Casamento forçado e abusivo III

A carta

Na casa de Caivan, as suas esposas, por dias sem qualquer notícia dele e da possível recuperação de Omar, estavam muito preocupadas. A ansiedade de ambas aumentava a cada instante. O grande problema é que elas não tinham nada que pudessem fazer para modificar o cenário ou buscar novas informações, pois até sair na rua para tentar visitar o marido era algo muito arriscado.

Aisha era a que ficava mais preocupada, pois sabia que a sua situação, diante dos acontecimentos dos dias anteriores, era mais delicada do que a de Lina. Na hipótese de morte de Omar e uma condenação de Caivan a morte, de forma indireta, isso poderia significar uma condenação para ela também. Sem o esposo ela estaria completamente vulnerável nas mãos da família de Omar, que tendia a ser tão vingativa e violenta quanto ele.

Depois de refletir sobre essa situação por dias, muito angustiada ela foi se abrir com Lina:

- Com certeza eles vão querer me matar da pior forma possível Lina. Caivan não pode morrer de jeito nenhum, senão eu estou perdida!

Lina ficou muito preocupada com a vulnerabilidade que Aisha apresentava em seu semblante. Era uma situação tão complicada, que ela não sabia muito bem o que responder, pois ela também imaginava que os pensamentos dela estavam corretos. Mas, para tentar acalmá-la ela disse:

- Vai ficar tudo bem Aisha. Pare de pensar um pouco nisso! Omar vai se recuperar e Caivan vai ficar bem.

Depois de ouvir a fala de Lina, ela tentou mudar os seus pensamentos e acalmar um pouco. Entretanto, depois de alguns minutos, esses pensamentos e o medo logo retornavam a sua mente. A sua ansiedade estava a ficar tão intensa que aqueles pensamentos estavam a afetar o seu sono, a sua vontade de se alimentar e o seu raciocínio. Novamente, ela começou a tomar alguns calmantes que tinha em casa para controle da ansiedade, mas nem eles estavam a fazer o efeito desejado.

No quinto dia de prisão, alguém bateu no portão e deixou uma carta debaixo da porta. Era uma mensagem de Caivan.

Aisha pegou aquela carta e chamou Lina para a sala, se sentaram e começaram a ler:

Raqqa, 18 de dezembro de 2016

Aisha e Lina,

Espero que vocês estejam bem e com saúde enquanto leem essa mensagem. Para tranquilizar um pouco vocês, informo que estou bem e estou sendo bem tratado na prisão. Eles têm me alimentado e me tratado com muito respeito. As minhas conquistas militares de alguma forma me trazem alguns benefícios aqui na prisão.

Recebi notícias de Omar e infelizmente ele não tem melhorado o seu estado de saúde. Continua em coma induzido e os médicos estão esperando a situação cerebral dele melhorar um pouco para retirar os sedativos para ver se ele volta ao normal. Estou muito preocupado com a situação dele, não era para ter sido tão violento, mas infelizmente perdi a cabeça naquele contexto que contei a vocês.

O meu comandante disse que está a fazer tudo que é possível para convencer os militares, chefes religiosos e juízes que a minha libertação é o melhor caminho para o regime. Que eles estão precisando muito de mim nas frentes de batalha. Chegaram a enviar uma carta assinada por todos os membros do meu destacamento pedindo a minha libertação.

Entretanto, os poderosos do regime ainda estão irredutíveis, disseram que só vão me julgar quando souberem a real situação de saúde de Omar. Tenho expectativas de que se Omar se recuperar totalmente, eles vão me libertar, mas se ele tiver alguma sequela, pode ser que seja condenado. Caso ele morra é quase certo que eles vão me condenar também a morte.

Se isso acontecer, atentem as minhas recomendações dadas antes de ser levado. Não posso dar muitos detalhes do que penso, pois essa carta pode ser lida por alguém antes de chegar até vocês. Mas, vocês já sabem, pois disse a vocês o que penso a respeito da situação, caso eu não esteja mais aqui para protegê-las.