Casamento forçado e abusivo III

A mudança de Lina

Após aquela ligação e o aceite de Lina, Aisha começou a se movimentar com a sua Ong para conseguir realizar a mudança dela da Síria para o Líbano. Como os dois países eram vizinhos e cidadãos de um país migravam constantemente para o outro, conseguir viabilizar esse processo não demorou muito.

Na penúltima semana do mês de setembro um motorista foi buscar Lina e seus três filhos no campo de refugiados para os levar até o Líbano. Aquele foi um momento de intensa felicidade para aquela mãe que tinha uma perspectiva de futuro muito melhor para ela e seus filhos podendo viver em comunidade novamente, depois de tantos anos.

Assim que soube que o motorista pegou Lina e sua família no campo de refugiados, Aisha ligou imediatamente para Dania para lhe contar sobre a mudança que a sua filha iria realizar e que em breve as duas poderiam finalmente visitar Lina. Aquela senhora ficou muito feliz com aquela possibilidade, pois há muitos anos não via a filha e tinha uma expectativa enorme por aquele reencontro.

No mesmo dia Lina chegou em Beirute e foi lhe apresentada a sua nova casa em uma área de classe média daquela cidade. Aisha, através de representantes ligados a Ong que recebia recursos de sua organização, já haviam organizado tudo, uma casa mobiliada, pequena, mas muito confortável, com uma área grande para que as crianças pudessem brincar.

Ela adquiriu também um celular, mais moderno, para que Lina pudesse conversar com ela por vídeo chamada, de forma que elas pudessem se sentir mais próximas, algo que não era possível enquanto ela estava na Ong.

Lina ficou muito emocionada ao chegar naquela casa. Se ajoelhou em agradecimento e imediatamente após conhecer os cômodos, ligou para Aisha:

- Aisha. Que casa linda é essa que você arrumou para a nossa família. Eu não sei como te agradecer! Disse ela a chorar se mostrando muito emocionada.

- Era o mínimo que eu poderia fazer por alguém tão especial em minha vida, como você Lina. Gostou mesmo de onde está a morar? O Líbano é um país mais tranquilo para as mulheres de nossa religião. As pessoas não são extremistas como de outros lugares que passamos. Aí você poderá ter uma vida mais tranquila com acesso a tudo, mesmo sendo mulher.

- Você não imagina a felicidade que estou no momento. Terei a possibilidade de colocar Mohamed em uma escola. Tenho certeza que lá ele aprenderá coisas novas e ocupará a sua cabeça com coisas boas. As perspectivas para a nossa vida daqui pra frente são muito melhores.

- Depositei um dinheiro em uma conta que pedi para fazer pra vocês. É uma reserva. Todo mês vou depositar um valor até que você consiga retornar para cá ou se reestabelecer. Não é muito dinheiro, mas é um valor que vocês terão condições de viver de forma confortável aí no Líbano.

- Eu não sei como te agradecer Aisha. Você foi um anjo que apareceu em minha vida. Eu estou muito emocionada. Disse Lina com dificuldade em meio a grande emoção.

Depois de viver tanto tempo em uma situação de absoluta dificuldade após a morte do primeiro marido, por muitas vezes Lina pensou que jamais teria uma vida minimamente digna, especialmente, enquanto esteve presa. Ela ficou encarcerada por mais de dois anos, sem perspectiva de ser libertada. Depois de tudo que passou, poder morar em uma casa confortável e em um país de contexto mais tranquilo como o Líbano, era uma mudança muito grande para ela.

Aisha já havia passado durante a vida por várias situações em que acreditava não haver saída. Quando estava casada com Osnin, que era agredida diariamente, sem perspectiva de uma mudança e sair daquele sofrimento, ela também pensava que a sua vida não melhoraria mais nunca. Depois, quando foi capturada pelo Isis-K no Afeganistão, ela teve o sentimento de que estava chegando no fim da linha. Quando soube da morte de Caivan, ela sentiu ainda mais que a sua vida poderia estar chegando ao fim, mas, nesses momentos de grande dificuldade, sempre ela encontrou pessoas que a ajudaram. Graças a ação dessas pessoas é que ela estava viva e sentia que precisava retribuir dando também oportunidades para que Lina saísse daquela situação difícil. Ao rememorar as ações realizadas por Rashid, Wilian, seu pai Johnson e depois por Nazdan, pai de Nádia, em meio a sua fuga da Síria, Aisha também se emocionou e disse: