Casamento forçado e abusivo III

As primeiras conversas com o esposo

Aisha acordou logo pela manhã para realizar as suas orações. Em seguida levantou para fazer um chá para o marido e para Lina, que provavelmente levantaria com Mohamed depois de alguns minutos.

Caivan chegou na cozinha antes da segunda esposa, foi quando Aisha o reparou melhor durante o dia, no claro, e confirmou que ele havia emagrecido muito nos meses em que ficou fora. Acanhado com a sua mudança de aparência ele sorriu pra ela e teve aquele gesto retribuído.

Imediatamente Aisha sentou e pegou nas mãos de Caivan, o questionando:

- Está tudo bem com você meu amor?

- Eu estou bem Aisha. Como pode notar, emagreci um pouco e adotei uma aparência diferente nesse período de confronto. Mas, é por uma boa causa. O regime insiste que devemos ter um padrão para servirmos de exemplo para a sociedade. Então, resolvi acatar de forma mais profunda essas recomendações.

- Você me parece triste Caivan? Está cansado né?

- Foram batalhas muito difíceis nesses últimos dias Aisha. Parece que quanto mais o tempo passa mais feroz e armados ficam os nossos inimigos. Tivemos que recuar bastante para podermos ter segurança e perdemos muitos combatentes, infelizmente. Perdi pelo menos três amigos muito próximos e isso me abateu bastante.

- Eu sinto muito Caivan. Sinto muito mesmo que isso tenha acontecido. Responde Aisha com um semblante triste.

- Mas, isso faz parte da guerra. Agora me conte, como foram as coisas por aqui? Foi tudo bem? Vocês compraram alimentos quantas vezes enquanto estive fora?

- Foi tudo bem, na medida do possível. Confesso que ficamos com muito medo de sair na rua, pois o regime parece que está cada vez mais radical no sentido de não deixar que as mulheres transitem. Acredita que descobrimos que só podemos sair por apenas quatro horas por dia e acompanhadas de um homem. Está ficando muito difícil para nós mulheres quando você está fora Caivan.

- Eu posso imaginar Aisha. Eu sinto muito, mas já estou pensando em uma forma de resolver isso. Da próxima vez que for para o campo de batalha no Iraque, arrumarei uma forma de solucionar esse problema.

- Não me diga que já está pensando em partir de novo? Questionou Aisha demonstrando tristeza em suas feições.

- Eu não sei por quanto tempo poderei ficar aqui minha amada. O regime está precisando de comandantes em muitas frentes ao mesmo tempo. Estamos sendo atacados por todos os lados e tenho um dos melhores destacamentos do regime. Temo que eles não me deixem aqui por muito tempo. Afirma Caivan também demonstrando tristeza em seu olhar.

Nesse instante Lina entra naquele local acompanhado de Mohamed e se senta. Ela estava muito feliz por ter o seu marido em casa. O seu filho faz um movimento com os braços e todos começam a sorrir, quando Caivan diz:

- Vejam como ele é esperto. Vai ser igual ao pai quando crescer.

- Nada de ser militar não é meu filho. Militares ficam muito tempo fora de casa. Diz Lina a sorrir, jogando uma certa indireta para Caivan.

- É verdade. Acredita que ele nem chegou e já está falando em partir Lina?

- Ah não meu esposo. Você precisa ficar aqui pelo menos por um tempo. Estamos com muitas saudades de você! Afirmou Lina demonstrando tristeza em sua voz.

- Eu vou fazer o possível para ficar o maior tempo que puder. Mas, não posso prometer nada, porque sigo ordens do regime.

- Espero muito que esses conflitos diminuam Caivan para que você possa ficar em casa mais tempo. Diz Aisha, enquanto Lina balança a sua cabeça em concordância.