Aviões chegam em Raqqa

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A família de Aisha foi dormir por volta das dez horas da noite. Todos estavam preocupados, mas esperançosos de que aqueles ataques pudessem não ocorrer, já que haviam passado dois dias dos atentados terroristas ocorridos em Nice e nenhum ataque havia sido realizado.

Aisha estava deitada, cochilando, quando escutou os primeiros estrondos pela cidade e um barulho de explosão bem próximo, que fez o chão daquela casa tremer completamente. Ela se levantou ainda meio zonza devido a explosão e caminhou em direção ao quarto de seu esposo, verificando que a sua família já estava em pé. Eles ficaram próximos da porta daquele quarto, local mais propício a ficar em situações de ataque como aqueles.

Muitas bombas estavam a explodir o que deixava Aisha completamente amedrontada, enquanto Lina tudo que fazia era abraçar o seu filho Mohamed com força tentando acalmá-lo enquant ele chorava desesperado, por ter sido acordado em meio a aquelas explosões terríveis.

Mísseis atingiam locais mais distantes, outros mais próximos, causando um terror muito grande a aquela família. A sensação é que a morte estava ao redor o tempo todo e que a qualquer momento aquela casa seria explodida e todos que estavam ali iriam morrer.

Aquelas bombas caíam em uma quantidade muito grande, bem maior do que nos ataques que foram realizados depois dos atentados de Paris. A coalizão da Otan, fez um trabalho conjunto entre a aeronáutica americana e francesa que partiram de pontos diferentes mas, chegaram para atingir os alvos em horários próximos, fazendo com que aqueles ataques fossem ainda mais intensos e aterrorizantes.

Por três horas tudo que se ouvia eram os estrondos das explosões em diversas partes da cidade com pequenas pausas entre aqueles barulhos ensurdecedores. Quando aqueles aviões deram uma trégua, Caivan estava a pensar em levar a família para um abrigo subterrâneo, mas, antes que ele se preparasse para isso, novos bombardeios começaram, através de mísseis que estavam a vir dos navios americanos que se encontravam na região do Oriente Médio. Nessa segunda parte do ataque, drones também estavam a atingir pontos específicos com precisão, fazendo um trabalho de destruição ainda maior naquela cidade.

Esse segundo ataque durou mais duas horas. Ao final dele, Aisha estava pálida e com um medo extremo. A sua adrenalina estava muito alta. Ela nunca havia presenciado um bombardeio tão grande e terrível em sua vida. Certamente, boa parte da cidade estava destruída, depois de tamanho ataque.

Lina tudo que fazia era manter abraçada ao seu filho em um extinto de proteção. Todos ali sabiam que se a casa deles fosse atingida, dificilmente teriam alguma chance de sobreviver, mas, depois de todos os ataques, próximo do amanhecer, felizmente, aquela casa não foi atacada.

A sensação de medo de todos daquela família estava tão alta, que nenhum deles conseguiu dormir, mesmo depois do fim daqueles bombardeios. Apenas Mohamed dormiu por boa parte daquela manhã, porque não conseguiu dormir direito durante a madrugada devido a todo aquele barulho.

Pela manhã Caivan foi ao comando militar e conseguiu avaliar os estragos que aquele bombardeio maciço havia gerado na cidade. Muitos prédios e casas estavam destruídas, pessoas tentando resgatar outras em meio a aqueles escombros, tudo que se via, na maior parte do caminho era destruição.

Ao chegar no quartel, ele recebeu a informação de que novos bombardeios deveriam acontecer nos próximos dias a exemplo do que ocorreu quando houveram os atentados de Paris e foi recomendado para aquelas famílias, do comando militar, que fossem para os abrigos construídos para proteção em caso de situações de ataque como esses.

Imediatamente Caivan foi para casa, pegou as suas esposas e seus pertences, e partiu para o abrigo que ficava em uma região mais distante do centro da cidade, em seu subúrbio. Enquanto transitavam em maio a aquelas ruas, era desesperador ver o tamanho dos estragos que aqueles ataques haviam causado na cidade. Muita gente havia morrido. A tristeza imperava no semblante daquelas pessoas que ficaram e ficariam completamente vulneráveis aos bombardeios que tenderiam a acontecer também nos dias seguintes.

Chegando mais para o subúrbio, pessoas estavam a caminhar para sair da cidade, tentando se proteger em casa de parentes na zona rural. O comando militar do EI autorizou que mulheres, crianças e idosos tomassem essa ação, mas impediu que homens em condições de guerra saíssem da cidade, fato que acabou separando algumas famílias e, em outros casos, desencorajou alguns a fugirem da cidade para não ficarem longe de seus filhos naquela situação de perigo.

Ao chegarem no acampamento, foi separado um espaço para as mulheres e crianças e outro para os homens. Para os chefes de maiores patentes daquele grupo, que não era o caso de Caivan, foram disponibilizados quartos para que pudessem ficar a sós com as suas famílias.

As mulheres ficaram responsáveis por fazer a comida e a limpeza daquele espaço, enquanto os homens, saíam para cuidar dos aspectos da governança daquela cidade.

O ponto de maior preocupação para Aisha e Lina foi quando avistaram Omar e sua família naquele espaço. Ele era um dos que iriam ficar no campo comum. Os seus parentes que tinham maior reputação ficariam em quartos separados, mas nenhum dos que moravam em sua casa teriam essa regalia.

Logo ele cumprimentou Lina, dizendo:

- Não quis ir para a minha casa, mas aqui estamos todos juntos da mesma forma.

- É verdade senhor. Foi um bombardeio terrível o de ontem, temos que nos proteger.

As outras mulheres da família, bem como os demais membros, passaram por elas e não as cumprimentaram, continuando a caminhar como se não as conhecessem. Quando Omar também caminhou para próximo de suas famílias sem dizer mais nada.

Até aquele momento era impossível saber por quanto tempo eles teriam que ficar naquele abrigo. Mas, só seria seguro ir para a cidade quando aqueles bombardeios cessassem por alguns dias. Antes disso, aquele, certamente era um dos lugares mais seguros da cidade.

Acanhadas e sem conhecer muitas pessoas daquela elite militar, política e religiosa da cidade, Aisha e Lina preferiam ficar mais ao canto, fazendo apenas aquilo que era demandado, ficando mais reclusas a brincar com Mohamed nos tempos livres.

Mas, a medida que o dia foi passando, se tornou inevitável conversar com outras mulheres e também com as crianças que ficavam a brincar naquele espaço para passar o tempo.

Assim, o tempo passou sem muitas delongas e a noite novamente era possível ouvir o barulho das explosões que estava a acontecer naquela cidade. O medo já não era mais tão grande, porque aquele local parecia ser muito protegido com as suas paredes e tetos de concreto, além do fato de estar em meio a uma rocha muito profunda, preparada para aquele tipo de ataque.

O que dominava aquele ambiente nesse momento era a sensação de um privilégio que apertava a garganta em cada uma daquelas explosões. Saber que muitas outras pessoas estavam a morrer a alguns metros dali, pelo fato de não estarem na cúpula daquela organização era algo bastante triste. Aisha e Lina por ter um coração muito nobre eram as que mais sentiam essa impotência de poder ajudar outras pessoas a se livrarem daquela situação, assim como elas haviam conseguido.

Depois de mais algumas horas de barulhos incessantes, algumas pessoas conseguiram dormir, enquanto outras ficaram a rezar para que aqueles ataques acabassem logo e que amigos e parentes não fossem atingidos. Nesse tempo Aisha e Lina ficaram a refletir sobre o desespero que as pessoas da superfície poderiam estar passando pelo medo de ser atingidas por aquelas bombas. Elas haviam passado por isso na noite anterior e sentir que não há proteção e que há qualquer momento a sua casa pode ir pelos ares é uma das piores sensações de desespero que podem existir nesse mundo.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora