Casamento forçado e abusivo III

O encontro

Assim que chegou e bateu à porta, Caivan foi muito bem recebido pelo senhor mais idoso daquela família. Feliz e com um sorriso grande, ele pediu para que a sua esposa chamasse Lina, pois Caivan havia chegado.

Eles entram na casa daquela família e Caivan apresenta Aisha para eles a identificando como a sua segunda esposa. Minutos depois, Lina aparece e corre para os braços de Caivan, demonstrando uma emoção enorme ao reencontrá-lo. Em resposta, ele a abraça carinhosamente.

Aisha naquele instante sentiu um certo ciúme daquela situação. Mas, ela mesma conseguiu refletir sobre aquela cena em poucos segundos em sua mente: É normal sentir isso, mas preciso entender que isso é normal na minha cultura. Eu já fui casada com outro homem que tinha outras duas esposas. Eu não posso ficar pensando com uma cabeça ocidentalizada. Estou de volta a minha cultura e para não sofrer mais, tenho que pensar de acordo com ela. É normal um homem ter mais de uma esposa. Preciso aceitar isso.

Assim que aquele abraço apertado foi finalizado, Caivan apontou para Aisha e disse:

- Essa é a minha nova esposa Lina. Espero que vocês possam ter harmonia.

Nesse instante Aisha percebeu que ela estava grávida de muitos meses, pois a sua barriga estava bem grande. Surpresa, ela fez um movimento em cumprimento a aquela jovem, que também a cumprimentou demonstrando harmonia no seu olhar, única parte visível de todas as mulheres que estavam naquele recinto, conforme definia a religião e cultura local.

Então Caivan disse que precisava descansar, pegou as malas da esposa e com ajuda de algumas pessoas daquela família, os agradeceu por hospedar a sua esposa e partiu da casa após a sua esposa se despedir de todos. No momento de entrar no carro, Aisha se posicionou na porta de trás, pois sentiu que seria mais confortável para Lina, grávida, se sentar no banco da frente ao lado do esposo. Depois de guardar tudo, eles partiram naquele carro para casa.

Caivan questionou para Lina se havia ocorrido tudo bem no tempo que ele esteve fora e ela acanhada disse que sim. Ele comentou sobre a barriga dela que estava grande e linda. Ela o respondeu sorrindo que não via a hora de ter o filho nos braços.

A primeira impressão que Aisha teve dela foi de simpatia. De alguma forma, ela via Lina como sendo muito jovem e com as características que tinha quando se casou com Osnin, o que a trouxe uma certa compaixão, nos primeiros momentos dentro daquele carro.

Assim que chegaram em casa, Caivan estacionou o carro e retirou as coisas dele, com a ajuda de Aisha. Lina não podia pegar peso e pegou apenas as coisas mais leves. A casa em que iriam morar, não era muito grande, mas era bonita e parecia ser muito aconchegante. Aisha gostou a primeira vista.

Ao entrar em casa, ela fez uma oração para que a sua vida pudesse ser feliz naquele ambiente. Caivan foi guardar as coisas e logo em seguida a apresentou os cômodos da nova casa. Ela teria um quarto só para ela. Caivan tinha um outro quarto e Lina também, como era comum para as casas em que haviam duas esposas e o chefe de família tinha uma condição financeira melhor.

Aisha ficou sem jeito em um primeiro momento de puxar papo com aquela jovem, por esse motivo não tinha como saber se ela estava gostando da ideia de ter uma segunda mulher naquela casa ou não. Receosa, ela preferiu ir para o seu quarto para arrumar as suas coisas.

Enquanto isso, Lina foi para a cozinha para preparar algo que eles pudessem comer. Caivan foi tomar um banho. Depois de todo aquele tempo de viagem, estar em casa para ele era algo muito positivo, mesmo sabendo que ele tenderia a ficar por poucos dias, pois o exército daquele grupo precisava muito de seus serviços a frente do campo de batalha.

Enquanto jantavam naquela noite, foram trocadas pouquíssimas palavras, com Lina tentando ser muito agradável para que Aisha se sentisse mais a vontade. Assim que finalizaram, Aisha lavou as vasilhas e em seguida foi para o seu quarto para tomar um banho e se preparar para dormir.

Caivan foi até o quarto da sua segunda esposa, quando ela acabou de se banhar e disse que nessa noite iria dormir com a sua primeira esposa, pois já haviam muito tempo que eles estavam distantes e ele precisava dar uma atenção para ela. Aisha concordou prontamente, dizendo que ele tinha razão. Mas, assim que o seu esposo saiu do quarto, ela teve um sentimento estranho. Era como se ela não conseguisse mais concordar com os seus costumes. Dormir em uma cama diferente do esposo, depois de estar casada, era algo que ela teria que se acostumar novamente.

Então, muito triste, ela começou a chorar naquela cama se sentindo sozinha. Aisha sentiu muita saudade da sua família. Ela tinha certeza que se acostumar a aquela cultura novamente seria ainda mais difícil do que ela havia imaginado ser. Dividir tudo com a primeira esposa, inclusive o seu marido, depois de viver por anos recebendo influência da cultura ocidental, certamente seria o seu maior desafio.

Depois de muito refletir e chorar, Aisha pegou no sono. Durante os sonhos ela reencontrou com a sua irmã Loren e a pediu perdão pelo que disse no último encontro que teve com ela. A consciência de Aisha ficou muito pesada com relação a essa situação depois de tudo o que ocorreu. Claramente Loren estava certa com as suas preocupações e ela naquele momento não conseguiu entender isso. Na cabeça de Aisha, se tivesse oportunidade de falar com a sua irmã novamente a primeira coisa que ela teria que fazer era pedir perdão por ter sido tão grossa com ela no último encontro.

Ao amanhecer na Síria, Aisha acorda e faz as suas primeiras orações do dia. Ela se levanta e vai preparar o desejum para a sua família. Acostumada a acordar logo cedo, Lina vai até a cozinha e a encontra, cumprimentando-a. Foi a segunda vez que Aisha a viu sem as roupas que a cobriam completamente, mas em um estilo mais despojado de casa. Lina era muito bonita. Tinha um corpo muito belo, mesmo estando grávida de muitos meses, seus cabelos eram castanhos e possuía olhos claros, com um rosto extremamente harmônico e angelical.

Aisha a cumprimentou de volta e disse:

- Espero que possamos viver de forma muito harmônica Lina.

- Eu também espero que possamos viver em harmonia Aisha.

- Pelo seu sotaque, parece que você não é daqui. Qual a sua origem?

- Eu sou francesa Aisha. Meus pais são descendentes de Árabes, mas eu nasci na França. Vivi por lá até os meus 16 anos, quando fugi para cá.

Aisha se assustou com a fala daquela jovem. Como alguém acostumado com uma cultura completamente liberal poderia fugir da França para aquela cultura tão fechada? Pensou ela. Nesse instante Caivan apareceu e elas suspenderam aquele diálogo, para arrumar as coisas da cozinha e o desejarem um bom dia. Mas, Aisha estava muito curiosa para saber os detalhes da vida daquela jovem francesa misteriosa.

Assim que Caivan terminou de tomar um chá, ele saiu para comprar algumas coisas que estavam faltando em casa, depois de tanto tempo fora. Ele levou a sua primeira esposa, enquanto Aisha ficou em casa para preparar o almoço.

Na Inglaterra, nesse meio tempo, Johnson chegava ao aeroporto de Londres e era recepcionado por Evelyn que ficou muito emocionada ao vê-lo. Loren não pode ir porque estava saindo de um plantão hospitalar, mas disse que veria o pai assim que possível o fazendo uma visita ainda naquele dia.

Johnson apresentou Nazir para Evelyn depois de abraçá-la de forma acalorada e ela o desejou boas vindas. Eles partiram daquele aeroporto em direção ao apartamento em que moravam, com Johnson contando detalhes das buscas de Aisha no Afeganistão.

Ele disse a ela que tinha quase certeza que Aisha não estava mais naquele país onde havia nascido, mas, que encontrá-la, diante das informações que recebeu era algo muito difícil, como procurar uma agulha no palheiro sem poder tocá-lo. Entretanto, deixou claro que a traria de volta, independente das dificuldades que estivessem no caminho.