Casamento forçado e abusivo III

O contato com Saleh

Depois de ouvir aquelas falas de sua mãe Loren se acalmou um pouco. Alguns minutos depois o seu pai saiu do banheiro e a abraçou dizendo em seguida:

- Você não tem culpa de nada minha filha. Me desculpe pelo que eu disse. Eu sei que você estava com medo e assustada assim como Aisha estava. Eu entendo vocês. Não se preocupem com o que aconteceu. O importante é definirmos o que vamos fazer daqui pra frente. Temos duas pessoas suspeitas no momento, Caivan e Sarwar. Temos que saber se eles podem estar envolvidos no desaparecimento da sua irmã.

- Eu conversei com Saleh assim que Aisha me contou toda essa história pai. E ele me disse que não acreditava que o pai dele teria coragem de fazer algo assim. Sarwar é muito esperto e sabe que o senhor é um importante oficial de um exército aliado. Na visão dele, o pai dele, no governo do Afeganistão, não faria algo tão perigoso, podendo afetar a relação com um país aliado. Esse foi outro fator que me deixou mais tranquila e que me fez pensar um pouco sobre a necessidade de falar isso para o senhor.

- Tem um certo fundamento essa fala de Saleh. Sarwar é uma pessoa importante no governo afegão. Não ficaria bem para ele atacar a filha de um oficial inglês. Ele não está de tudo errado. Mas, tem uma coisa que ele pode não ter levado em consideração. A honra no Afeganistão é uma das coisas mais importantes para as famílias tradicionais. Quando ele não se casou com a pessoa prometida, o pai dele, em certa medida, tem o direito de fazer uma ação para salvar a honra da família e talvez ele tenha assustado Aisha para que ela não se casasse com Saleh. Pois caso a união dos dois ocorresse, isso seria um escândalo muito grande, se essa informação chegasse no Afeganistão, algo que poderia manchar a sua reputação e de toda a sua família.

- Outra coisa que também me deixou em dúvidas se isso ocorreu realmente é que Aisha não tinha nenhuma prova de sua ocorrência. E o senhor se lembra que quando ela chegou do Afeganistão teve muitas visões de que estava a ser perseguida pelo ex-marido. Os médicos disseram que essas visões dela poderiam vir e voltar. Depois da minha conversa com Saleh, eu tive dúvidas se aquilo que Aisha havia me relatado era verdadeiro ou algo criado na imaginação dela. Por isso também não contei nada.

- Agora está ficando mais claro os seus motivos minha filha. Eu entendo a sua preocupação em não nos alarmar. Ela te disse algo que poderia nos levar a descobrir se essa informação repassada por ela era verdadeira ou algo criado na imaginação dela?

- Eu questionei isso a ela na época. Ela me disse que uma Van havia pego ela no lugar do táxi naquela data e a levou para um cativeiro. Leram para ela textos trocados entre ela e Caivan, informaram que estavam a hackear o computador dela e que sabiam de tudo. Depois, chegaram a dar um tiro em uma parede daquele local para aterrorizá-la e em seguida a deixaram em uma estrada próximo ao seu bairro.

- Eu preciso ter acesso ao computador de Aisha. Por ele talvez tenhamos um indício disso. Se o computador dela foi mesmo hackeado, pode ser um indício de que isso pode efetivamente ter ocorrido. Como já tem muito tempo, não vamos encontrar imagens de câmaras de segurança para essa comprovação. É um pouco difícil investigar algo depois de tanto tempo. Porque não procuraram a polícia na época, pelo menos para buscar imagens nas câmaras de segurança?

- Aisha estava aterrorizada meu pai. Depois disso ela não teve mais coragem de falar com Saleh. Ela só encontrou com ele aquele dia que o trouxe aqui em casa e ficou extremamente contrariada por eu ter feito aquele encontro, pois, ela imaginava que o simples fato dele estar aqui colocava todos nós em risco. Ela disse que aqueles homens afirmaram que se ela contasse a você ou a polícia, eles matariam uma a uma das pessoas que ela mais amava. Aisha ficou horrorizada.

- Eu posso imaginar como ela ficou. Sempre tão cuidadosa com a família. E você minha filha? Você que viu ela relatar, acha que isso aconteceu ou não?