As semanas seguintes

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Após algum tempo a chorar, Aisha começa a fazer os serviços domésticos e se recupera um pouco do ódio que estava de Omar depois de mais aquela agressão. Enquanto estava a cozinhar, ela se lembra do momento em que entrou naquela sala e ouviu Omar dizer para Lina: - Você está a me afrontar a tempos Lina. Está a desconsiderar as minhas ordens. Mas, digo a você, eu vou conseguir o que quero. Eu sempre consigo o que quero. Lina não disse nada, demonstrando um medo terrível em seu semblante quando tirou os olhos daquele homem e olhou para ela demonstrando terror.

Imediatamente Aisha vai para a sala, onde Lina estava a descansar um pouco e a questiona demonstrando em suas feições uma certa desconfiança:

- O que Omar queria dizer quanto a você o afrontar Lina? Você sempre demonstra atender o que ele diz? O que ele te pediu que você não atendeu?

Lina fica inicialmente sem saber o que dizer, quando começa a gaguejar:

- Eu, eu, eu, não sei o que que que ele quis dizer. Eu não entendo?

- Ele me pareceu muito claro que com que disse Lina. Seja o que for, pode confiar em mim. O que Omar quer com você que você não o atendeu?

- Não me, me, me, recordo de não ter atendido algum pedido de Omar a não ser abrir a porta imediatamente como ele ordenou hoje Aisha. Entendo que era sobre isso que ele estava a dizer.

Aisha fica desconfiada, quando diz:

- Acho que no pouco tempo que estou aqui eu já consigo entender quando quer dizer algo ou não quer compartilhar alguma informação comigo Lina. E sei que nesse momento você prefere ocultar o que está por trás dessa fala de Omar. Certamente está a querer me poupar ou poupar Caivan. Mas, fico aqui a disposição para te escutar quando quiser falar a respeito. Prometo a você que se tiver confiança em me dizer do que se trata algum dia, não contarei a ninguém até que você me autorize.

Lina não disse nada, não sabia o que pensar naquele instante. Quando simplesmente correu em direção a Aisha e a abraçou, como se quisesse se derramar em seus braços em meio a proteção daquelas palavras de apoio.

A questão é que Omar conseguia traumatizar as duas com uma eficiência impressionante. A sua forma implacável e suas palavras ameaçadoras, agindo sempre com força contra elas, parecia trazer uma barreira intransponível de terror quando elas o encontravam e, até mesmo, quando ele estava distante. A impressão que elas pareciam ter é que aquele homem era onipresente e que se elas relatassem qualquer coisa, aquilo chegaria aos seus ouvidos e ele iria descontar aquilo com um terrorismo ainda maior no futuro. Só de pensar nessas possibilidades, as duas ficavam completamente paralisadas perante a ele e também quando ele não estava presente.

Aisha estava no auge da sua coragem, mas o medo de que um conflito com aquele homem tão importante pudesse gerar algum tipo de retaliação a Caivan e consequentemente a elas no futuro, já que o seu esposo era a barreira que segurava Omar de ser ainda mais cruel, fazia com que Aisha não tivesse coragem de relatar aquelas ameaças e agressões ao seu marido e depois daquela reação de Lina, entendeu que o sentimento daquela jovem era o mesmo.

O grande problema é que quanto mais elas demoravam a relatar isso para a única pessoa que poderia agir para protegê-las, mais elas sentiam que Omar estava a ficar a vontade em afrontá-las, afinal de contas, mais confiança ele adquiria de que elas jamais teriam coragem de denunciá-los ao esposo.

Isso deixava Aisha em uma situação entre a cruz e a espada. Então, ela colocou em sua mente que era seu dever proteger a sua família quando Caivan não estivesse em casa, por ser a mais velha, e que assim como disse a Lina nas últimas duas vezes, da próxima vez que Omar as destratasse, ela iria afrontá-lo, reagiria de alguma forma, não importando as consequências.

Enquanto esses fatos aconteciam, distante dali estava Caivan a lutar batalhas cada vez mais ferozes contra os exércitos inimigos, com grandes baixas e poucas conquistas. A situação do seu exército estava se deteriorando cada vez mais. Os recursos estavam mais escassos e o número de soldados estava a diminuir a cada batalha sem novas reposições por parte daquele regime.

Caivan estava mesmo a ficar muito preocupado com as perdas daquele grupo. Até aquele momento, em poucas oportunidades ele imaginou que a sua vida estava em um risco tão eminente. Ele chegou a relatar esses seus medos para amigos mais próximos, que diziam estar com o mesmo sentimento. A moral daquele exército após tantas perdas estava muito baixa e esse sentimento, bem como a confiança, em uma guerra é essencial.

Com o fim do mês de Janeiro, depois de perder um vasto território no Iraque, aquele destacamento foi orientado a retornar para a Síria. Caivan ficaria na divisa dos dois países para proteger um ponto estratégico de manutenção do exército até segundo ordem.

Em Raqqa, com o regime perdendo recursos, os alimentos estavam a ficar cada vez mais caros, a violência na cidade estava a atormentar moradores, mesmo com o regime tendo punições exemplares. Populações pobres da cidade, sem o que comer, recorriam a violência para tentar de alguma forma sobreviver e quando eram pegos pelos membros do regime, acabavam terrivelmente castigados.

Aisha e Lina se concentravam em casa, enquanto o estoque de alimentos não acabava a espera de que Caivan retornasse antes disso para que elas não precisassem sair e ter a possibilidade de cair nas mãos do ameaçador Omar.

Novamente ele não retornou para visitas nos dias seguintes, parecia que ele queria testar sempre a coragem daquelas mulheres, se elas iriam mesmo contar para o marido o que estava acontecendo e qual seria a reação dele. Aquele senhor sentia um certo prazer em humilhá-las, por considerá-las mulheres de nível inferior, por terem vindo do Ocidente.

Na Inglaterra, no começo de fevereiro, Johnson demonstrava estar bem melhor. Ele chegou para Nazir, questionando como ele estava e se tinha interesse em fazer uma busca por Aisha na Síria. Aquele guarda costas afirmou que estava na Turquia a descansar um pouco com a sua esposa e que aceitaria a proposta de ir para aquele país caso fosse necessário. O pai de Aisha ficou muito feliz com a resposta positiva de Nazir, pois confiava muito nele e sabia da sua experiência naquele tipo de situação, além de conhecer muito a cultura daquele povo. Era o agente perfeito para que a sua missão pudesse ser bem sucedida.

Durante aquele mês ele tentou por inúmeras vezes entrar em contato com Aisha, mas nas horas que tentava o telefone dela estava sempre desligado, o que o preocupava muito. Ele não entendia o porquê Aisha havia falado com ele através daquele número, mas aquele número aparentemente não tinha sinal quando ele tentava retornar para saber se tudo estava bem com ela.

Em meados do mês de fevereiro os alimentos estavam escassos em casa e Aisha e Lina não tiveram alternativa a não ser ir atrás de mantimentos nos mercados da cidade. Novamente elas saíram com Mohamed no braço. Era mais importante para elas estarem juntas, mesmo sendo duas mulheres com uma criança pequena, do que uma delas saírem sozinha, o que era muito mais arriscado.

O terror ficava em seus semblantes o tempo todo enquanto estavam a caminhar por aquelas ruas. O medo de retaliação por parte de Omar era o que mais as aterrorizava. Outras mulheres se deslocavam sem maior preocupação, especialmente, as mais pobres. Era algo que todas evitavam, especialmente nos últimos tempos em que o regime ficou ainda mais restritivo quanto aos direitos das mulheres, mas, elas faziam em caso de necessidade.

O grande problema para aquelas duas era mesmo o medo que tinham daquele chefe de polícia que se as abordasse poderia agir de forma desproporcional pela sua mágoa de elas não terem ido para a sua casa, conforme previa as regras tácitas daquele regime.

Rapidamente elas compraram o que precisavam e retornaram para casa. Naquele dia felizmente elas não foram abordadas. Ao entrar em casa, as duas respiram fundo demonstrando alívio, Aisha vai guardar os alimentos, enquanto Lina vai retirar parte de suas roupas e as de Mohamed. Felizmente, aquele dia acabou sem nenhuma intercorrência mais séria com a polícia daquele regime.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora