Os primeiros dias sem Caivan

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Nos primeiros dias de ausência de Caivan tudo estava a correr bem naquela casa. Aisha e Lina tinham uma cumplicidade muito grande e como a gravidez estava a ficar avançada, a primeira esposa estava a repousar mais para poder descansar, pois a sua barriga se encontrava muito grande e pesada.

Lina tinha passado muito mal nos primeiros meses de gravidez, mas felizmente depois de algum tempo o seu organismo parece ter se estabilizado e os incômodos diminuíram. Apenas as mudanças do seu corpo a incomodavam mais, pois ela sentia muito desconforto para dormir e para caminhar com os pés inchados.

No terceiro dia que estavam em casa, Omar apareceu pela primeira para visitá-las e Aisha, depois de vestir roupas apropriadas o atendeu, quando ele disse:

- Está tudo bem nessa casa? Caivan pediu para que eu viesse aqui quando possível para ver se estava tudo bem?

- Tudo muito bem por aqui senhor Omar. Respondeu Aisha, quando ele disse quase a interrompendo e caminhando para dentro do lote.

- Lina está lá dentro? Questionou ele já acessando os espaços daquela casa. Aisha não teve tempo de fazer mais nada a não ser fechar o portão e acompanhá-lo.

Ao entrar ele viu que Lina estava sentada no sofá e então questionou:

- Está tudo bem com vocês?

- Está tudo bem sim senhor. E como vai a sua família?

- Certamente melhor do que essa. A minha família tem comando, as pessoas fazem aquilo que nós chefes de família ordenamos. Aqui as mulheres parecem que querem escolher o que fazer. Afirmou aquele homem com um semblante fechado. Então ele se sentou em frente a Lina de forma ameaçadora, quando Aisha se sentou ao lado dela e começou a encará-lo.

Quando ele continuou a sua fala em tom intimidador:

- Fiquei sabendo que você pediu ao seu marido para não ir para a minha casa. Me senti extremamente ofendido. Tem algo lá que você não gostou enquanto esteve lá Lina?

Naquele instante o sangue de Aisha ferveu e ela interviu:

- A pessoa que informou ao senhor está muito mal informado. Não foi Lina que pediu para não ir a sua casa. Fui eu que pedi ao meu marido que nos deixasse aqui.

- Ninguém aqui está te chamando na conversa Ocidental enxerida.

- Mais respeito com a minha pessoa senhor Omar, o senhor está na minha casa.

- Eu dou respeito a quem me respeita, respeita a minha casa e as regras religiosas da nossa região. Vocês não sabem o escândalo que vocês estão causando na cidade por essa insolência que só poderiam ser causadas por mulheres Ocidentais que não respeitam as regras e um marido que não consegue controlá-las.

- Eu não vou ficar aqui ouvindo insultos do senhor dentro da minha própria casa.

- E o que vai fazer? Levanta aquele homem, caminhando em direção a Aisha de forma ameaçadora.

Assustada, ela começa a empalidecer e se sentir pela primeira vez com a sua integridade física ameaçada. Nesse instante, ao ver que os dois estavam exaltados, Lina intervém:

- Senhor, por favor. Não precisa ficar chateado com Aisha dessa forma. Ela ainda está aprendendo sobre a nossa cultura e a forma de agir perante as situações. Para ela é normal que fiquemos em casa sem a companhia do marido. Antes de vir para cá, para mim também era.

- É por isso que eu odeio mulheres Ocidentais. Acham tudo normal. Acho que você ainda precisa aprender muito sobre a nossa cultura senhora Aisha. E eu terei o prazer de te ensinar em momento oportuno, caso quebre mais alguma de nossas regras. Afirma novamente aquele policial em tom ainda mais ameaçador.

Aisha engole seco, notando a força daquela relação de poder existente e totalmente desfavorável a ela naquele contexto, mas certa de si, diz:

- Eu vou tentar aprender ao máximo com o meu marido as regras desse lugar senhor. Penso que nem ele e nem a nossa família precisa de qualquer intervenção externa que não seja a do comandante geral do exército que autorizou que ele nos deixasse aqui. Além do mais, eu penso que Caivan precisará saber dessa sua visita e do que estamos conversando aqui. Afinal de contas o senhor está a dizer que ele não está a cumprir as regras religiosas locais.

Aquele homem se levanta da cadeira, se movimenta em direção a Aisha rapidamente e aperta a sua garganta dizendo:

- Está me ameaçando senhora Aisha?

Sem conseguir dizer nada, já sentindo falta de ar, ela fica desesperada, quando Lina, toca o braço daquele homem e suplica:

- Senhor, por favor. Aisha não sabe o que está a dizer. Perdoe ela, por favor.

Ele continua a pressionar a garganta de Aisha, causando um desespero enorme naquelas duas mulheres, quando Lina insiste:

- Por favor senhor, tenha clemência. Aisha está a ficar sem ar.

Então ele folga um pouco a sua mão e Aisha começa a tossir tentando recuperar o ar. Quando aquele homem furioso diz:

- Eu não gostei nada dessa sua fala ameaçadora. Conte para o seu marido o que eu disse e isso certamente chegará aos meus ouvidos. Verá o que faço com você quando ele tiver que se ausentar novamente. Você está nas minhas mãos e ainda estará mais nela um dia, Aisha. Daí eu vou te mostrar quem é que manda nessas terras e que deve respeitar os homens, algo que penso que não aprendeu enquanto esteve a morar no Ocidente e nem agora enquanto está a morar com o seu marido. Se eu quiser matar vocês duas aqui agora, ninguém nem vai saber o que aconteceu, já que vocês mesmas pediram para tirar a segurança que por ventura pudessem receber de um homem.

Tudo que Aisha faz é engolir seco novamente. Ela não teve coragem de responder nada, pois em certa medida, aquele homem havia feito uma ameaça direta contra as suas vidas.

Após essa fala, Omar se saiu furioso daquela casa e bateu o portão. Naquele instante o seu coração batia tão forte e o seu nervosismo era tão grande que tudo que ela conseguiu fazer foi chorar. O seu corpo tremia extremamente e Lina sentiu isso ao abraçá-la.

- É como te disse Aisha, não é bom afrontar os homens dessa terra.

- Pois eu vou continuar afrontando Lina. Enfrentar esse homem, de hoje em diante para mim é uma questão de honra. Eu vou colocar ele no seu devido lugar. Há se vou.

- Aisha, não faça isso por favor. Você é o elo mais vulnerável dessa história sempre. Não conte para Osnin o que aconteceu, pois em uma próxima oportunidade ele pode fazer muito pior. Eu também já fui ameaçada por algumas vezes, ele disse que a vida de Osnin pode ser ameaçada por ele também, já que Omar é de uma família muito influente do Estado Islâmico. Temos que ter muito cuidado para nos proteger e proteger também o nosso marido. Afirma Lina com o semblante assustado.

- Eu cansei de ser subjugada Lina. Eu cansei de ser humilhada. Agora eu vou mostrar pra esses homens do que sou capaz. Afirmou Aisha demonstrando uma revolta muito grande em seu olhar.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora