Casamento forçado e abusivo III

A adaptação

Ainda no dia da partida de Caivan, Nádia foi até a casa principal e se dispôs a ajudar no que fosse necessário. Nesse momento Aisha a chamou para uma conversa. Aquela jovem, de 16 anos, estava muito acanhada e tensa, mas, respondia o que era questionada:

- Você foi informada que aqui você será uma trabalhadora livre Nádia?

- Sim senhora. O seu esposo nos disse isso durante a viagem.

- Se você não estiver gostando de alguma coisa ou precisando de algo você pode me dizer, tudo bem?

- Claro que não senhora. Os senhores têm sido muito bons para nós. Não estamos precisando de nada.

Após aquela fala demonstrando um grande receio por parte daquela menina. Aisha engole seco, quando questiona:

- Há quanto tempo vocês saíram da sua terra natal, Nádia?

- Isso faz uns três anos senhora.

- O que aconteceu com a sua mãe? Você é tão jovem.

- Quando fomos capturados, depois de muitos pedidos do meu pai, eles deixaram que ele ficasse comigo, porque eu era muito mais nova, mas a minha mãe infelizmente foi vendida para um outro homem e não sabemos para onde ela foi. Diz Nádia a chorar.

Tudo que Aisha consegue fazer é abraçar aquela adolescente, imaginando a dor que ela deve ter sentido ao ter que se separar da sua mãe tão jovem. Quando em seguida Aisha questionou:

- O que fizeram com vocês Nádia?

- Eles nos compraram. Eu era muito grata a família que nos comprou, pois eles compraram a mim e o meu pai juntos. Mesmo eles sendo muito rudes conosco e tendo nos ameaçado algumas vezes vender um de nós, ainda assim éramos gratos a eles por terem nos deixado viver juntos. Eu não sei o que seria de mim se não tivesse o meu pai para me dar forças.

- Eles ameaçavam separar vocês?

- Sim senhora. Quando fazia algo de errado eles diziam que se não agisse corretamente, eles me venderiam ou venderiam o meu pai. Isso me desesperava bastante. Sempre fiz tudo o que eles mandavam lá da melhor forma possível para evitar que isso acontecesse. Já havia perdido a minha mãe, perder o meu pai seria terrível demais senhora.

- Aqui você está segura quanto a isso. Nós não deixaremos que isso aconteça aqui. Pode ficar tranquila.

- Fico feliz por isso senhora. Esse era o meu maior medo. Respondeu a jovem Nádia.

Aisha ficou a refletir muito sobre o restante da conversa com aquela jovem. Ela foi capturada quando tinha 13 anos e foi comprada pela mesma família em que Caivan a adquiriu agora, mais de três anos depois. Nádia trabalhava da hora que acordava, logo cedo, até após a hora que todos dormiam. No processo de aprendizagem do trabalho ela contou que sofreu as maiores ameaças de separação do seu pai e foi agredida por muitas vezes pelos membros daquela família que não aceitavam os seus erros. Foi uma fase muito difícil e enquanto ela contava essas dificuldades, Aisha chegou a chorar por algumas vezes junto a ela, lembrando do seu passado difícil e muito similar ao daquela jovem, tanto na vivência do seu pai durante a infância, que também não permitia erros, quanto no seu casamento com Osnin, quando ela sofreu muito em meio a violência de seu marido.

Depois daquela conversa a empatia de Aisha por aquela jovem se fez muito presente e Nádia se mostrava mais confiante e um pouco menos acanhada naquela casa. A medida que os dias iam passando ela ia demonstrando o quanto era trabalhadora e Aisha tinha que mandar que ela parasse o trabalho para ir descansar em sua casa, pois muito acostumada ao regime no ambiente familiar anterior, ela não entendia muito bem o que significava a palavra descanso e que tinha direito a algo assim durante o dia ou em parte considerável da noite.

Nazdan também se mostrava muito respeitoso e prestativo. Aisha vestiu os seus trajes para se encontrar com pessoas de fora da família e pediu que ele viesse até a sua casa para que eles pudessem conversar um pouco e aquele senhor se abriu para ela, dizendo que estava muito agradecido por ter sido acolhido por pessoas tão boas. Ele contou que o seu maior medo era ter que se separar de sua filha e que tinha como sonho encontrar a sua esposa, que ele não sabia o paradeiro. Prometeu desenvolver os trabalhos da melhor forma possível para retribuir um pouco da bondade que aquela família havia o feito ao retirá-lo da escravidão.

Depois da conversa que teve com aquele senhor, Aisha sentiu que o sofrimento que eles passaram durante esses anos foi muito grande. Que a família que havia os recebido não os tratava bem e que os torturava tanto fisicamente quanto psicologicamente, usando a separação deles como uma ameaça constante.

Com o passar dos dias aquele senhor também foi se acostumando ao novo ambiente e se sentindo mais confortável junto a aquela nova família. Nazdan e Nádia estavam muito gratos por terem sido resgatados e poderem ter patrões tão bondosos como Caivan, Aisha e Lina demonstravam ser.

Após alguns dias da partida de Caivan, Aisha começou a se sentir mal. Teve algumas tonteiras, enjoos e não estava conseguindo se alimentar direito. Quando ela comentou isso para Lina, mais experiente no sentido de ser mãe, ela questionou:

- Será que você não está grávida Aisha.

Logo o seu coração ascendeu de emoção quando ela se tocou que aqueles sintomas poderiam mesmo ser mesmo de gravidez e respondeu:

- Será Lina. Será que finalmente o magnífico me concedeu essa graça!

- Todos os sintomas que você está dizendo que está sentindo se encaixam Aisha. Como foi a noite em que Caivan saiu da prisão? Questionou Lina demonstrando curiosidade.

- Foi maravilhosa. Pode ser mesmo que naquela noite eu tenha engravidado. Mas, como vou fazer para ter certeza? Aqui não é como na Inglaterra que se pode comprar testes.

- Vai ter que esperar mais alguns dias para ver se a sua barriga cresce um pouco. Agora tem que tomar certos cuidados Aisha. Provavelmente, Caivan vai ter mais um filho.

Aisha estava irradiante com aquela possibilidade. O tanto que ela havia sonhado em ser mãe e agora essa era uma possibilidade real diante dos sintomas que estava a sentir. Ela esperava muito que Lina estivesse certa e que o seu grande sonho pudesse estar se realizando naquele momento.