O Natal

61 9 0
                                    

Amanhece o dia 24 de dezembro de 2016, véspera do Natal, data de grande comemoração no Ocidente. Aisha acorda e vai fazer a sua primeira oração diária. Lina também se desperta e faz o mesmo. Nesse momento na Inglaterra Johnson não conseguia dormir, pois não parava de pensar na filha.

Ele rememora a última conversa que realizaram no ano anterior e a sua surpresa em receber a ligação inesperada de Aisha.

- Alô.

- Pai. Que saudade! Feliz natal! Disse ela já chorando.

- Aisha é você minha filha! Eu não acredito que estou falando com você! É você mesma?

- Sim pai, sou eu. Respondeu Aisha, quase sem conseguir falar direito em meio a tamanha emoção.

- Onde você está minha filha?

- Eu não posso falar muita coisa por aqui pai, pois podemos estar sendo rastreados. O que posso dizer ao senhor é que estou bem. Estou com o meu esposo. Ele é uma pessoa muito boa para mim e estou a viver bem aqui. Por favor não se preocupe comigo, pois eu estou bem.

- Como não me preocupar minha filha. Pelas informações que tive você está em Raqqa. Essa cidade está a ser bombardeada frequentemente e você está em meio a esse fogo cruzado.

- Teve muitos bombardeios mesmo, mas foi no mês de novembro, agora em dezembro eles pararam e eu estou bem. Para ficar melhor eu só quero que vocês estejam bem também! Enquanto estou aqui a minha maior preocupação de todas é com vocês meu pai.

- Sempre tão amorosa. Disse Johnson com Loren e Evelyn já a escutar aquela conversa no viva a voz.

- Que saudade de você minha filha! Espero muito, muito mesmo que esteja bem e com saúde! Se pudesse iria agora mesmo atrás de você em Raqqa. Mas, infelizmente, não tenho mais a saúde que tinha no passado. Diz Johnson bem baixinho a chorar depois de rememorar aquele momento ocorrido no ano anterior.

Aquele dia para Aisha foi extremamente melancólico. Se no dia anterior ela já havia sentido muita saudade da sua família no Ocidente, no dia da ceia é que as coisas ficaram ainda piores. No ano anterior ela, pelo menos, tinha o esposo em casa, ele havia feito uma ceia muito bonita com Lina e tendo a oportunidade de falar com a sua família na Inglaterra aquele dia se tornou feliz. Esse ano nada disso era possível, a sua situação estava muito mais complicada e o seu esposo estava preso.

Ao ver a tristeza naquele ambiente, parece que Mohamed conseguiu sentir que algo não estava bem e passou aquele dia extremamente agitado. Aisha e Lina revezavam no seu cuidado, mas, naquele dia ele estava muito choroso, parecia que ele também estava a sentir a energia não muito boa dos moradores da casa.

Foi esse fato de tentar controlar Mohamed por um longo tempo enquanto Lina estava ocupada com os serviços domésticos é que aos poucos foi distraindo Aisha e ela não pensou muito na sua situação. Aliviando um pouco o seu sofrimento.

Na Inglaterra o cenário não era muito diferente. Johnson e Evelyn ficaram em casa o dia inteiro, sentindo falta dos natais felizes que passaram nos anos anteriores e de Aisha. Quase no anoitecer, Loren foi até a casa deles para lhes desejar um feliz Natal antes de ir para a casa da família do esposo. Vendo a tristeza dos pais, ela rememorou que havia um ano que eles não conversavam com Aisha e triste questionou:

- Quando isso vai acabar? Penso que isso que estamos a viver nesse momento de nossas vidas é uma das piores sensações possíveis. Temos alguém que julgamos estar viva, mas não sabemos se está bem ou mal, pois não temos como manter contato.

- Eu entendo a sua angustia minha filha e compartilhamos dela, mas, não temos muito o que fazer a não ser esperar o momento certo de Deus para que tudo se resolva, temos que ter fé. Respondeu Evelyn.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora