Casamento forçado e abusivo III

O dia seguinte

Dormir naquela noite não foi nada fácil. Era muito difícil para Aisha encontrar uma posição confortável. Os seus movimentos, por mais simples que fossem, a causavam um incomodo muito grande, por isso ela preferia ficar imóvel.

Em meio a essas dificuldades o que mais suscitava em sua mente era uma raiva dela mesma, por ter saído de uma vida tranquila e estável na Inglaterra e ter retornado ao seu país, mesmo sabendo dos riscos que poderia correr em sua terra natal.

Entre as suas demonstrações de raiva quanto as decisões tomadas por ela, em alguns momentos, surgia uma sensação de que tomou aquelas ações por ter sido enganada por Caivan. Ela não se conformava por ele ter a colocado em tamanho risco. Diante desses pensamentos quanto a ele, Aisha tinha uma certeza, ela jamais teria a mesma relação que teve com Caivan nos dias anteriores. Perdoar alguém que a colocou em tamanho risco seria algo muito difícil. Se tivesse escolha, ela não se casaria com ele nos próximos dias.

Depois de muito tentar encontrar uma posição e tomar mais alguns remédios, ela conseguiu dormir, mas durante a madrugada o que a atormentou foram os pesadelos. Em muitos deles ela parecia sentir a dor daqueles golpes contra as suas costas novamente. Em outras ela sonhava com o seu pai a repreendendo. Ele dizia por muitas vezes: Uma vez rebelde, sempre rebelde não é Aisha. Você não respeita as leis e as tradições, merece sofrer para poder aprender!

Por outro momento, ela sonhou que aquele homem responsável por castigá-la a ameaçava. Amanhã serei muito mais severo com você do que fui hoje Aisha. Hoje foi só para te mostrar o quanto eu posso ser ruim. Amanhã demonstrarei a minha real força contra o seu corpo. Segundos depois, veio a imagem de Osnin a controlar aqueles chicotes e dizendo: Eu não disse que se me tirasse do Conselho Religioso eu iria te matar Aisha. Você não vai suportar. Eu que vou te castigar a partir de agora. Você não vai suportar. Serei implacável no seu castigo. Então, depois de ver Osnin a movimentar aquele chicote, ameaçando bater contra o seu corpo, Aisha acorda do pesadelo, extremamente assustada, dizendo:

- Isso foi muito real!

Ela ascendeu a luz e olhou para o relógio. Eram cinco horas da manhã. Tomou um pouco de água e fez a sua primeira oração do dia. Ainda sentindo dores nos pontos atingidos, ela pegou um espelho para ver como estava o seu corpo. Quando ela começou a ver os ferimentos de suas costas, notou que eram muito similares a quanto foi castigada pelo seu pai, só de que dessa vez pareciam mais profundos e estavam a doer mais.

- Como vou suportar isso pelos próximos dias? Como terei forças para aguentar todo esse sofrimento. Eu não vou suportar. Eu preciso fugir daqui! Disse ela em tom baixo.

As horas foram passando e aquela senhora entrou no quarto e lhe trouxe o primeiro lanche do dia. Enquanto Aisha se alimentava, aquela senhora disse que os homens pediram para que ela ficasse pronta em duas horas, pois, nesse horário viriam buscá-la para a segunda parte da punição.

Naquele instante Aisha perdeu o apetite. Tudo que vinha em sua mente era um medo terrível de ser castigada novamente com tamanha severidade. Ela se recordou de quando o seu pai lhe castigou de forma severa, que no segundo dia foi muito mais terrível do que no primeiro, pois o seu corpo já estava debilitado do dia anterior e isso a trouxe um terror ainda maior.

Com o horário daquela punição se aproximando o seu medo ia aumentando. Ela então trocou de roupa e ficou a esperar aqueles homens, sentindo o seu corpo tremer e seu coração bater mais forte. A sensação que Aisha mais tinha naquele momento era de impotência, pois não tinha como fazer nada para livrar o seu próprio corpo de tamanho sofrimento.

Na hora marcada, os soldados batem na porta e um deles questiona se Aisha estava preparada e se eles poderiam abrir. Ela responde que sim, eles abrem a porta e ela sai acompanhada daqueles dois homens em direção a praça principal daquele vilarejo.