Casamento forçado e abusivo III

O início da tentativa de repatriação

No dia seguinte a conversa que teve com Lina, Aisha foi para a Ong e começou os trabalhos para tentar providenciar a documentação necessária para trazer a sua grande amiga para a França onde era a sua terra natal. Ela estava com uma expectativa muito grande de que aqueles documentos saíssem rápido e elas pudessem se encontrar nos próximos dias.

Assim que montou o processo, ela enviou os documentos para uma filial da sua Ong em Paris, para que pudessem ser apresentados a autoridade competente que faria a análise e liberaria os documentos necessários para que Lina pudesse finalmente retornar ao país.

Durante aqueles dias Aisha conversava com Lina pelo telefone e ambas relatavam as suas expectativas quanto ao retorno dela para a França, onde poderiam se encontrar novamente. Durante aqueles diálogos, curtos, pois aquele telefone organizacional não podia ser usado por muito tempo, já que pertencia a um campo de refugiados, Lina contou que tinha três filhos atualmente, dois deles, meninos e eram de Caivan e uma menina do terceiro esposo que teve.

Aisha a questionou se ela havia morado na cidade de Deir Ezzor, pois tinha recebido notícias de uma profissional que recebia recursos de sua Ong de que havia uma Lina com as mesmas características dela que morou naquela cidade, pouco depois da queda de Raqqa, e Lina respondeu que sim. Que era ela mesma que havia conversado com uma senhora que trabalhava para um órgão de Assistência. Certamente aquela senhora havia falado dela, quando indicou para Aisha que uma senhora com as suas características viveu naquela cidade até que ela foi dominada pelos exércitos contrários ao EI e ela ficou presa com os filhos durante muitos meses, até que foi libertada da prisão, após a morte do terceiro marido, e em seguida foi parar naquele campo de refugiados.

Após aproximadamente um mês na expectativa de alguma resposta quanto ao processo, no final do mês de fevereiro de 2022 a filial da Ong de Aisha recebeu a resposta de que o pedido de repatriação de Lina havia sido negado. Que ela não tinha mais cidadania Francesa por ter saído do país para se juntar a um grupo terrorista. Aquela resposta deixou Aisha em um primeiro momento desnorteada, mas logo em seguida, aquela sensação, se tornou uma fúria enorme, devido a injustiça que estava sendo cometida por aquele governo.

Muito revoltada, imediatamente ela foi até a casa de seu pai para desabafar um pouco:

- Recebi a resposta do pedido de retorno de Lina pai. Acredita que o governo Francês não autorizou o retorno dela?

- Porque minha filha?

- Disseram que ela não é mais cidadã francesa, porque fugiu do país para se juntar ao EI.

- Infelizmente isso está acontecendo em muitos países da Europa minha filha. Não sei se você ficou sabendo, mas aconteceu também aqui no Reino Unido uma situação muito similar com a Shamima Begum.

- Eu já ouvi falar do caso de Shamima e eles até pediram ajuda da minha Ong. Tenho acompanhado o caso dela, mas não imaginei que isso fosse acontecer também com Lina. Ambas saíram do país ainda adolescentes meu pai. Isso é um completo absurdo o que os países da Europa estão fazendo com essas jovens.

- Eu concordo com você minha filha. Mas, eles estão dizendo que isso é uma questão de segurança nacional. Espero muito que ela consiga o direito de ter a cidadania britânica reestabelecida, assim como espero que Lina consiga a cidadania francesa. Mas, digo a você que essa não será uma luta fácil. Há um preconceito muito grande contra o povo de sua religião aqui na Europa e como elas fizeram parte de um grupo extremista, que fez atentados nos países europeus esse preconceito é ainda maior. Eu vou ser sincero, não crie muita expectativa quanto a essa situação de Lina, pois pode ser que ela nunca mais consiga retornar para a Europa.

- Não pode ser meu pai. Isso é muito injusto. Ela tinha apenas 16 anos quando foi pra lá. Como alguém pode julgar alguém por uma ação que tomou com tão baixa idade? Lina não pode ser impedida de voltar para casa e voltar para a sua família.