A conversa com o pai

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No dia seguinte pela manhã, Aisha estava sozinha conversando com o seu pai na sala, quando ela entrou no assunto de participar de uma entrevista na televisão com o intuito de falar a sua versão dos fatos que viveu no Afeganistão e na Siria e quem sabe conseguir alguma informação de suas amigas:

- Tem certeza que quer mesmo fazer isso minha filha? Você tem que ter certeza que estará preparada, pois a repercussão do que disser, certamente, será muito grande.

- Acho que estou bem melhor pai. Me sinto bem. Preciso fazer alguma coisa para tentar ajudar a resgatar as minhas amigas e acho que há a possibilidade de conseguir alguma informação delas se falar na televisão.

- Posso dizer que me preocupa as questões que eles podem te fazer. Essas entrevistas querem audiência e repercussão. Para isso, em alguns momentos, eles fazem perguntas difíceis de responder. Me preocupa que eles tentem te encurralar durante a entrevista. Mas, se quiser fazer isso, terá todo o meu apoio. Eu tenho os contatos das pessoas que queriam te entrevistar. Posso comunicar com eles a sua vontade.

- Acho que esse é o momento pai. Lá eu posso falar da minha Ong, das dificuldades das mulheres que foram aliciadas, entre outras coisas importantes que as pessoas precisam saber sobre a minha cultura e religião. Será uma oportunidade de mostrar a minha versão dos fatos, além de tentar encontrar a localização das minhas amigas, que é algo que eu quero muito.

Aquela conversa demorou por mais algum tempo, com Johnson sempre que possível questionando a Aisha se ela estava segura de sua vontade. Quando em um momento aquela conversa ficou mais tensa, no momento em que Johnson falou de um dos cuidados que Aisha deveria tomar em meio a entrevista:

- Eu só te peço uma coisa minha filha, pois não quero que você se complique.

- O que seria esse pedido pai?

- Não diga nada sobre aquilo que o seu marido possa ter falado sobre uma possível relação entre a Otan, os EUA ou da Inglaterra com o EI. Isso pode ter uma repercussão muito grande e a pressão sobre você seria enorme, além de, se algo nesse sentido sair, poder trazer um risco a sua segurança.

- Mas, eu nunca te falei sobre isso pai. Como sabe que eu poderia saber de alguma informação repassada por Caivan nesse sentido? O senhor confirma isso?

- Tem coisas que é melhor que você não saiba minha filha, para a sua segurança. E é melhor que você não diga também nada a respeito, pois isso está ligado a questões de segurança nacional, inteligência e política externa. Isso é muito sério. E se falar qualquer coisa não terá como provar ser verdade e isso pode complicar bastante a sua vida.

- Caivan chegou a me dizer que o Ocidente não era tão inimigo assim. Que os russos eram mais inimigos do que os ocidentais e o governo central da Síria também. Ele me falou brevemente a respeito, mas não imaginava que isso fosse tão sério assim.

- Isso é muito sério. Te peço que para a sua segurança, não fale sobre isso para ninguém. Isso te colocará em risco junto ao nosso governo. E não é bom que isso aconteça. Promete pra mim que não falará sobre isso minha filha? Eu temo muito pela sua segurança se disser alguma coisa a esse respeito.

- O senhor está falando sério pai?

- Sim minha filha. Isso é muito sério. Não é recomendado que ninguém no Ocidente fale sobre algo nesse sentido. Para a população o EI é nosso inimigo número 1. Qualquer dúvida quanto a isso pode ter uma repercussão muito ruim junto a população. No campo militar sabemos que não é bem assim, que o EI tem alguns contatos com o Ocidente, mas a população jamais deve saber disso ou esse fato pode gerar problemas diplomáticos, militares, sociais e outros de enormes proporções. Tem coisas que não podem ser repassadas para a população em hipótese nenhuma.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora