O retorno

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Com a ajuda de pessoas conhecidas de Johnson na embaixada e nos espaços de governo da Turquia, não foi difícil ele conseguir regularizar a situação de Aisha e em menos de uma semana ela já estava com os documentos prontos para poder retornar a Inglaterra.

Ao saber que aquele importante comandante havia encontrado a filha, a imprensa Inglesa começou a entrar em contato e ele decidiu escrever uma nota dizendo que estava muito feliz com aquele reencontro. Que quando chegasse na Inglaterra poderia dar mais detalhes do que aconteceu, mas que no momento eles precisariam cuidar de Aisha, que estava a precisar de muito apoio.

Aisha foi ao médico e o doutor fez os exames necessários. Ele descobriu que ela estava grávida há aproximadamente 21 semanas, entre o quinto e o sexto mês de gestação. O seu bebê estava em boa condição de saúde, de acordo com as avaliações feitas, mas, Aisha preferiu não saber o sexo dele.

O médico a liberou para que ela pudesse fazer a viagem e no dia 20 de junho de 2017 ela partiu com os seus pais para a Inglaterra. Durante o trajeto, Aisha se lembrou muito da sua primeira viagem acompanhada de seu pai, Johnson, para a Inglaterra, ainda adolescente.

A história parecia se repetir com ela saindo da Turquia rumo a uma nova vida na Inglaterra, depois de passar por tanta dificuldade e situações de quase morte em sua terra natal. A sua expectativa era de poder novamente viver uma vida nova e feliz assim como foi quando chegou ao país pela primeira vez, especialmente, quando se recuperou dos seus problemas psicológicos que faziam sua mente simular situações de perseguição do seu ex-marido, Osnin.

Ainda durante o voo, Aisha ficou a refletir sobre a vida. Ela olhou para a marca do tiro de raspão que havia acertado em seu braço na fuga e se lembrou de Nádia. Como está Nádia sem saber o paradeiro de seu pai? Que pena que tudo isso tenha acontecido. Pobre menina que já não sabe o paradeiro da mãe e agora perdeu também o pai. A vida dela, infelizmente é muito parecida com a minha. Tomara que ela consiga alguém tão bom como eu consegui encontrar os meus pais pra que a sua história possa tomar outros rumos. Quando chegar na Inglaterra, eu vou fazer o possível para encontrá-la e ajudá-la de alguma forma a sair daquele regime.

Por outros momentos ela pensou em Lina. O que será que estava escrito em seu destino Lina? Hoje sei que você estava certa quando não quis fazer a viagem conosco. Aquelas marcas de balas na parte de trás do carro, certamente teriam atingido você, Mohamed e a própria Nádia. Como aquela parte foi muito atingida, a chance de sobrevivência de vocês seria mínima. Mas, será que o que está em seu destino é algo muito melhor do que isso? Será que não vão te condenar por ter me ajudado nessa fuga? Espero muito que fique bem Lina, até que eu possa fazer todas as ações que estiverem ao meu alcance para descobrir o seu paradeiro e tentar te ajudar a retornar para a Europa. Seja forte! Eu não medirei esforços para completar a minha promessa de te encontrar novamente.

Ao ver que Aisha estava muito dispersa, com os pensamentos distantes, Evelyn se aproximou dela e questionou:

- O que pensa tanto minha filha?

- Aconteceu muita coisa nesses dois anos mãe. Muita coisa feliz, mas também muita coisa triste. Conheci pessoas maravilhosas e outras horríveis. Eu quero muito ainda ajudar essas pessoas maravilhosas que conheci a sair daquela situação terrível em que estávamos a viver.

- Eu posso imaginar minha filha. Eu e seu pai estamos aqui para lhe ajudar no que precisar e você sabe disso não é?

- Sim mãe. Eu sei que posso contar sempre com vocês.

- Você está feliz em estar retornando para casa?

- Sim mãe. Eu estou muito feliz. Tenho a esperança de conseguir fazer o que fiz quando fui pela primeira vez para a Inglaterra. Quero reconstruir a minha vida, cuidar muito bem desse bebê. Ajudar essas pessoas que conheci, libertando-as desse regime terrível do EI. E, se possível, quero ajudar outras pessoas também da minha terra, do Iraque e da Síria a conseguirem mais liberdade. Presa naquele ambiente de medo, eu tive ainda mais convicção de que a liberdade é uma das melhores coisas que temos na vida.

- Eu não tenho dúvida nenhuma disso minha filha. E fico muito feliz que você tenha esse coração tão bom e generoso que quer ajudar outras pessoas a viver a liberdade que tanto deseja para você.

- Aprendi muito com vocês, os meus amados pais. O meu pai arriscou a sua carreira para salvar a minha vida no Afeganistão. Vocês me ensinaram esses valores de pensar sempre nos outros mãe. Eu devo muito a vocês! Disse Aisha emocionada, quando Evelyn também emocionada, lhe abraçou.

Durante a noite, depois de horas de viagem, eles chegaram em Londres. A sensação de estar naquela terra novamente, para Aisha, era algo indescritível. Diante das situações difíceis que passou, por muitas vezes, ela julgou que jamais retornaria para a Inglaterra. Que não teria mais condições de ver as pessoas de sua família. Mas, o magnífico havia lhe concedido mais aquela graça, mesmo depois de quase dois anos.

Ao chegar no saguão do aeroporto, estavam lá Loren e Tommy a aguardá-los. Aisha não aguentou de emoção e as duas partiram uma em direção a outra e se abraçaram com toda a força.

- Eu não acredito. Eu não acredito que estou te abraçando de novo minha irmã querida! Gritou Loren, demonstrando muita emoção.

- Eu te amo demais minha irmã. De todas as faltas que tive nesse tempo em que estive fora da Inglaterra a maior delas foi a de ter você ao meu lado. Disse Aisha também muito emocionada.

- Por favor, não faça mais isso comigo de novo. Não corra mais riscos. Fique aqui conosco na Inglaterra junto a sua família que te ama tanto. Eu não suportaria toda essa angustia de novo.

- Eu sinto muito minha irmã e te peço perdão por tudo que passou nesses últimos tempos, por causa da minha escolha. Mas, parecia que eu precisava viver isso. Eu não sei muito bem como explicar. Mesmo com todos os problemas eu vivi tive momentos muito bons ao lado do amor da minha vida! Se por um lado foi muito difícil, por outro, ter a oportunidade de estar ao lado de Caivan, de certa forma, valeu a pena. O grande problema era que eu não gostaria de ser forçada a escolher entre vocês e ele. E em algum momento isso já não era mais uma escolha e sim uma imposição. Quando algo é proibido, parece que tudo fica mais intenso e tenho certeza que a minha saudade de vocês ficou. Eu sonhava quase todos os dias com esse momento! E graças ao magnifico estamos aqui! Da mesma forma que tanto sonhei! Eu te amo! Respondeu Aisha, ainda abraçada a Loren, tendo uma sensação de que não queria mais largar daquele abraço que durante tantos meses sonhou em ter novamente.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora