estava a sentir eram totalmente diferente de todas que já teve antes. Era muito mais forte! Era algo que não poderia ser explicado. Nada a faria diminuir aquela angustia terrível. Nesse caso, nem Lina e nem Caivan, se é que isso era possível naquela altura e as suas impressões eram que não. Até mesmo por esse motivo parecia que o seu inconsciente não queria reagir aos estímulos e as questões novamente apresentadas por Lina naquele quarto.
Quando Nádia chegou, Lina pediu para que ela chamasse Nazdan, pois Aisha parecia estar passando mal, mas, nesse momento ela retomou a consciência e interviu:
- Por favor Nádia, não precisa chamar ninguém! Eu não sei o que está acontecendo comigo, mas não é nada demais. Não preocupe o seu pai. Eu vou tentar ficar bem.
- Tem certeza que está tudo bem Aisha? Questionou Lina assustada.
- Infelizmente não tenho certeza Lina, mas não por mim, mas mais pelo nosso esposo. Eu não sei, mas acho que Caivan não ficará aqui entre nós por muito tempo. Disse ela a chorar ainda mais intensamente, enquanto Lina foi ao seu encontro para abraçá-la.
Segundos depois Lina questionou:
- Ainda continua com essas sensações ruins quanto a como está o nosso esposo Aisha?
- Infelizmente sim Lina. Eu nunca senti nada igual. Eu vou tentar me controlar, pois prometi a Caivan que independente da situação eu seria forte! Mas, está muito difícil. Eu não sei o que será de nós nessas terras sem o nosso esposo. Perder alguém que a gente ama é muito doloroso, mas na nossa situação tudo isso fica ainda pior.
- Não diga isso nem de brincadeira Aisha. Não podemos e não vamos perder Caivan. Ele vai retornar para casa. Eu tenho certeza disso. Ele não vai nos abandonar assim.
- Eu queria ter a mesma convicção que você Lina. Mas, depois das sensações que tive, não sei se posso! Responde Aisha ainda abraçada a Lina.
Nas proximidades do acampamento militar, aqueles soldados se aproximaram então de Caivan e de Hassan e constataram que o tenente havia sido atingido pelos tiros que eles deram e que estava morto. Quando olharam para a situação de Caivan, notaram que ele havia levado quatro tiros, um deles no ombro, outro nas costas, outro no peito, bem próximo do coração e um outro havia acertado em seu rosto, quase que de raspão.
Quando saiu com Hassan, pensando que retornariam logo e que aquele local estava seguro, em um momento de descontração, ele não estava portando colete e, sem proteção, aqueles tiros atingiram o seu corpo de forma direta.
Ainda com os sinais vitais presentes, mas muito fracos, eles o levaram para o acampamento. Um médico tentava ajudar aquele comandante a se manter vivo, mas entre os vários problemas, um deles era a falta de estrutura suficiente para fazer operações de grande complexidade como as necessárias para a situação daquele oficial e o seu estado de saúde foi se deteriorando a cada minuto que passava.
Ao ver que iriam perder Caivan se nada fosse feito, aqueles oficiais o colocaram em um carro e resolveram o levar acompanhado daquele médico a cidade mais próxima que tinha um hospital, ainda comandada pelo regime.
Em Raqqa, pouco mais de uma hora depois de ter aquelas sensações horríveis e sentir a ventania a invadir o seu quarto, Aisha ouviu o telefone celular deixado por Caivan tocar. Aquele telefone nunca havia tocado. Ela já sabia que aquilo não era um bom sinal.
Tremendo muito, ela pegou aquele celular já com lágrimas nos olhos. Assustada ao ouvir o som do toque, Lina correu com o seu filho Mohamed nos braços em direção ao quarto, mesmo estando com a barriga enorme.
Naquele instante, tudo que passava na mente de Aisha era: Por favor meu amor, que eu possa ouvir a sua voz mais uma vez. Que você esteja do outro lado do telefone para falar comigo. Que seja alguma boa notícia para alentar o meu coração. Que eu esteja errada e que você possa me dizer que promete que retornará para casa! Não permita, por favor, que seja outra pessoa nesse telefone magnífico. Por favor, não permita. Que seja o meu amado Caivan.
Foi então que Aisha atendeu e disse:
- Alô.
- Falo com a senhora Aisha?
- Sim. É algo com Caivan? Por favor. Está tudo bem com o meu esposo? Questionava ela desesperada a gritar chorando naquele telefone.
- Sentimos muito senhora. Mas, Caivan faleceu na noite de hoje! O seu esposo foi um grande homem e pediu para te avisar para que fuja o mais rápido possível de Raqqa com a sua família. Já conversamos com os militares do caminho e eles lhes deixarão partir em fuga, mas isso precisa ser imediatamente. Meus sentimentos senhora. Então aquela ligação é encerrada.
Aisha gritou como nunca havia gritado em sua vida!
- Caivan... Não me deixe aqui Caivan. Eu te amo! Eu te amo Caivan. Por que me deixou!
O choro tomou conta dela. Parecia que a sua vida havia acabado ali. Aisha sentia que não teria forças para lutar contra o seu destino. Não teria forças para cumprir a promessa que havia feito ao seu amado de ser forte. O seu coração estava despedaçado demais para isso.
- Como ser forte, depois de uma perda tão grande magnífico, como ser forte? Eu não aguento mais! Gritava ela.
Lina ao saber o que havia acontecido também se desesperou, sentando no chão e chorando muito.
Mohamed que nem sabia o que estava acontecendo foi brincar com algumas roupas de Aisha que estavam a ser arrumadas naquele quarto.
Daquele momento em diante o destino de todos daquela família era uma verdadeira incógnita.
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Casamento forçado e abusivo III
Mystery / ThrillerDepois de visitar o seu país de origem e encontrar com o grande amor de sua infância Aisha tenta retornar para a Inglaterra, mas algo acontece no aeroporto e o seu destino se torna um mistério. Acompanhe a terceira a última parte dessa obra e descub...