As batalhas

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No fronte, em meio a uma batalha muito intensa, durante a madrugada, Caivan com sua metralhadora em punho, coordenava as ações de vários dos soldados de sua tropa de elite. Para poder melhorar as suas posições, ele ordenou que aqueles soldados avançassem, ficando ele e o tenente na retaguarda.

Nesse instante Hassan estava em uma situação privilegiada para cumprir com aquele acordo. Ele se distanciou um pouco para trás e colocou a sua arma de grosso calibre apontada para frente, com Caivan posicionado um pouco ao seu lado direito, enquanto aquele combate se desenvolvia.

Então, por um momento, ele apontou aquela arma para a cabeça de Caivan. Faltava apenas apertar o gatilho para que tudo aquilo acabasse. Para que a sua condenação fosse arquivada naquele acordo, para que Caivan tomasse o seu lugar no vale dos mortos. Essa era a chance de sua vida para se livrar de uma condenação que o levaria a morte. Hassan estava decidido, a hora é agora!

Nesse instante, rajadas laterais começaram a vir em direção aos dois, um dos homens do exército inimigo havia conseguido passar pelos soldados aliados, pelas laterais daquela batalha e chegar bem próximo daqueles dois oficiais. Quando ele estava a atirar em direção a Hassan pelo lado esquerdo, Caivan percebeu, atirou naquele homem e o matou. Provavelmente, com aquela ação, Caivan havia salvo a vida daquele tenente.

Ao ver aquela cena Hassan respirou fundo e agradeceu Caivan pela sua ação. Então ele decidiu que tinha que continuar lutando e continuou a atirar contra os soldados inimigos. Naquela noite eles conseguiram vencer aquela batalha e Hassan agradeceu Caivan por ter o defendido, quando Caivan o respondeu que se os dois estavam do mesmo lado, que um deveria lutar pela vida do outro, sempre atento para que o seu companheiro de batalha estivesse coberto para não ser atingido.

Naquela noite Hassan não conseguiu dormir direito. As palavras de Caivan ecoavam em sua mente durante a madrugada. Como vou matar o homem que acabou de salvar a minha vida? Mas se eu não o mato, não vai ter adiantado nada ele ter me salvado, pois morrerei de todo o jeito. Eu preciso cumprir a missão que me propus. Omar não vai me perdoar se não matar Caivan. O tio dele é muito poderoso. Eles podem me matar de forma cruel se eu não cumprir o acordo. Caivan é um grande homem, vai ser muito difícil fazer isso com ele. Eu não sei o que eu faço! Pensava Hassan desesperado em meio as contradições de sua missão naquele local.

Em Raqqa as preocupações do comando do regime só ficavam mais intensas a medida que eram informados dos novos cenários existentes no campo de batalha, especialmente na cidade de Mossul. Já era junho e aquela importante cidade, ainda dominada pelo EI, já encontrava-se completamente cercada e sem nenhuma perspectiva de que pudesse suportar por muito tempo as investidas dos exércitos inimigos.

A situação de Raqqa não era muito diferente, eles estavam perdendo muitos territórios estratégicos próximos a cidade em todos os flancos e os sons de explosões das batalhas já podiam ser escutados nas proximidades, o que estava a assustar os moradores, incluindo a família de Caivan.

Ao escutar muitas explosões distantes, mas não há muitos quilômetros da cidade durante a madrugada, Aisha questionou para Lina se ela havia ouvido aqueles sons, quando Lina respondeu:

- Parece que a guerra está a chegar cada vez mais próximo, assim como Caivan previu Aisha. Eu escutei muitos barulhos, ainda distantes, durante a madrugada em que é mais silencioso. Não sei se eram mísseis ou outra coisa. Mas, isso tudo é muito assustador.

- Caivan chegou a dizer que tínhamos que estar preparados para fugirmos em caso de necessidade Lina. Por favor deixe tudo pronto para que possamos sair daqui de casa o mais rápido possível. O nosso esposo teme muito que Omar possa nos capturar em uma situação em que ele não terá condições de nos proteger.

- A grande questão é que o meu bebê pode nascer a qualquer momento Aisha. Penso que já estou bem próximo dos nove meses de gravidez. Até uma fuga para mim nesse momento pode ser algo muito perigoso. Diz Lina demonstrando preocupação em suas feições.

- Mas, não teremos outra alternativa Lina. Teremos que fugir, não podemos cair nas mãos de Omar de jeito nenhum. Eu não sei o que aquele homem seria capaz de fazer conosco. Diz Aisha assustada só de imaginar aquela hipótese.

- Com você acho que ele seria realmente muito cruel Aisha. Mas, temos que ver que Omar me ama e nunca escondeu isso. Mesmo sendo extremamente bruto, não imagino que ele venha a querer me punir ou me matar. Ele tem o sonho de se casar comigo. A minha situação não é tão delicada quanto a sua e precisamos levar isso em consideração quando chegar a hora.

- O que você quer dizer com isso Lina? Está me deixando preocupada.

- Já temos muita coisa para pensar no momento Aisha. Vamos viver um dia de cada vez. Penso que o nosso marido retornará em breve e poderemos pensar em alternativas quanto a essa situação. Não vamos sofrer por antecedência. Assim como você e Caivan me recomendaram, tenho deixado tudo preparado para uma fuga rápida em caso de necessidade. Isso é o mais importante no momento. Tente ficar tranquila e pense em uma coisa, você é a pessoa mais vulnerável dessa família em caso de falta do nosso esposo, portanto, a prioridade por salvar a vida, nesse tipo de situação é sua e desse bebê que está aí em seu ventre. Estamos entendidas?

Aisha não entendeu muito bem o que Lina quis dizer, mas balançou a cabeça em concordância, pois sabia que ela tinha razão quanto aos riscos que correria, ao ser perseguida por Omar, sem a presença de Caivan para uma possível ajuda. A questão é que em meio a aquele turbilhão de acontecimentos, ela nem estava a perceber que Lina já estava com a sua barriga enorme e que o seu filho poderia nascer a qualquer momento e a fala de Lina nesse sentido a chamou a atenção, mas lhe trouxe também uma enorme preocupação do que seria delas se tivessem que fugir imediatamente e aquele bebê fosse um recém-nascido.

No campo de batalha, nos dias seguintes, Hassan colocou em sua mente que não poderia atentar contra a vida de Caivan que havia salvo a sua vida durante a batalha. Ele pensou algumas vezes em tentar desertar para que a sua vida fosse poupada e a de Caivan também. Mas, aqueles combates estavam tão ferozes e o ódio dos inimigos era tão grande, que eles não estavam aceitando prender desertores, matando efetivamente todos que tentavam fazer essa ação de se render.

Após constatar que vários dos membros do seu exército foram executados depois de se renderem, ele desistiu também dessa possibilidade. Na mente dele a aquela altura, talvez, uma fuga fosse a única solução para que fossem poupadas a vida de ambos.

Mas, enquanto não tomava uma decisão, ele resolveu lutar da melhor forma possível ao lado de Caivan e a parceria deles era muito positiva para aquele exército. Articulados e com uma comunicação e inteligência muito grande, eles começaram a vencer algumas batalhas, aumentando a moral de suas tropas.

Ao final de uma batalha em um ponto estratégico, Caivan chegou a abraçar Hassan dizendo que jamais teria conseguido êxito se não fosse a sua ação heroica naquele campo de batalha. A cada dia que passava ficava mais difícil para aquele tenente atentar contra a vida de alguém que o valorizava tanto.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora