O restante daquele domingo

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Em um primeiro momento, Aisha tentava negar que aquela informação era verdadeira. Ela estava ao lado de Caivan, que logo percebeu que ela ficou mais agitada ao entrar na cidade. Ele já esperava por isso, pois a imagem daquele grupo era muito negativa no exterior.

Mas, logo aquele processo de negação ficou impossível. As bandeiras tinham informações claras de que eram pertencentes mesmo ao Estado Islâmico, outdoors faziam propagandas daquele grupo e incentivavam ataques aos Ocidentais em mensagens. Não havia mais dúvidas para ela ao acessar as primeiras ruas daquela importante cidade, Caivan era mesmo um membro daquele grupo extremista.

Na sua mente imediatamente vieram imagens dos atentados terroristas que aquele grupo fez no Ocidente nos últimos anos, vieram também imagens de pessoas sendo mortas de forma cruel pelo grupo, por serem consideradas infiéis. Imagens essas que eles faziam questão de filmar e disseminá-las, como forma de demonstração de seu poder.

Aisha se recorda que assistia essas imagens e reportagens sobre o assunto na TV inglesa e ficava horrorizada, sempre dizendo que aquelas ações não eram pregadas pelo seu livro sagrado, que ensinava o amor e a paz como suas bases. Sempre que a questionavam a respeito, ela explicava que aquilo não eram os verdadeiros preceitos de seu povo, mas sim, ações realizadas por pessoas extremistas que tinham uma interpretação, na sua visão, errônea do que diziam os seus livros sagrados.

Depois de relembrar daquelas imagens, as suas lágrimas vieram de forma mais frequente em seus olhos e o seu corpo começou a tremer, quando Caivan olhou para ela e disse:

- Fique calma Aisha, eu prometo te explicar tudo quando a gente chegar na Síria.

Com medo de dizer qualquer coisa e ser repreendida por aqueles homens, ela se calou e tentou se controlar mais naquele canto do carro. Nas ruas, ela percebia que as mulheres estavam todas cobertas de preto, com apenas os seus olhos a mostra, assim ela estava depois que recebeu as recomendações daquele grupo no Afeganistão. Estava claro que, provavelmente, vivendo em meio a aquele grupo, a sua liberdade estaria acabada.

As ruas de Mosul tinham a marca de uma pobreza impressionante, prédios estavam destruídos em todos os lugares, devido aos conflitos constantes que aquela importante cidade havia passado nos anos anteriores. As crianças pediam ajuda nas ruas, mas ninguém as ajudava. Elas estavam magras e demonstravam um desespero e uma dor muito grande em seus semblantes.

Pessoas armadas com metralhadoras de grosso calibre andavam pelas ruas. Bandeiras daquele grupo estavam espalhadas por todos os lugares, assim como fortes mensagens religiosas. O semblante de algumas pessoas era de medo. As mulheres andavam, quase totalmente cobertas, e quando sozinhas com passos rápidos. Era um ambiente assustador para Aisha. O contexto era muito parecido ao que ela viveu durante o regime Talibã no Afeganistão. O que mais a aterrorizava era a quantidade de crianças na rua, sem rumo, pedindo ajuda.

Ao ver aquelas cenas, Aisha se emocionou novamente. Tudo que vinha em sua mente era: O que está acontecendo nesse mundo? Quanta pobreza! Quanto sofrimento de pessoas inocentes.

Aquele carro anda por mais alguns minutos, quando eles pararam na sede do grupo militar daquela cidade. Assim que saiu do carro acompanhado de Aisha, Caivan foi cumprimentado por um grande número de pessoas que desejavam boas vindas, demonstrando que ele era mesmo alguém muito respeitado naquele grupo.

Na porta daquele prédio havia uma bandeira enorme do Estado Islâmico, demonstrando o poder daquele grupo naquela região dominada por um Califado que havia dominado importantes regiões da Síria e do Iraque.

Logo Caivan e Aisha foram levados para um alojamento daquele local e foi disponibilizado um dos quartos para eles. Ao chegarem naquele espaço Aisha disse:

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora