Casamento forçado e abusivo III

Uma corrida contra o tempo

Durante a terça-feira, mesmo muito cansada por não ter conseguido dormir direito, Aisha fazia uma maratona de ligações e troca de mensagens para tentar obter os documentos necessários para retirar Sahar do Afeganistão. Ao mesmo tempo, em sua Ong, muitas outras funcionárias atuavam para retirar outras pessoas que buscavam ajuda para a mesma finalidade.

Depois que Saleh entrou em contato com o amigo, felizmente um dos documentos que autorizava a saída de Sahar foi providenciado pelo governo local, que encontrava-se sobrecarregado, pela demanda de pedidos. Logo Aisha entrou em contato com Sahar, que não atendeu o telefone naquele momento. Então ela ligou para Sônia:

- Um dos importantes documentos que precisávamos, nós conseguimos. Felizmente o governo Afegão autorizou a saída de Sahar. Agora tudo que precismos é de um documento com a aceitação do governo turco para que ela possa entrar no país.

- Acha que isso será possível Aisha? Temo muito pela vida de Sahar. Ela está muito desesperada.

- Eu posso imaginar o quanto ela pode estar a sofrer, pois passei por situações similares em minha vida. Me aperta o coração em ver que alguém tão querido esteja a sofrer tanto. Mas, acho que as perspectivas são positivas. Penso que possamos conseguir sim retirá-la do país, ainda nesse avião da empresa aérea turca que já comprei as passagens.

- As coisas aqui só pioram. Os talibãs estão derrubando a energia o tempo todo para demonstrar força e a fraqueza do governo central. O exército do governo local já está fugindo, antes mesmo de qualquer batalha e muitos homens do governo também estão indo embora enquanto podem. A Capital está uma desordem.

- Eu posso imaginar. Isso é desesperador para todo mundo. É muita instabilidade. E com esse negócio dos voos comerciais serem interrompidos a situação deve ter ficado ainda mais caótica.

- Sem dúvida nenhuma. Muita gente desesperada. Especialmente as jovens. Eu não sei o que será do futuro desse país Aisha. Mas, os meus prognósticos são muito ruins. No passado eu já pensei que o retorno dos talibãs poderia ser algo positivo, em certa medida, para retirar os estrangeiros que dominaram as nossas terras, mas agora que o retorno deles é eminente e está a ameaçar pessoas da minha família, eu reconsiderei esses pensamentos e estou com muito medo do que pode acontecer.

- Eu sinto muito que tudo isso está acontecendo no nosso país. Vou continuar tentando fazer o possível daqui para retirar Sahar do Agenistão.

Aquela ligação não foi muito longa, pois Aisha teve que se despedir para continuar a atuar na tentativa de conseguir os documentos necessários para a saída de Sahar o mais rápido possível daquele país.

Diante de toda essa corrida, aquele dia passou muito rápido e o dia seguinte seria decisivo. Se Sahar conseguisse o documento necessário, teria autorização para embarcar no voo, se não teria que ficar no país e tentar sair de uma outra forma que não fosse o voo comercial, algo que lhe traria um risco ainda maior. Toda aquela situação poderia ficar desesperadora demais para aquela jovem e Aisha temia que ela não suportasse tudo aquilo e viesse a se entregar para alguma doença ou tentar em uma situação de desespero outra saída ainda mais triste.

A quarta-feira amanhece em Cabul e Sahar passou aquela noite em claro. Ela sabia que aquele dia era decisivo para o seu destino. Se embarcasse naquele avião, ela poderia viver a liberdade relativa que havia preservado durante aquele tempo em que o país foi governado pelo presidente. Se não conseguisse, poderia cair nas mãos dos talibãs e o seu destino seria completamente imprevisível.

Com muita fé ela fez a sua primeira oração do dia. Logo em seguida foi para a cozinha daquela casa e cumprimentou Alexsander, que não iria para o trabalho, pois ficaria à disposição da irmã para caso ela precisasse de um deslocamento urgente. Como ele era um ótimo profissional o seu patrão o autorizou a faltar naquele dia importante para a sua família.