O amor

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Quando disseram que você não estava mais viva, fiquei muito triste e fui para o norte do país. Comprei uma terra que tinha uma casa e fui morar na região. Trabalhava cuidando de alguns animais em minha terra.

Estava a viver lá em paz e tranquilidade, em um dos períodos de maior calmaria da minha vida. Foi então que conheci Nour, uma linda jovem que morava na fazenda vizinha a minha. Eu tinha o sonho de ter muitos filhos e na impossibilidade de te reencontrar, coloquei na cabeça que me relacionar com ela seria uma possibilidade. Nour era de uma boa família de pecuaristas, eles também gostavam muito de mim e logo foi acertado um noivado.

- Então você se apaixonou novamente? Questionou Aisha surpresa.

- Não. Eu não me apaixonei, mas via nela uma possibilidade de conseguir ter os meus sonhados filhos. Eu sempre sonhei em ser pai Aisha.

- Eu também sempre sonhei em ser mãe Caivan. Uma pena que nunca consegui.

- Mohamed Ali é um sonho pra mim Aisha! As pessoas dessa terra tem como grande desejo ter famílias grandes. Isso demonstra prosperidade e continuidade da família. Como tive uma família pequena, por parte dos meus pais, o meu sonho era que a minha fosse grande. Sentia muita falta de parentes, então vi em Nour a possibilidade de ter uma esposa e muitos filhos.

- Entendo. Quando me casei pela primeira vez, eu também me pressionava a ter filhos. O meu esposo cobrava isso constantemente, mas não consegui. Temo muito que não consiga te dar filhos Caivan. Isso me deixa muito triste.

- Não pense assim Aisha. Quanto mais pensa nisso, mais preocupada fica e a chance de ter o sonhado filho fica mais difícil. Fique tranquila que tudo dará certo. Teremos os nossos filhos.

- Está vendo, por isso não consigo ter raiva de você Caivan. Sempre muito compreensível e amável. Não me pressiona como fazia o meu antigo marido. Diz Aisha com um semblante mais animado. Quando pergunta: - Mas, como foi a sua história com Nour?

- Ficamos noivos e não vou mentir que estava muito encantado com a possibilidade de tê-la como esposa. Com o tempo comecei mesmo a gostar muito daquela jovem. Mas, algo aconteceu que mudou os rumos de tudo isso.

- Como assim Caivan? O que aconteceu?

- Ela e sua família foram convidados para um casamento em uma região vizinha a que morávamos. Eu fiquei de cuidar dos animais da família dela, para que todos pudessem ir ao casamento. Eles ficaram muito gratos com a minha disponibilidade. Na despedida, eu me aproximei e a desejei boa viagem. Ela sorriu agradecida. Então eles partiram em um comboio de vários carros.

Aisha escutava aquele relato com toda a atenção, quando percebeu o semblante de Caivan ficar triste e ela começou a se preocupar. Nesse instante Caivan disse:

- Eu estava a acompanhá-los visualmente da montanha, enquanto eles passavam pela estrada que ficava em uma baixa. Naquele momento vi a aproximação de drones e isso me assustou bastante. Segundos depois, tudo que vi foram explosões. Diz Caivan quando lágrimas escorrem dos seus olhos.

Aisha estava perplexas, imaginando o que pode ter acontecido com aquela família. Caivan começou a chorar de forma mais intensa. Quando ela o abraçou. Apenas depois de algum tempo ele conseguiu continuar o relato.

- Eu vi todos aqueles carros explodirem Aisha. Aquela família inteira foi assassinada em questão de segundos. Foi uma das visões mais aterrorizantes de minha vida!

Diz Caivan voltando a chorar, enquanto Aisha tentava o confortar, mas tendo um sentimento muito triste sobre tudo aquilo. Após mais alguns segundos ele diz:

- Me recordo, que após aquelas explosões, como reação eu comecei a correr em direção ao local em que eles estavam, na expectativa de tentar fazer algo por alguém, mas ao chegar lá, não havia sobrado praticamente nada daqueles carros. Infelizmente estavam todos mortos.

- Que horror! Eu sinto muito Caivan. Afirma Aisha com lágrimas já a percorrer os seus olhos.

- Por pouco eu não estava naquele comboio Aisha. Por pouco eu não fui com eles. Eles me convidaram para aquele casamento e eu só não fui porque os animais não poderiam ficar sem cuidado e como ainda não era da família, preferi que eles fossem e eu me propus a cuidar das terras, o que deixou todos eles muito agradecidos. Nour estava tão animada para aquele casamento. Tudo acabou antes que ela pudesse chegar lá. Diz Caivan a chorar mais intensamente ao relembrar daqueles detalhes.

- Que pena tudo isso Caivan. Mas, porque eles atacaram os carros daquela família?

- Não havia um motivo aparente Aisha. Desde que trabalhava com eles, os americanos não checavam muito bem as informações quanto as pessoas que estavam nos lugares que seriam atingidos. Foi esse um dos motivos que não quis mais trabalhar com eles. Eu já havia presenciado e lido muitos documentos com situações similares a que aconteceu com a família de Nour.

- Que horror! Eles matavam pessoas sem saber se eram terroristas de verdade?

- Infelizmente isso aconteceu por algumas vezes. Enquanto eu não conhecia as pessoas, isso era um pouco menos pesado, mesmo ficando muito revoltado com aquela situação. Mas, quando matam pessoas próximas, tudo aquilo se torna muito mais pesado. Eu nunca imaginei que a dor de perder pessoas daquela forma era tão absurda.

- Eu posso imaginar o que passou Caivan.

- Eu já estava muito revoltado com o que aconteceu, mas a minha revolta se multiplicou em saber que eles estavam a espalhar que aquela família tinha ligações com o terrorismo. Eles não tinham Aisha. Eu convivi com eles por muito tempo. Eles não tinham ligação nenhuma com nada. Eles foram mortos injustamente e os americanos insistiam em dizer que eles haviam morrido porque tinham culpa. Aquilo me revoltou. O ódio tomou conta de mim. Daquele momento em diante, por um bom tempo, eu fiquei irreconhecível Aisha. Afirma Caivan com os olhos arregalados.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora