A tentativa de convencimento

67 11 0
                                    

No outro dia pela manhã, Caivan voltou a aquele assunto na hora do primeiro lanche do dia:

- Aisha e Lina eu preciso que vocês vão para a casa de Omar, pois preciso ir para o campo de batalha no decorrer dessa semana.

- Eu já disse ontem que não vou Caivan. Responde Aisha de forma ríspida.

Lina se assusta com a reação de Aisha, quando Caivan responde:

- Aisha, você não pode ficar aqui sozinha. Isso é proibido. Lina, diga para Aisha que foi boa a sua estadia na casa de Omar.

Lina fica acanhada sem saber o que fazer. Ela sabia que a vida naquela casa havia sito muito ruim, mas não queria contrariar o esposo. E então diz, tentando amenizar o clima naquela casa e não contrariar nenhum dos dois:

- A estadia lá não é muito ruim, mas se tivesse outro jeito eu preferiria ficar na nossa casa.

- Ta vendo Caivan. Lina concorda comigo. Nós vamos ficar aqui. Diz Aisha rapidamente para demonstrar a união de opiniões entre as duas.

- Eu não vou deixar vocês duas nessa casa sozinha Aisha. Isso é muito perigoso. Lina está grávida e estamos em tempos de guerra. Vocês não podem ficar aqui sem nenhuma proteção.

- Eu não vou para a casa de ninguém Caivan. E não me obrigue a fazer isso, pois na primeira oportunidade que tiver eu vou fugir para casa e isso vai afetar ainda mais a sua reputação.

- Você não faria uma coisa dessas.

- Posso provar que faria e farei. Ou você nos deixa aqui, ou terá que lidar com a sociedade com relação o meu retorno para casa, na melhor das hipóteses, na pior delas, eu retorno para a Inglaterra de vez. Afirma Aisha demonstrando sinceridade na sua fala.

- Não seja cabeça dura Aisha. É impossível você sair daqui para a Inglaterra.

- Não há como dizer que algo é impossível sem ter tentado Caivan. Eu estou te dizendo, não ficarei naquela casa pacificamente. Você decide o que faz. Deixa eu e Lina aqui e tenta justificar para os seus comandantes e o povo dessa cidade que nós duas podemos cuidar uma da outras, ou nos leva para lá e terá que lidar com o povo para explicar sobre a minha fuga, pois é isso que vai acontecer. Não medirei esforços para sumir dessa cidade se você não atender esse meu desejo de ficar na minha própria casa. Reafirma ela demonstrando uma firmeza impressionante em sua fala.

Caivan fica perplexo com a insistência de Aisha. Ele sabia que ela havia ficado muito teimosa depois que foi para o Ocidente, mas não imaginava que ela iria o ameaçar a tomar uma ação tão drástica depois de tudo que passou naquela cidade do Afeganistão. Temendo não conseguir controlá-la, ele questiona para Lina:

- O que você acha disso Lina?

- Disso o que meu marido?

- Da proposta de Aisha de vocês ficarem juntas em casa, mesmo sendo contra as regras culturais locais?

- Eu vejo que tem muitos homens na guerra e com mulheres em casa sozinhas para cuidar de seus filhos e ninguém diz nada a respeito, porque eles não tem grande poder aquisitivo e não tem alta patente senhor. Acho que as regras devem ser para todos. E nessa regra específica, não vejo nenhum sentido nela. Se o senhor concordar, podemos ficar juntas em casa enquanto está fora.

- Até você está contra mim Lina?

- Não estou contra o senhor. Eu estou contra essa regra, que não faz nenhum sentido, além de ser aplicada para alguns e não ser usada para outros. Diz Lina de forma acanhada, contrariando o marido a primeira vez em sua vida.

- Você está grávida Lina! Se precisar sair as pressas durante a noite, quando é proibido que mulheres saiam desacompanhadas de um homem, o que vai fazer? Questiona Caivan demonstrando preocupação.

- Aguardaremos o dia seguinte. Chamamos uma parteira, próxima, se for o caso. Na hora descobrimos uma forma de resolver essa situação, mas, prefiro também ficar na minha casa ao ir para a casa da família de Omar. Reafirma Lina demonstrando estar acanhada, mas com firmeza em sua fala de apoio a Aisha.

Caivan passa as mãos sobre os cabelos demonstrando preocupação. Ele jamais havia sido confrontado daquela forma por sua primeira esposa, que demonstrou confiança em falar sobre os seus sentimentos depois da fala firme de Aisha.

Preocupado com o que aquela sociedade poderia falar sobre a sua família, ele diz:

- Como eu vou explicar isso aos meus superiores Aisha? Eu sou um comandante, como não cumpro uma regra feita pelo regime?

- Isso eu não sei Caivan. O que sei é que pretendo ficar na nossa casa. Eu te disse isso no primeiro dia que chegamos nessas terras, que quando você fosse para o campo de batalha que eu queria ficar em casa. Você prometeu que conversaríamos sobre isso depois e agora estamos conversando. Eu não quero ir para outra casa enquanto você estiver fora.

- Eu vou ver o que pode ser feito. Vou para o quartel e vou perguntar sobre isso que estão me propondo para o meu comandante. Se ele autorizar eu faço isso que estão pedindo, mas caso ele não autorize, eu não terei saída e vocês terão que ir para a casa da Omar.

- Espero muito mesmo que o seu comandante aceite meu esposo. Pois caso ele não aceite, eu não vou me submeter ao que ele decidir. Diz Aisha novamente em tom desafiador.

- Aisha, deixe de ser teimosa. A gente quase morreu a poucas semanas em uma punição terrível. Ainda pensa em enfrentar o regime depois de todo o sofrimento que passou?

- Eu já ouvi muito em minha terra que o que não mata fortalece. Acho que me sinto mais forte depois de tudo o que aconteceu. Da próxima vez, farei tudo de uma forma mais inteligente para que não me peguem antes da fuga. Afirma Aisha em tom decidido, deixando Caivan ainda mais perplexo com a fala irrevogável de sua segunda esposa. Irritado ele sai da mesa, pega os seus pertences e vai para o quartel.

Lina fica preocupada com a reação do marido e diz:

- Aisha, será que não pegamos muito pesado com Caivan hoje? Sei que ele é um ótimo esposo, mas pela reação dele, não ficou satisfeito com o que dissemos.

- Acho que temos que falar aquilo que sentimos Lina. É melhor a gente sofrer a ira de Caivan, que, provavelmente não vai nos afetar de forma significativa, do que a benevolência daquela família de Omar que tende a ser super severa conosco. Eu estou arriscando tudo para ver até onde vai a insistência de Caivan. Penso que ele está preocupado com a minha revolta dos últimos dias e não vai me contrariar dessa vez.

- Será que ele vai ficar com muita raiva de mim por ter o contrariado? Isso nunca havia acontecido Aisha. Sempre fiz tudo que Caivan me pediu. Questiona Lina demonstrando um semblante triste.

- Se ficar isso logo vai passar Lina. O importante mesmo é a gente conseguir ficar bem na nossa casa. Depois a gente vê como remediar os problemas. Espero que não sejam muitos e que Caivan esteja de volta antes que esse bebezinho queira sair para cá pra fora. Diz Aisha com um semblante mais aberto, quando Lina sorri em resposta.

- Eu espero que não precisemos mesmo retornar para a casa daquela família. Eles me trataram muito mal enquanto estava lá e temo que eles te façam de serviçal daquela casa como fizeram comigo. Eu fazia tudo lá antes de engravidar e eles ainda reclamavam de todas as ações que realizava naquela casa.

- Dessa vez não vai dar certo pra eles Lina. Eu farei de tudo para que possamos ficar juntas. Enquanto nos mantivermos unidas, acho que Caivan não vai ter muitas saídas a não ser tentar de alguma forma convencer o comandante que fiquemos em casa! Afirma Aisha demonstrando confiança que a sua tentativa poderia dar certo.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora