As primeiras semanas na Inglaterra

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Durante os primeiros dias a viver naquele novo ambiente, o sentimento de Aisha alternava muito. Por alguns momentos ela estava feliz por estar com a sua família, em outros vinha uma tristeza enorme pela perda de Caivan. Outro fator que a trazia imensa tristeza era se lembrar que Lina, Nádia, Mohamed e o bebê recém-nascido poderiam estar ainda em Raqqa em uma situação que ela não sabia precisar qual era.

Quando tinha esses sentimentos de tristeza, ela tentava evitar demonstrar para os pais, mas aquilo era nítido. Johnson e Evelyn, que a conheciam muito bem, fingiam para não demonstrar que a viam triste, mas por dentro sentiam que a filha não estava bem.

Em uma conversa entre eles, na hora do almoço, dois dias após a sua chegada, Aisha disse que queria retornar a terapia com a sua psicóloga, caso ela tivesse disponibilidade para atendê-la. Os seus pais lhe deram todo o apoio quanto a essa decisão.

Naquela mesma semana Evelyn fez de tudo para viabilizar esse desejo da filha e foi marcada uma consulta. A recepção por parte da terapeuta foi muito boa. Fazia muitos anos que elas não se encontravam e ambas sentiram uma felicidade enorme naquele reencontro.

Mas, logo o peso das novas histórias de Aisha começaram a se apresentar no consultório. No primeiro dia de terapia, até a psicóloga se assustou com algumas das situações apresentadas por ela. Não era comum receber pessoas que passaram por traumas tão sérios o quanto ela havia passado na vida. Aisha contou muitos dos episódios que passou durante esses dois anos, de forma superficial e rápida, mas já dava pra ver em seu olhar que ela estava sentindo muito, especialmente, a perda do seu esposo.

Enquanto Aisha tomava um café, ainda no consultório, Evelyn foi conversar com a psicóloga, que não deu detalhes das situações apresentadas, mas disse que Aisha precisava de muito apoio e da presença das pessoas que amava.

Ao chegar em casa, Evelyn logo entrou em contato com Loren e explicou a situação. Tentando ajudar a irmã, ela conversou com Tommy que gostaria de ficar na casa dos seus pais por algum tempo para dar uma força para Aisha e o seu esposo, compreensivo, lhe deu todo o apoio. Naquele mesmo dia ela chegou na casa dos pais e inventou que Tommy faria uma viagem e que ela ficaria na casa deles durante o restante daquela semana.

Loren fez questão de dormir no mesmo quarto de Aisha, como elas faziam nos velhos tempos. Naquele cenário, elas puderam conversar bastante sobre o passado, os acontecimentos no Afeganistão e na Síria, e Aisha pôde contar mais detalhes de sua vida enquanto esteve fora, diminuindo um pouco a sua tensão. Era muito bom desabafar com alguém que confiava tanto.

Por alguns momentos Loren ficou muito horrorizada com as situações apresentadas pela irmã. Um dos pontos que lhe surpreendeu foi quando Aisha lhe contou a forma em que foi capturada no Afeganistão e como se deu a sua condenação. Com uma visão ocidentalizada, era muito difícil para Loren conceber que essas situações descritas pela irmã ainda aconteciam no mundo.

Diante de todos aqueles momentos juntas, Aisha foi ficando melhor, pois não tinha muito tempo sozinha para pensar no luto e nos problemas que as suas amigas poderiam estar enfrentando na Síria. Esses pensamentos vinham mais durante a noite e quando Loren estava no trabalho, especialmente, durante a tarde.

Passados alguns dias, Aisha falou sobre a configuração de sua família na Síria, despertando a curiosidade em Loren:

- É sério que você aceitou ser segunda esposa de novo?

- Eu não tinha escolha Loren e isso é algo relativamente comum na minha cultura.

- Como assim não tinha escolha?

- Eu fui condenada a me casar com Caivan. Ou eu me casava com ele ou o regime nos condenaria a morte.

- Eu não sei se teria escolhido a primeira opção como você depois de tudo o que aconteceu. Caivan te traiu minha irmã. Por isso você ficou presa por lá e foi severamente castigada. Ele já caiu muito no meu conceito depois de saber dessa história. Diz Loren com um semblante irritado.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora