Aisha caminha por aquelas ruas demonstrando receio de ser vista pelas pessoas que ali transitavam. Naquele horário haviam pouquíssimas pessoas na rua e todos eles eram homens, já que era expressamente proibido mulheres transitarem durante a noite, especialmente se estivessem sozinhas.
As pessoas que a viam passar se assustavam, não entendiam o porque aquela mulher estava a descumprir uma regra explicita do regime, podendo ser punida, caso fosse presa.
Ela andava rapidamente pelas ruas, tremendo de tanta adrenalina, quando depois de alguns minutos a caminhar, finalmente, chega na casa daquele senhor. Aisha bate na porta e aquele homem, por ser uma espécie de médico prático especialista também em farmácia, acostumado a receber pessoas durante a noite e madrugada por problemas de saúde emergencial, abre a porta.
O que ele não esperava é que fosse uma mulher que estivesse a chamá-lo. Assustado ele questiona:
- Senhora, o que está a fazer aqui? Não sabe que é proibido andar nas ruas a essa hora?
- Senhor, eu sou Aisha, esposa de seu amigo Caivan. É uma situação de vida ou morte.
Então aquele senhor a chama para entrar, mesmo sabendo que isso era proibido pelo regime. Aisha explica a situação e o porque estava a assumir todos aqueles riscos. Após questionar o que aquele bebê tinha e como começou os sintomas e ela o explicar, ele pegou três remédios e passou para Aisha dizendo:
- Ele tomando esses remédios de forma intercalada de seis em seis horas, vai melhorar.
- Tem certeza doutor?
- Amanhã durante a manhã eu passo lá para ver se precisam de mais alguma coisa. Hoje é que eu não posso te acompanhar, porque se formos pegos, podemos ser condenados por adultério e mortos pelo regime.
- Sim senhor. Eu entendo. Passarei para ele esses remédios. Espero o senhor lá amanhã pela manhã. Muito obrigada. Está aqui o pagamento. Diz Aisha a entregar o dinheiro para aquele profissional.
- Tome muito cuidado senhora. Se te pegam na rua a essa hora, a senhora está perdida. Por favor, não diga que comprou os remédios esse horário na minha farmácia, eles me matam se a senhora disser isso.
- Não se preocupe senhor. Jamais direi, caso me peguem, onde consegui esses remédios.
Então Aisha parte em direção a sua casa, passando pelas mesmas ruas escuras em que caminhou até chegar a aquela região de comércio. Nesse horário, nem homens eram mais encontrados nas vias, pois o toque de recolher era total.
Ao constatar que estava sozinha, vulnerável, o desespero começou a tomar conta de seus pensamentos. Aquelas sensações horríveis de ansiedade que da última vez que havia tido foi na adolescência, antes dos seus tratamentos psicológicos, começam a retornar. Ela estava a sentir sintomas de síndrome do Pânico, algo que ela sabia que a paralisava. O problema é que tudo que ela não poderia fazer naquele momento era paralisar. Aisha ficaria muito vulnerável se não conseguisse continuar caminhando para casa naquele momento.
Com um medo extremo, a sua respiração ficou ofegante. O seu corpo começou a adormecer. Ela, segundos depois, após dar mais alguns passos, caiu no chão. Quanto mais o tempo passava mais o seu desespero aumentava. Ela não conseguia mais controlar a sua mente e seu corpo. Não conseguia mais nem se levantar. Aquele medo terrível havia a vencido. Aquela relação de poder foi mais forte que ela. A sua mente estava perdida.
Naquele instante, Caivan estava a descansar de um dia de longas batalhas no fronte, quando por um momento, enquanto conversava com um de seus amigos, sentiu um forte arrepio no corpo e seus pensamentos foram diretamente para Aisha.
Assustado com a reação inesperada de Caivan o seu amigo o questionou:
- O que aconteceu Caivan, ficou estranho de uma hora para outra?
- Não sei bem, mas tenho o pressentimento de que algo de ruim possa ter acontecido.
- Eu heim Caivan. Virou profeta agora? Questionou aquele soldado a sorrir.
- É sério. Em minha mente logo veio a lembrança da minha esposa. Temo que algo de muito sério tenha ocorrido com ela. O problema é que não tenho nem como contactá-la.
- Não é nada não Caivan. Deve ser apenas impressão sua.
- Tomara que seja amigo.
Enquanto isso, naquela rua escura, Aisha estava caída no chão, sentindo o seu corpo a tremer, totalmente dormente e incontrolável, sem conseguir se mover daquela calçada. A reação do seu corpo diante daquela ansiedade terrível, a levando a essa crise extrema, estava a te tirar qualquer possibilidade de agir conforme estava em seu planejamento, a deixando completamente vulnerável naquelas ruas, podendo ser presa a qualquer momento pelos soldados que andavam constantemente sobre as caminhonetes naquelas vias durante o toque de recolher.
Por alguns minutos, Caivan ficou extremamente inquieto, pensando em como poderia retornar o mais rápido possível para casa, pois pressentia que alguma coisa estava a ocorrer com alguém de sua família. O que ele não imaginava era que todos de sua casa estavam a correr algum tipo de risco. O seu filho estava doente e com febres incontroláveis há alguns dias. Lina estava também ameaçada por Omar e sua segunda esposa estava fora de casa em um horário completamente proibido, caída no chão, devido a ansiedade e podendo ser abordada a qualquer momento por policiais que transitavam naquela rua ou pelo chefe de polícia o que fatalmente a levaria a uma situação de vulnerabilidade terrível.
Em um desses momentos de desespero ele se abriu para o seu amigo confidente:
- Eu sinto que preciso retornar para casa o mais rápido possível. Já fazem muitos meses que estou fora e as coisas não estavam fáceis quando saímos da Capital. Com as dificuldades do regime tudo deve estar pior e temo muito pela minha família!
- Acalme-se amigo. Não está acontecendo nada demais. As suas esposas e seu filho estão bem. Eu também tenho esses sentimentos de vez enquanto, especialmente quando já faz muito tempo que estou fora. Fique calmo e mantenha a cabeça no lugar, pois amanhã teremos importantes confrontos no campo de batalha e precisamos de sua liderança para vencer e voltarmos para casa.
- Tomara que você esteja com razão. Precisamos mesmo descansar que hoje foi um dia difícil. Muito obrigado pelo apoio amigo. Diz Caivan antes de ir se deitar naquele acampamento militar.
Mas, por mais que ele tentasse dormir no começo daquela noite, estava difícil, tudo que vinha em sua mente era o rosto de sua esposa, como se ela estivesse a pedir ajuda e em perigo. Então Caivan rezou para que tudo estivesse e continuassem bem com a sua família, prometendo que daria o máximo de si para que aqueles combates fossem vencidos e ele e os seus demais companheiros pudessem rever as suas famílias o mais breve possível.
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Casamento forçado e abusivo III
Misterio / SuspensoDepois de visitar o seu país de origem e encontrar com o grande amor de sua infância Aisha tenta retornar para a Inglaterra, mas algo acontece no aeroporto e o seu destino se torna um mistério. Acompanhe a terceira a última parte dessa obra e descub...