A noite

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A noite chega e nenhum dos chás que foram dados a Mohamed modificaram a sua situação. Por volta as vinte horas ele dormia profundamente, mas a sua febre estava muito alta. Poucas horas antes, enquanto estava acordado era perceptível a sua fraqueza por não conseguir se alimentar direito.

Em meio a aquela situação, desesperada, Lina diz:

- Eu vou atrás do remédio para o meu filho.

- Não vai não. Grávida você não vai sair mesmo daqui. Pode deixar que eu vou. Responde Aisha.

- Eu sou a mãe dele Aisha. Se alguém tem que correr esse risco de ser capturada, esse alguém sou eu.

- Não Lina. Eu te coloquei nessa situação. Eu tenho que te tirar dela. Eu vou lá atrás dos remédios. Ele não vai me ver.

- É melhor eu ir Aisha. Tenho certeza que Omar terá compaixão de mim se me pegar.

- Ele estava a apertar o seu pescoço quase a matar quando cheguei nessa sala Lina. Acha mesmo que ele terá alguma pena de você caso te pegue? Você está grávida, não pode sofrer violência.

- Ele terá. Eu tenho certeza disso. Preciso te contar uma coisa que você ainda não sabe.

- O que você precisa em contar Lina? Questiona Aisha curiosa.

- Omar é apaixonado por mim. Afirma Lina, demonstrando total convicção em sua fala.

Aisha fica perplexa com aquela revelação. Ela já estava desconfiada dos olhares de Omar, mas como Lina havia negado o tempo inteiro o interesse daquele senhor, quando ela se abriu de uma hora para outra, aquilo a surpreendeu profundamente. Imediatamente ela questionou com voz alta:

- O que? Porque você não me contou isso antes Lina?

- Eu fiquei com medo de te conta e você revelar para Caivan, Aisha. Eu não sei qual seria a reação do nosso esposo se soubesse que Omar já tentou relações comigo enquanto estava na casa dele por inúmeras vezes.

- E isso aconteceu Lina? Você já se relacionou com Omar? Seja sincera para mim por favor.

- Não Aisha. Eu juro que não. Eu já cedi as suas pressões por algumas vezes. Já mostrei partes do meu corpo que uma mulher casada não pode mostrar. Ele me batia muito e para não apanhar mais eu mostrava o meu corpo e meu rosto pra ele. Mas, nunca deixei passar disso. Ele já tentou, já forçou, mas nunca deixei. Disse a ele que minha honra estava acima de tudo e que não seria adultera. Ele me disse que um dia ainda imploraria para que ele se deitasse comigo. Talvez esse momento chegou. Pelo meu filho Mohamed eu faço qualquer coisa.

- Não chegou o momento Lina. Eu não vou deixar isso acontecer. Esse homem terrível não vai encostar um dedo em você enquanto eu puder evitar. Você tinha que ter contado isso ao nosso esposo. Eu não imagino o que você passou naquela casa, nas mãos desse homem a te pressionar para cometer adultério.

- Foi horrível Aisha. Achei que não fosse suportar. Quanto mais eu negava, mais violento esse senhor demonstrava a ser. Quando se tornava insuportável eu cedia de alguma forma, mas nunca o permiti chegar onde ele mais desejava. Nunca adulterei o meu marido.

- Isso é um absurdo completo Lina! É esse homem que fica a controlar todas as mulheres dessa cidade. Que fica a dar lições de moral, como se fosse o homem mais íntegro do mundo. Ele é casado, não respeita a própria esposa e nem a esposa de um oficial que confiou nele.

- Omar não respeita ninguém Aisha. Eu nunca vi homem mais violento e repugnante em minha vida. Ele é acostumado a ter tudo que quer e quando algo não é feito da forma que ele desejou, sempre parte para uma violência extrema. Precisamos ter muito cuidado com ele. Por isso, insisto Aisha, eu tenho que ir. Você não pode ir de maneira nenhuma, pois contra você, ele não terá nenhuma piedade.

- Eu não vou deixar você passar por essa situação estando grávida Lina. Não vou mesmo.

Lina pega nas mãos de Aisha e diz:

- Deixe eu ir Aisha. Ele não vai me matar. Eu tenho certeza disso. Você, depois da afronta, acho que tem grande chances dele acabar com a sua vida.

- Não Lina. Eu vou. Seja o que o magnífico quiser. Farei de tudo para que ele não me pegue, mas se isso acontecer é porque estava no meu destino. Tudo que te peço é que conte para Caivan o que aconteceu se eu estiver morta. Eu quero vingança contra esse homem que está a aterrorizar a nossa vida há meses e a sua há anos. Promete pra mim que independente de qualquer coisa fará isso?

- Eu prometo. Mas, deixe eu ir Aisha. Por favor. Eu tenho mais chances de voltar do que você!

- Você está grávida Lina. Esse homem independentemente de qualquer coisa deve estar com sangue nos olhos, doido para nos castigar de forma extrema. Se ele te pega ele vai querer te machucar e você não pode sofrer pancadas, pois pode perder o seu filho e até morrer. O seu corpo está vulnerável. Eu não estou grávida. Eu suporto! Eu vou voltar. Diz Aisha demonstrando força em seu semblante para passar confiança a Lina.

- Muito obrigada Aisha. Muito obrigada por colocar a sua vida em risco pelo meu filho! Diz Lina a chorar a abraçá-la.

- Ele é meu filho também Lina. E eu te amo muito! Faria qualquer coisa para te proteger.

- Muito obrigada por tanto carinho Aisha. Ninguém nunca havia feito um gesto tão lindo em minha vida para me proteger.

Muito emocionadas elas começam a preparar para a saída de Aisha. A roupa já cobria todo o corpo e o rosto, o que facilitava a seu trânsito por aquelas ruas no escuro. Em meio a guerra aquela energia oscilava e, em partes da noite, algumas daquelas ruas ficavam completamente escuras, especialmente na periferia.

Depois de se cobrir o máximo possível de preto, Aisha se sentiu confiante, se despediu de Lina dizendo:

- Me deseje sorte!

- Boa sorte Aisha. Muito obrigada por tudo! Que o magnífico esteja com você!

- Fique com ele também Lina!

Então Aisha sai por aquela rua escura, enquanto avista o carro de Omar completamente apagado na esquina. Ela se dirige para o outro lado e caminha em direção ao centro comercial do bairro vizinho, a procura da casa do amigo da família que poderia a fornecer o remédio que tanto precisava.

Felizmente o carro de Omar naquele momento estava vazio, pois ele estava em casa a jantar com a sua família. Aquela era apenas mais uma ação de deixar aquele veículo no ponto estratégico para assustar ainda mais aquela família, por achar que estavam a ser vigiadas o tempo inteiro.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora