As noites seguintes

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Aisha fica com um semblante perplexo depois da fala de Lina. Ela já imaginava o que provavelmente havia ocorrido depois, mas queria saber o que aconteceu naquela noite e questionou:

- E o que aconteceu com a sua amiga Miray?

- A vida da minha amiga se transformou em um terror absoluto e eu pude acompanhar tudo.

- Como assim acompanhar tudo Lina? Eu não entendo. Questionou Aisha demonstrando perplexidade em seu semblante.

- Eles me mantiveram naquele quarto até o meu casamento, mas, o quarto ao lado era o que pertencia a minha amiga e aqueles soldados o usavam para abusá-la. Afirma Lina quando novas lágrimas começam a cair dos seus olhos. Em seguida ela continua o relato: - Naquela noite, eu escutei tudo o que aconteceu com ela Aisha e até hoje eu não consigo retirar aqueles sons da minha mente. Tenho pesadelos com eles o tempo todo. Diz Lina a tremer a sua voz e seu corpo de forma ainda mais perceptível.

Aisha sente o seu desespero e a abraça novamente. Quando em seguida diz:

- Lina, se estiver muito pesado, podemos parar por aqui. Acho que já posso imaginar o que aconteceu.

- Acho que preciso mesmo é desabafar com alguém que me compreenda Aisha. Isso pode ficar mais leve se conseguir colocar tudo para fora. Mas, temo que isso te aterrorize também.

- Eu sou forte Lina. Já tive que enfrentar muitas coisas nessa vida. Isso vai nos fortalecendo. Se for para te ajudar, estou aqui. Sou todo ouvidos.

Então Lina retoma o seu relato, após se recompor um pouco mais:

- O que mais me desesperou ao escutar a porta se abrir pela primeira vez foi a lembrança de que Miray era virgem. Eu estava do outro lado da parede, mas podia imaginar o que ela estava a sentir. Aquele homem ordenou que ela se despisse. Foi quando ela começou a chorar de forma mais extrema. Eu tentava rezar por ela, fazer algo que pudesse confortá-la e me confortar também. Mas, era impossível. Por um momento notei que ela tentou correr daquele homem, foi quando ele a pegou a começou a despi-la a força, regado a muita violência. Lina gritava muito e chorava de forma extrema, mas aquele homem parecia não ter nenhuma compaixão. Ele parecia um animal. Eu nunca imaginei que um homem pudesse ser capaz de tomar atitudes tão terríveis contra outro ser humano. Foi aterrorizante demais. É aterrorizante demais para mim até hoje. Eu não quero nem imaginar como foi sentir aquilo para ela. Diz Lina a ficar em um silêncio profundo por algum tempo, enquanto lágrimas saía de seus olhos e Aisha a mantinha abraçada tentando de alguma forma confortá-la, mesmo sabendo que diante daquele relato isso era impossível.

Depois de algum tempo, Aisha disse:

- Eu sinto muito que você tenha passado por tudo isso Lina. Sinto muito também que sua amiga tenha passado por todo esse terror. E eu que imaginava que tinha a pior vida do mundo. Não sei nem uma parte da realidade de outras pessoas nesse mundo! Afirma Aisha quando lágrimas também descem sobre as suas bochechas.

- E aquilo continuou Aisha durante toda aquela noite. Eu não consegui dormir. Fiquei acompanhando a minha amiga para tentar lhe dar forças de alguma forma. Depois de algum tempo, senti que ela nem reagia mais. Estava em estado de choque, pois, por mais que aqueles animais esboçavam reações, ela se mantinha em completo silêncio. Aquela porta se abriu e fechou por dezenas de vezes durante a madrugada. Eu não sei como Miray suportou aquela noite.

- Eu sinto muito Lina. Sinto muito mesmo que você e ela tenham passado por esse terror todo.

Quando o dia amanheceu eu notei que eles pararam e então o meu coração ficou um pouco menos aterrorizado. Tudo que eu queria era que minha melhor amiga estivesse, na medida do possível, descansando, pelo menos um pouco.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora