Uma importante questão

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Por volta das 13:00 horas, a porta do quarto se abre e um dos homens chama Aisha, que já estava preparada para ir ao julgamento. Antes de sair do quarto ela respira fundo e pede ao magnífico que a ajude, seja qual for a sentença.

Ao entrar na sala do julgamento, ela é colocada em um dos lados daquele espaço, distante de Caivan que estava ao lado oposto. As feições de ambos eram de completa desolação. Ele estava a sofrer muito por tudo que estava acontecendo.

Aisha tinha o sentimento de que ele a amava e não contou que era casado para não perder a oportunidade de encontrá-la novamente. O ponto em que ela não conseguia entender é porque ele se arriscou tanto, mesmo sendo casado. Na visão dela, ele tinha que ter sido mais cuidadoso, especialmente em público, conhecendo o contexto do local em que vivia.

Em meio aos seus pensamentos, vem em sua mente: Mas, eu também arrisquei tudo para estar com ele. Quando todos me avisavam que eu não deveria vir, eu cega vim ao Afeganistão, enfrentando todos os riscos. Eu não sei o que acontece com nós dois. É algo tão forte que parece que perdemos a noção do que estamos fazendo. Desde muito jovens eu sempre arrisquei a minha vida para estar com Caivan. Parece que ele retribuiu isso e hoje estamos aqui, nessa situação, em que os riscos podem finalmente nos levar a morte, morte essa que já quase aconteceu por tantas vezes, especialmente, enquanto o meu pai estava furioso a me surrar, até que eu quase não suportasse mais em minha infância.

O que é isso que é tão forte que nos faz perder completamente o senso de realidade? Porque esse sentimento é tão forte que nos faz assumir tantos riscos? Em nenhuma outra circunstância eu me deitaria com um homem no Afeganistão. Porque com Caivan isso aconteceu? Acho que com ele eu conheci o amor que os Ocidentais falam. Eu conheci um sentimento tão avassalador que nos tiram completamente da razão. É muito difícil explicar porque fazemos tudo isso por amor!

Mas, ao mesmo tempo, começo a entender que a distância entre o amor é o ódio é realmente algo muito próximo. Quando penso que Caivan me enganou por todo esse tempo, sendo casado, me vem uma sensação muito ruim no coração que não costumo ter em minha vida. Ele não tinha o direito de me colocar em uma situação como essa, nem por amor. Ele me enganou e pode ser o responsável pelo fim de minha vida! Eu não sei se conseguirei amar Caivan novamente.

Enquanto refletia sobre tudo isso, a troca de olhares entre os dois, era algo inevitável. Caivan passava uma tristeza tremenda em seus olhos. Aisha tinha um semblante de completo desespero, que depois ficou fechado, demonstrando uma certa revolta pelas ações dele.

Por um momento, o juiz entrou naquele espaço e disse:

- Bem senhores, estamos finalizando a sentença e tem algo que os juízes gostariam de questionar aos senhores sobre um cenário hipotético. Caso os senhores não sejam condenados a pena capital, estariam dispostos a se casarem, para minimizar o peso do que aconteceu?

Caivan imediatamente olha para aquele senhor e questiona:

- Posso responder senhor?

- Por favor, diga Caivan.

- Se tivesse essa oportunidade, aceitaria sem pestanejar. Se tiver a oportunidade de me casar com Aisha, certamente terei o momento de maior realização de minha vida.

Então aquele senhor vira para Aisha e questiona:

- E você Aisha? Aceitaria se casar com Caivan nessa situação hipotética?

Aisha começa a pensar e nesse instante vem um ódio em sua mente por tudo que Caivan tem feito ela passar. Porque ele mentiu pra mim? Porque ele não foi sincero? Eu não deveria estar passando por nada disso. Tudo isso é culpa de Caivan.

Então por alguns segundos ela fica em silêncio e o semblante de Caivan a sua frente vai ficando cada vez mais desesperado.

Os pensamentos de Aisha continuam intensos: Porque eu me casaria com um homem que me enganou? Eu não sei se amo mais Caivan como antes.

Então aquele senhor diz:

- Eu preciso de uma resposta para passar aos outros juízes Aisha.

Aisha entra em parafuso diante de toda aquela pressão. O fato de não ter dormido e não ter se alimentado direito nos últimos dias, estava a fazendo ter certos devaneios. Ela simplesmente estava em um estado de confusão mental. Quando veio uma lembrança em sua mente:

- Muito obrigada senhora. Eu também estou a torcer que eles tenham alguma misericórdia. O mal que eu fiz foi muito grande na nossa cultura. Mas, enquanto essa sentença não sai, eu tenho que ter esperanças.

- Sim. Você precisa ter esperanças e caso tenha alguma oportunidade de tentar convencê-los a te perdoar, não hesite em tentar. Antes da sentença, tudo vale para salvar a sua vida.

Em maio a um turbilhão de emoções e pensamentos, aquele senhor diz em forma de ultimato:

- Eu preciso de uma resposta agora Aisha, ou voltarei para dar o veredito sem a sua opinião.

- O que o senhor questionou mesmo? Perdão senhor. Eu estou um pouco confusa devido as emoções dos últimos dias.

- Em caso hipotético de não receber a pena capital, você estaria disposta a se casar com Caivan?

- Sim senhor. Eu ficaria muito horada se tivesse essa oportunidade.

- Bem, vou retornar então a sala e quando voltar, estarei de posse da sentença de vocês. Em alguns minutos finalizaremos.

Após essa fala Caivan respirou fundo. Ele estava a suar frio. Uma resposta negativa de Aisha poderia ter significado o fim da vida de ambos, sem nenhuma chance de uma reconsideração por parte daqueles julgadores. Se aquele juiz trouxe essa possibilidade, Caivan entendeu que eles poderiam estar em dúvidas, se eles receberiam mesmo a pena capital, de serem mortos por apedrejamento, ou se eles teriam misericórdia e lhes condenariam a uma pena mais branda, os deixando viverem e se casarem, para minimizar aquele escândalo.

Com o passar dos minutos, sem saber o que seria de suas vidas, a ansiedade de ambos parecia aumentar exponencialmente. Caivan olhava para Aisha e via toda a sua beleza. Em sua mente ele pensava. Que tenhamos mais uma oportunidade. Uma mulher tão pura e linda não pode ter a sua vida ceifada por culpa minha. Aisha salvou a minha vida na infância, será terrível eu retribuí-la a levando a morte por culpa de uma mentira minha.

Se eu sair daqui e tiver que me casar com Caivan ele vai ter que lutar muito para que eu consiga perdoá-lo. O que ele fez foi muito sério. Ele colocou a minha vida completamente em risco. Eu não sei se tenho condições de perdoá-lo a ponto de viver todo aquele amor que tivemos. A confiança foi quebrada. Mas, só de podermos nos manter vivos, já é uma esperança. Espero muito que esses juízes tenham misericórdia e aceitem que nos casemos para que esse mal que fizemos, se torne um pouco mais atenuado. Refletiu Aisha.

Cerca de vinte minutos depois aqueles três senhores entraram na sala e o juiz principal diz:

- O julgamento foi realizado e está na hora de ser proferida a sentença.

O coração de Aisha bateu forte como nunca. A sua vida dependia das palavras que iriam sair da boca de um daqueles homens pelos próximos minutos. Será que eles vão mesmo me condenar a morte? Pensou ela, antes que aquele juiz continuasse a sua fala.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora