Por algum tempo Aisha ficou a chorar naquele carro. Ela não se conformava com o que aconteceu e com mais uma perda importante que estava a ter. O que mais vinha em sua mente era a situação de Nádia, tão jovem e sem a presença da mãe e agora do pai.
Tudo que ela fez foi me proteger achando que teria o pai de volta assim que ele me trouxesse para um lugar seguro. Mas, isso nunca vai acontecer. O seu pai está aqui morto ao meu lado e ela nunca mais o verá. O pior de tudo é que talvez eu nem tenha condições de dizer a ela que isso aconteceu. É muito triste saber que Nádia ficará esperando o retorno do pai e isso jamais vai acontecer.
Apenas depois de chorar muito e refletir sobre a situação de Nádia é que Aisha entendeu que ainda corria riscos e que precisava salvar a sua vida. Ela percebeu que seria difícil explicar para as autoridades a situação de Nazdan. Eles poderiam a levar sobre custódia e ela teria que provar toda aquela situação. O fato dela ser esposa de um membro importante do EI poderia complicar muito a sua fuga. Depois de refletir sobre esses pontos ela decidiu que deveria tomar uma atitude. Infelizmente teria que deixar o corpo de Nazdan naquele local e partir dali, sem dar indicativo de quem era e a que família e grupo havia pertencido.
Ela movimenta o seu corpo, faz um carinho no rosto de Nazdan e o abraça fortemente, desejando que ele esteja em um bom lugar. Nesse instante Aisha sentiu um nó na garganta. Há pouquíssimo tempo ela estava a falar com aquele senhor muito bondoso e corajoso, agora ele não está mais nesse plano.
Depois dessa despedida carinhosa, Aisha sai do carro com alguns de seus pertences e procura um táxi no local para a levar até a cidade mais próxima. Ao pegar o táxi, ela se manteve firme para não levantar suspeitas de que estava a fugir, pois tinha medo de ser denunciada.
Após uma viagem de aproximadamente meia hora, ela chegou até o centro da cidade de Hmeimim. Enquanto o carro andava pela cidade, ela avistou um aeroporto. Naquele local ela achava que poderia encontrar ajuda. Imediatamente ela pediu para aquele taxista parar o carro.
Aisha o pagou e se dirigiu para o aeroporto. As ruas daquela cidade eram movimentadas e diferentemente de Raqqa, haviam algumas mulheres na rua, o que demonstrava que naquele regime elas tinham mais liberdade.
Então, ao chegar mais próximo do aeroporto, com uma mochila nas costas, ela notou que haviam muitos seguranças e que alguns deles a olhavam com desconfiança. Aquilo lhe trouxe uma certa preocupação.
Com muita fome, pois estava há muito tempo sem comer e grávida, ela decidiu dar meia volta e procurar comida, antes de tentar entrar naquele local para pedir ajuda. O olhar daqueles soldados era muito desconfiado, o que lhe trouxe um desconforto muito grande ao tentar se aproximar.
Então, ela entrou em uma espécie de lanchonete que havia nas proximidades do aeroporto, comeu um salgado típico da região e ficou naquele local a refletir um pouco sobre os últimos acontecimentos. Por um momento ela estava a sentir que lágrimas caíam involuntariamente em sua face, em silêncio, enquanto estava presa em sua melancolia sem fim.
Eu preciso sair desse lugar o mais rápido possível, mas não sei como. Há poucos dias era esposa de um dos principais homens do Estado Islâmico, agora estou em uma região dominada pelo seu pior inimigo. Se alguém desse governo descobrir isso eu estou perdida. Serei presa e poderei ser condenada há muitos anos de prisão. Preciso ser muito esperta para evitar que isso aconteça.
Acho que o melhor caminho a seguir é ir até o aeroporto. Lá posso procurar ajuda para chegar até a embaixada inglesa. Eu não sei se tem embaixada inglesa nesse país em guerra e inimigo da Inglaterra. Talvez possa conseguir acessar alguma agência lá que possa me direcionar. Eu vou fazer isso. Vou para o aeroporto, acho que é o lugar mais indicado para alguém na minha situação. Seja lá o que aconteça, não posso dizer que fiz parte do Estado Islâmico e que era casada com um dos principais comandantes militares daquele regime. Ninguém precisa saber disso.
Então ela começa a se dirigir novamente para o aeroporto. Tinham muitos soldados fortemente armados ao redor daquele ponto e alguns deles olhavam atentamente para a sua aproximação. Ela se assustou muito com o olhar daqueles homens, mas naquela altura entendeu que não tinha mais o que fazer, tinha que seguir em frente ou levantaria ainda mais suspeitas de que estava a fazer algo errado.
No meio de sua caminhada, ela notou que aquele aeroporto estava diferente, não haviam pessoas com malas e somente militares ao redor dele. Logo veio em sua mente a dúvida se aquele local estava em funcionamento ou não. Isso a assustou um pouco. O seu coração começou a bater ainda mais forte, quando notou que policiais se aproximavam do ponto onde estava.
O que esses homens querem comigo? Será que estou a fazer algo de errado. Eles não tiram os olhos de mim desde que me aproximei da primeira vez. Será que paro ou continuo? Eles estão chegando muito próximo. Não tenho mais saída. Preciso continuar, entrar naquele aeroporto e pedir ajuda.
Ao dar mais alguns passos e chegar na frente da entrada do aeroporto, há alguns metros da porta de entrada, ela começa a escutar gritos e se assusta ainda mais. Homens mandavam que ela parasse imediatamente, colocasse a mochila que levava no chão e que se ajoelhasse.
Desesperada Aisha levantou as mãos, conforme eles ordenaram, depois de colocar aquela mochila ao lado do ponto em que estava, no piso da entrada daquele local. O medo tomava conta do seu corpo naquele momento. Será que eles já sabem quem eu sou? Se souberem eu estou perdida! Serei presa e condenada. Nunca mais verei o meu pai na Inglaterra. Nunca mais verei a minha família. Nunca mais terei liberdade!
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Casamento forçado e abusivo III
Misterio / SuspensoDepois de visitar o seu país de origem e encontrar com o grande amor de sua infância Aisha tenta retornar para a Inglaterra, mas algo acontece no aeroporto e o seu destino se torna um mistério. Acompanhe a terceira a última parte dessa obra e descub...