Aqueles dias passaram rapidamente e chegou o momento de se despedir de Caivan para que ele fosse novamente para o campo de batalha. Nos momentos que antecediam a sua saída, Aisha e Lina sempre ficavam muito ansiosas e tristes, pois, nunca se sabe o que vai acontecer em uma batalha e a vida fica muitas vezes sobre enorme risco, mesmo para alguém experiente como era o seu esposo.
- Que o magnifico esteja com você Caivan? Disse Lina.
- Que o magnífico esteja com você também Lina. Cuide bem do nosso filho Mohamed e desse bebê que está por vir.
- Pode deixar que cuidarei sim meu esposo. Se cuide no campo de batalha! Diz Lina, enquanto lágrimas caem dos seus olhos e ela abraça Caivan fortemente.
- Que o magnífico esteja com você! Diz Aisha.
- Que ele esteja com você também Aisha. Lembre-se de tudo que te ensinei.
- Pode deixar Caivan. Me sinto mais segura depois dos seus ensinamentos. Diz Aisha, quando também emocionada, abraça o seu esposo e ele parte caminhando em direção ao carro.
Antes que ele entrasse, Aisha disse:
- Espere. Eu esqueci de uma coisa. Promete pra mim que vai voltar né? Repete ela um ato que sempre fazia antes dele partir.
- Sim, Aisha, eu prometo. Só não retornarei se o magnífico quiser, mas farei o possível para estar de volta em breve.
Em seguida, depois de cumprir aquele ritual que ambos julgavam trazer sorte, Caivan arranca aquele carro e parte em direção ao batalhão.
Ele queria muito ter paz novamente, mas estava muito difícil conseguir esse objetivo. Depois de ser condenado no Afeganistão ele era praticamente obrigado a lutar por aquele grupo, para proteger a sua esposa Aisha que também havia recebido uma sentença de morte, caso ele não cumprisse o acordo.
Ele pensou em fugir por algumas vezes, para ver se conseguia viver de forma mais tranquila com sua família em outro lugar, mas, aquele regime os vigiava muito, o que causava medo em todos os oficiais de tentar realizar alguma ação que pudesse levar a uma condenação, ainda mais no caso dele, que tinha sentença condenatória.
Se pego novamente fazendo algo contra o regime, a sua morte era certa e provavelmente a de Aisha também. Esse era um dos seus maiores temores. Por ter retirado Aisha da Inglaterra, Caivan se colocava como responsável por ela e mantê-la em segurança se tornou uma obsessão. Ele jamais permitiria que a vida dela fosse colocada em risco.
Nos dias após a saída de Caivan, tudo ficou muito monótono naquela casa. Quem a movimentava era apenas Mohamed que já estava a engatinhar e rodava por aqueles espaços o tempo todo a ser perseguida por Aisha ou por sua mãe.
Como eles moravam em um bairro mais pobre, por alguns momentos pessoas batiam na porta para procurar ajuda, mas Caivan pediu para que elas não abrissem a porta para estranhos. Aisha e Lina compartilhavam um pouco que tinham por debaixo daquela porta para as pessoas que pediam ajuda, mas, ficavam muito preocupadas com o estoque que tinham em casa, pois o ideal é que elas não ficassem sem alimento antes do retorno do esposo.
Caivan, como sempre, antes de partir, comprou uma quantidade grande de alimentos não perecíveis e deixou em estoque para que suas esposas não precisassem sair por muitas vezes. Mas, o pedido daquelas pessoas, praticamente, famintas pedindo alguma ajuda, partia o coração daquelas bondosas mulheres que sempre contribuíam com alguma coisa, mesmo que seus estoques fossem reduzidos.
Com o tempo, elas começaram até a criar uma certa amizade, com as mulheres daquela rua, abrir mais as portas de suas casas e conversar um pouco mais sobre a vida. Essa relação de amizade entre vizinhos, naquele bairro parecia ser uma coisa mais comum, diferentemente, dos bairros mais nobres e centrais, locais em que elas moravam anteriormente.
Passados pouco mais de quinze dias da partida de Caivan, já no mês de setembro, Omar apareceu naquela casa para uma visita. Quando bateu na porta, Aisha o atendeu, o convidando para entrar, receosa de tentar impedi-lo novamente e começar um novo conflito com aquele senhor, conforme havia ocorrido no passado.
- Tudo bem com o senhor? Senhor Omar.
- Tudo bem Aisha. Como estão as coisas? Morando em casa nova. O que estão achando daqui?
- Aqui é muito bom senhor Omar. A nossa casa era maior, mas estamos satisfeitas com essa casa também.
Ele entrou e ficou observando aquele espaço. Quando questionou:
- Onde está Lina?
- Está lá dentro senhor.
Então ele caminha e encontra Lina com Mohamed em seu colo:
- Como está Lina? Tudo bem com você?
- Tudo muito bem senhor Omar, como vai a família?
- Estão todos bens também. Passei aqui para ver se vocês estavam bem e se precisam de alguma ajuda?
- Não senhor, por aqui está tudo ótimo.
Ele fica a conversar por mais algum tempo com aquelas mulheres antes de partir. A sua conversa naquela tarde foi amistosa, sem maiores conflitos.
Ao partir, Aisha comenta com Lina, depois de reparar os olhares daquele senhor para ela:
- Esse senhor Omar te olha de uma forma diferente Lina? Ele nunca insinuou algo com você não?
- Claro que não Aisha. Eu jamais teria dado essa liberdade a ele.
- A forma dele te olhar é muito estranha. Você já reparou isso não é?
- Não. Nunca havia reparado. Eu vivi na casa dele por um longo tempo, pode ser por isso que ele tem um olhar mais familiar comigo. Mas, não vejo nada demais na forma que ele me olha.
- Deve ser impressão minha. Afirma Aisha, tentando mudar os rumos daquela conversa mas, ainda desconfiada.
Desde que estavam naquele acampamento que ela começou a reparar a forma que Omar olhava para Lina, era uma forma carinhosa, com um olhar profundo e penetrante, como se ele tivesse uma admiração acima do normal por ela.
O que Aisha não conseguia entender é porque ele parecia ter um olhar de admiração tão grande para ela e ao mesmo tempo, todas as vezes que teve oportunidade a tratava tão mal, de forma que a própria Lina tinha um medo terrível daquele senhor e já havia a agradecido algumas vezes por ela ter entrado em sua vida, algo que a impediu de retornar para a casa daquela família.
Na Inglaterra Johnson havia ido ao médico acompanhado de Loren e o doutor informou a ambos que a cirurgia no Catar havia sido muito bem sucedida e que estava tudo bem com as suas veias do coração. Ele disse que se quisesse, Johnson poderia até retornar para as atividades físicas, algo que o alegrou muito.
A única coisa que o doutor pediu é que ele não fosse para o Oriente Médio nos próximos meses, mais por um pedido anterior de Evelyn que ele desse essa recomendação ao marido, do que por questão de debilidade clínica.
Johnson concordou com aquele médico e amigo, e fez um compromisso de que não colocaria a sua vida em risco no decorrer dos próximos meses e que não viajaria para o exterior até que se sentisse completamente recuperado.
E assim aqueles dias foram passando com uma certa calma tanto na Inglaterra, quanto na Síria.
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Casamento forçado e abusivo III
Mistério / SuspenseDepois de visitar o seu país de origem e encontrar com o grande amor de sua infância Aisha tenta retornar para a Inglaterra, mas algo acontece no aeroporto e o seu destino se torna um mistério. Acompanhe a terceira a última parte dessa obra e descub...