Casamento forçado e abusivo III

A afronta

Naquele ambiente da Síria não era permitido que as mulheres saíssem de casa na parte da noite. Era recomendado que todas as pessoas fizessem uma espécie de toque de recolher, mas para as mulheres aquelas regras eram muito mais restritivas e punitivas, especialmente, quando elas não estavam acompanhadas de um homem.

Omar ainda não estava satisfeito com as ações de Aisha e Lina em se recusar a ir para a sua casa e imaginava que elas teriam que sair em breve para poderem fazer compras na cidade, momento ideal para ele poder fiscalizar se elas estavam andando nas ruas de acordo com as regras daquele regime.

Por esse motivo, ele começou a passar com o seu carro constantemente em frente a casa delas, pois, em sua mente, queria ter a oportunidade de deixá-las em uma situação vulnerável para que entendessem a importância da recomendação, não aceita, de terem um homem em casa para estarem mais protegidas ou ficarem, enquanto o marido estava fora, na casa de uma família que tivesse homens para fazerem esse papel.

Após alguns dias a fazer rondas naquela região, ele notou Lina a conversar com outras mulheres que vinham pedir ajuda, algo que não era recomendável por aquela cultura, mas se tratava de uma falta menos grave. Afinal de contas, ela naquele momento em que foi avistada estava conversando com uma mulher.

A medida que Mohamed foi crescendo, as suas roupas foram ficando pequenas e haviam muitas mulheres necessitadas naquela região. Ela até pensou em deixar aquelas roupinhas para o seu bebê que iria nascer, mas, eram tantas, pois Caivan tinha uma condição social melhor, que ela resolveu doar parte daquelas roupas para uma família pobre de um bairro vizinho.

Omar estava tão obcecado e com o ego ferido por aquela decisão tomada por Caivan e suas esposas, que começou a ficar próximo a aquela casa a vigiar tudo o que ocorria ali por várias horas do dia e, até mesmo durante a noite, buscando algum equívoco tomado por elas para prendê-las e demonstrar quem mandava naquela cidade.

Foi quando em uma dessas noites, um homem bateu naquela porta acompanhado de uma mulher. Omar ficou atento a observar o que estava a acontecer. Então Lina os atendeu e saiu com uma sacola grande de algo que ele não conseguiu identificar o que era. Ela ficou ao lado de fora daquele espaço por algum tempo a conversar, isso já não era permitido.

Então Omar levantou e saiu do carro rapidamente em direção ao ponto em que aquele grupo de pessoas conversava. Ao ver que alguém estava a se aproximar, aquele homem e aquela mulher se despediram de Lina. Nesse instante Omar se identificou, ordenando que todos ficassem onde estavam:

- Eu sou Omar, o chefe de polícia, fiquem onde estão.

Lina parou por um momento sentindo um medo extremo. Aquele casal também parou em frente aquela casa conforme ordenado e colocaram aquela sacola no chão para não levantar suspeitas de que pudessem estar armados.

Logo Omar pegou aquela sacola e viu que tinham apenas roupas de bebê dentro delas. Questionou a aquele casal quem eram e ao saber que eles não tinham antecedentes criminais, pediu que eles fossem embora, dizendo que estava tudo bem.

Eles saíram preocupados com Lina, mas não tinham como fazer nenhuma ação para ajudá-la. Depois dessa ordem só restou a aquele casal sair daquele local rapidamente, com medo de serem presos por terem desrespeitado alguma das Leis do regime que estavam a ficar cada vez mais restritivas e complexas. Alguns militares até inventavam Leis que nem existiam para punir pessoas quando isso era de seus interesses, o que aterrorizava ainda mais aquele povo, especialmente, os mais pobres que eram os mas vulneráveis.

Após a partida daquele casal, Lina já estava a sentir todo o seu corpo tremer, de tanto medo. Ao ver que não tinha como se proteger daquela situação, ela resolveu tentar demonstrar que não havia ocorrido nada de errado: