O veredito

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Após a saída daquele importante membro do regime da sala é que os juízes começaram a suar de forma ainda mais intensa. A decisão tomada ali representaria uma cisão com um dos principais poderes do regime, ou eles ficariam do lado dos militares ou ficariam ao lado de parte do poder religioso e político que representava a ala do tio de Omar. Era uma escolha muito difícil.

- O que faremos agora? Questionou o juiz principal.

Os dois outros juízes ficaram calados, pois também não sabiam como proceder diante daquela situação tão complexa.

Então aquele juiz diz:

- O comandante geral do exército tem conversado muito comigo durante esses dias e tem deixado claro que Caivan há algum tempo é o homem mais importante do exército. Ele tem evitado a perda de diversos territórios do regime, tem conquistado outros a duras penas. Ele me disse claramente que hoje Caivan é mais importante para o exército do que ele mesmo. Esse homem que está ali a ser julgado é uma lenda entre os soldados. Todos o olham com a admiração em que poucos líderes nesse mundo conseguiu. Para vocês terem uma ideia, depois que Caivan foi preso, nós perdemos doze das quinze batalhas que disputamos no front leste. Antes dele ser preso, nas que ele participou, nos vencemos seis de sete, e a sétima que perdemos foi um recuo tático, que conseguimos vencer em seguida. Estou me abrindo pra vocês. Esse é o contexto. Vamos condenar esse homem?

A pressão estava muito grande sobre aqueles julgadores. A ameaça do tio de Omar foi muito firme. Em tese, ele não aceitaria nada que não fosse uma condenação a morte, mas menos do que isso, teria que ser algo muito severo, o que poderia inviabilizar o retorno rápido de Caivan ao campo de batalha, algo que eles precisavam muito.

- Vamos ser racionais. Propõe o segundo juiz, quando continua a sua fala: - Não temos como agradar os dois lados, correto?

- Os dois lado não. Responde os outros dois juízes.

- Temos que ver qual lado podemos agradar mais. Se condenamos Caivan a morte, agradaremos totalmente o tio de Omar. Entretanto, poderemos causar uma revolta no exército. Se absolvemos Caivan, agradaremos totalmente o exército, mas desagradaríamos totalmente a cúpula política do regime. Perder alguém como Caivan hoje seria uma loucura total para o nosso exército, não podemos fazer isso. Estaríamos jogando fora em meio a guerra que vai decidir a sobrevivência do regime o nosso melhor e mais importante militar. Nesse sentido, pra mim é muito melhor estarmos ao lado do exército, mesmo sofrendo todas as consequências políticas que podem vir. Podemos tentar explicar a nossa posição para os comandantes do regime, acho que não teríamos essa mesma possibilidade com o exército.

Então, o terceiro juiz diz:

- Mas, Caivan não pode sair totalmente impune. Isso seria a desmoralização completa do nosso regime. Isso eu não aceito.

O juiz principal diz:

- E se pedirmos a ele uma retratação. Que ele se retrate, dizendo arrependido em uma carta e também em praça pública para que todos possam ouvir, incluindo Omar e seu tio, com os dizeres aprovados por esse juízo.

- Poderia ser uma saída mais amena. Mas, temos que ver se Caivan vai aceitar isso? Questiona o terceiro juiz.

- Ele se mostrou muito aberto a isso. Ele disse que estava arrependido do que fez em meio ao seu depoimento. Constata o segundo juiz.

- Mas, isso é muito brando para o ato grave que ele fez. Responde o terceiro.

- E o que o senhor propõe? Questiona o juiz principal.

Na sala principal, as pessoas estavam preocupadas com a demora daquele veredito. Caivan estava posicionado de um dos lados daquele local e o tio de Omar, com cara de poucos amigos, estava do lado oposto.

Em casa, Aisha e Lina estavam extremamente apreensivas por notícias. Então, mais para o final da manhã, Aisha questiona:

- Quando será que acaba esse julgamento? Quando teremos notícias?

- Pior que eu não sei viu Aisha. Mas, logo saberemos. Penso que alguém vem nos avisar sobre o resultado desse julgamento.

- Espero que sim e que isso seja muito em breve, pois não aguento mais de tanta ansiedade.

Em seus pensamentos, as vezes vinha uma certeza de que Caivan logo estaria de volta. Por outros momentos vinha uma insegurança. Omar é um homem muito importante, eles podem condenar o meu Caivan para que sirva de exemplo para o resto da comunidade. Eu não sei se aguentaria perder o meu amor nesse momento! O que seria de mim se isso vier a ocorrer? Eu estou perdida!

Depois de aproximadamente uma hora de reunião aqueles juízes saem da sala reservada, ocupam seus lugares e vão dar o veredito. O presidente começa a ler então o teor da sentença, chegando ao ponto principal dizendo:

- Diante de todos os fatos aqui apresentados, nós condenamos o senhor Caivan pelo ataque perpetrado contra o senhor Omar, chefe de polícia durante o exercício da sua função. O senhor Caivan está condenado a prestar serviços junto ao exército desse regime enquanto o regime definir, não podendo o senhor Caivan optar pela retirada do exército por vontade própria diante dessa condenação, sob pena de prisão em tempo a ser fixada em julgamento complementar futuro, não menor do que dez anos de prisão. Além disso, o senhor Caivan terá que reafirmar o seu arrependimento, dito aqui nesse julgamento, em praça pública, para que todos os cidadãos do regime possam ver o seu arrependimento pelo seu ato e que isso sirva de exemplo para que os demais membros do regime, não atuem da mesma forma, cometendo erro semelhante. Essa é a sentença proferida por esse juízo. Sessão encerrada!

Caivan sorriu após o veredito e abraçou o comandante que estava ao seu lado. O tio de Omar, após alguns minutos, ao ver que ele não estava próximo de ninguém, se aproximou e disse em tom ameaçador:

- Isso não termina aqui senhor Caivan!

- Com certeza não senhor. Como a própria sentença diz, daqui pra frente cumprirei com as ordens dadas por esse regime, sempre estando pronto para guerrear e me retratarei diante da comunidade pelo que fiz ao seu sobrinho. Respondeu Caivan, com certo sarcasmo, a aquele senhor reproduzindo os termos da sentença, antes de ver aquele senhor virar as costas e partir daquele local demonstrando revolta em seu semblante.

Acho que tudo que fiz por esse regime, de alguma forma, têm valido a pena em minha vida. Espero poder voltar ao campo de batalha e acabar logo com isso para que possamos viver em paz! Pensou Caivan antes de sair daquele local.

Casamento forçado e abusivo IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora